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Os jovens e as questões sociais


Agência O Globo Por Engel Paschoal* Apesar de batida, a frase "a juventude é o futuro da nação" exprime uma verdade. Incontestável, a lei da vida determina que os jovens assumam os papéis e os demais saiam de cena. Os constantes problemas com a educação já seriam suficientes para nos alarmar quanto ao futuro. No entanto, pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) veio botar mais lenha nesta fogueira. Realizado pela pedagoga e psicóloga Denise Tardeli, o estudo mostrou que "jovens engajados, lutando por uma causa comum, parecem artigo em extinção" (Jornal de Brasília, 4/9/06). Foram ouvidos jovens entre 16 e 18 anos, estudantes do 3º ano do Ensino Médio em escolas de classe média. Quando a pesquisa tratou da solidariedade de forma mais explícita, o resultado foi bastante negativo: "Os jovens manifestaram interesse em ajudar apenas alguém próximo, um parente ou um aluno bolsista do colégio que sofresse discriminação, por exemplo. Apenas 15% dos entrevistados manifestaram solidariedade, um índice muito baixo, de acordo com a psicóloga". A matéria citava Brasilmar Nunes, professor de Sociologia da Universidade de Brasília: "É necessário um número bem maior para formarmos adultos conscientes. A meninada perdeu os vínculos sociais. Crescem na frente de computadores, em condomínios fechados, shoppings e escolas particulares. Estão à parte da realidade do País. Vivem na cultura do individualismo. A era do idealismo onde os jovens eram engajados e lutavam por algo não existe mais. (...) Desde crianças, os jovens recebem de suas famílias e da sociedade influências sobre o que é bom e o que é ruim. (...) Bom seria usar roupa de marca, passear no shopping, morar no Plano Piloto e estudar em escola particular. Ruim é a periferia, o outro". De acordo com o professor, quando se aproximam da fase adulta, os jovens têm a preocupação de passar no vestibular e arranjar um bom emprego para sempre seguir o padrão do bom: "Por isso, não há preocupação com as causas sociais. O que há é um individualismo, uma naturalização das diferenças onde o jovem de classe média e alta cresce considerando-se normal". Há controvérsias. Em entrevista à revista Neurônio (26/2/05), Milú Villela, que tem marcante atuação na área social, disse: "É cada vez maior o número de jovens engajados à causa do voluntariado. Consolidar a cultura do voluntariado entre os jovens é preparar o País para um futuro melhor. Há inúmeros motivos para que olhemos o jovem como uma força transformadora. No Brasil, são milhões deles que se preocupam com as oportunidades de educação e emprego, que enfrentam no cotidiano as mesmas dificuldades e compartilham as mesmas esperanças. Querem mudar o mundo, buscam um país diferente, justo e igualitário". Mais adiante, Milú Villela completou: "O trabalho voluntário é sinônimo de liderança, transforma potencialidades em capacidades, competências em habilidades. O trabalho voluntário entre os jovens proporciona o enfrentamento de problemas reais na universidade, família e comunidade, a criação de espaços para a formação do mesmo. Uma proposta formativa que ajuda a conhecer a si mesmo e a descobrir novas habilidades". O Jornal da Unicamp (Universidade de Campinas, 15-21/9/03) mostrou os dois lados. Revelou que, para a dissertação de mestrado pela Pia Universidade Católica de Campinas, a psicóloga Viviane Melo de Mendonça Magro "foi conversar com grupinhos de estudantes das classes média e média baixa nas calçadas de uma escola pública da cidade. Encontrou adolescentes cooptados pelo consumo, acomodados, sem projetos claros de vida, ansiosos por festas, desesperançados frente às condições do País e distantes de um engajamento social e político". Segundo o jornal, então a psicóloga "foi até a periferia atrás de jovens engajados em projetos sociais, encontrando parte deles no hip hop, um movimento juvenil de periferia". E ali viu "adolescentes que procuram seu espaço enquanto agentes sociais, que lêem e pensam sobre o país e o mundo, e por isso capazes de formular questões significativas. 'Eles vivem uma situação de opressão e exclusão, sentem de perto o problema da violência e do tráfico, vêem amigos e parentes sendo assassinados', conta a psicóloga". Tentando mudar tal realidade, as meninas da Casa do Hip Hop "reúnem crianças e adolescentes em oficinas e projetos para falar sobre drogas, gravidez precoce e outros assuntos que lhes dizem respeito. Buscam financiamentos na prefeitura e negociam o apoio dos vereadores para estes programas". As discordâncias são importantes. Mas cabe a todos um alerta: é nossa responsabilidade contribuir para que os jovens sejam mais conscientes também em relação a questões sociais. ........................................................................ (*) Engel Paschoal (engelp@terra.com.br) é jornalista, especialista em assuntos relacionados ao chamado Terceiro Setor, e realiza cursos e palestras sobre Responsabilidade Social. Este artigo somente poderá ser reproduzido ou publicado com autorização prévia do autor.

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