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Papa Francisco iniciou a chegada do Sul Global ao Ocidente

Décimo Aniversário da Eleição do Papa Francisco


António CD Justo - Gente de Opinião
António CD Justo

Jorge Mario Bergoglio, vindo do Sul (Argentina) e eleito a 13 de Março de 2013, (o primeiro pontífice não europeu em 1 200 anos), iniciou o seu pontificado com actos simbólicos (1) querendo, desde o princípio desabituar os bispos de certa pompa e luxo de maneira a serem substituídos por uma atitude de humildade, compaixão (2) e um coração virado para os pobres e fracos.

Na sua qualidade de líder mundial insurge-se contra a “globalização da indiferença” produtora de refugiados, pobres e contra o carreirismo na Cúria. Com a sua atitude de desdivinizar os chefes e de acentuar a perspectiva de baixo para cima, provocou certos governantes e potentados causando neles um olhar enviesado dentro e fora da Igreja. Ao contrário do grande teólogo Bento XVI, Francisco concentra-se sobretudo na pastoral e, dando o exemplo, meteu-se imediatamente a caminho misturando-se com o povo de Deus numa igreja sempre peregrina.

Com a maneira de ser de Francisco o ministério Petrino começou a ser mais apreciado no mundo secular; por outro lado, ao sacudir o pó do imobiliário da Igreja constipou, alguns ocupantes de lugares altos que em surdina começaram a espirrar! Por outro lado, levantou esperanças nalguns caminheiros mais apressados que iniciaram uma pedalada europeia tal que se distanciavam demasiado da caminhada rítmica do povo de Deus. Foi o caso do caminho sinodal da igreja na Alemanha que dava a impressão de querer protestantizar o Catolicismo. A caminhada alemã com o reconhecimento da diversidade do género, as celebrações de bênção para casais homossexuais e recasados (3), a permissão para leigos pregarem em missas e o voto para diaconisas são pontos que, no meu entender, não levarão a igreja alemã a marginalizar-se (4) dado ter sido o próprio papa Francisco que de início entusiasmou os movimentos de reforma da Igreja a nível global (5) . A decisão será tomada em Roma depois das caminhadas sinodais a decorrer em todo o mundo.

Na escolha de cardeais e visitas apostólicas privilegiou as margens do mundo e da sociedade. Escolheu cardeais dos cantos mais distantes do mundo

É explícito e decisivo ao defender a “tolerância zero para a pedofilia”: “O abuso de homens e mulheres da Igreja – abuso de autoridade, abuso de poder e abuso sexual – é uma monstruosidade” Na Carta Apostólica de 2019 "Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo) decretou disposições gerais para toda a Igreja de modo a não serem possibilitadas “omissões tendentes a interferir ou contornar as investigações civis ou as investigações canónicas” (ver cotações e Carta 6)

O Santo Padre tem sido um exemplo para todas as religiões no diálogo inter-religioso revelando-se em crítico profundo de um clericalismo mais identificado com “capatazes” do que com “pastores”!

Pronunciou-se com mestria universal em questões da ecologia da “nossa Casa comum” com a encíclica ecológica Laudato Sí (7).

Como representante da Igreja vinda do Sul tem provocado o capitalismo liberal, o que tem incomodado representantes do monopolismo/hegemonia ocidental. Francisco, porém, esclarece: “Não condeno o capitalismo e também não estou contra o mercado”: o que defendo é a “economia social de mercado”. “A mesa económica não funciona só com duas pernas. Mas sim com três: o capital, o trabalho e o Estado como regulador.” (8)

Com a morte do emérito papa Bento XVI, o Papa Francisco terá mais facilidade em fortalecer o processo renovador pastoral na Igreja. Uma Igreja com 1,378 bilhão de fiéis espalhados nas diferentes cultuas do mundo não é fácil de gerir!  Uma coisa é certa: O Sul global está a chegar; vais ser grande o “preço” a pagar (9)!

António CD Justo

Teólogo

Notas em Pegadas do Tempo:  https://antonio-justo.eu/?p=8386

 

GUERRAS DA AMÉRICA E DA RÚSSIA EM COMPARAÇÃO DESDE 1940

 

Da Luta contínua dos Gigantes pelo Domínio dos Povos

 

A - Invasões e intervenções relevantes dos EUA:

1- Guerra da Coreia (1950-1953): Os EUA apoiaram as tropas sul-coreanas na luta contra as tropas norte-coreanas, que eram apoiadas pela China e pela União Soviética. A Guerra da Coreia provocou cerca de 1,2-2 milhões de mortes e uma Coreia do Norte extremamente militarizada.

2- Guerra do Vietnam (1955-1975): Os EUA apoiaram o estado sul-vietnamita contra o vietcongue comunista e o Vietnam do Norte. A Guerra do Vietnam provocou cerca de 1,3-3,8 milhões de mortes.

3- A Crise de Cuba (1961-62): a 17 de abril de 1961 deu-se a invasão financiada por Washington falhada na baía dos Porcos (Playa Girón) em Cuba (1). Quase eminente guerra nuclear entre os EUA e a União Soviética.

4- Invasão de Granada (1983): Os EUA invadiram a ilha caribenha de Granada para derrubar o governo comunista de lá.

5- Invasão do Panamá (1989): Os Estados Unidos derrubaram o governo de Manuel Noriega e ocuparam o país.

6- Guerra do Golfo (1990-1991): Os EUA lideraram uma coligação internacional para expulsar o Iraque após a invasão do Kuwait.

7- Intervenção militar na Jugoslávia (1999) (semelhante à intervenção da Rússia na Ucrânia e ao fomento americano através das revoluções coloridas). Foi a primeira guerra de agressão na Europa levada a efeito por alguns países da OTAN (USA, Alemanha + 17 estados) contra a Jugoslávia e sem mandato do Conselho de Segurança da ONU. Posteriormente também aqui a OTAN confessou que o pretexto de ataque foi devido a um equívoco (2); esse estratagema usado para legitimar intervenções também foi usado no caso da mentira orquestrada para justificar a intervenção no Iraque. A Casa Branca parte do princípio que contra a força não há resistência e sabe que depois de uma invasão só contam os factos militares e podem sempre descalçar a bota com o pretexto de actuarem em benefício da liberdade e da democracia. Este é um método constante: fomentar tumultos dentro de um estado, apoiá-los e depois impor-se pela força, levando ao poder um governo favorável.

8- Invasão do Afeganistão e guerra (2001-2021): Os EUA começaram a guerra contra o governo talibã, que hospedava a Al-Qaeda, após os ataques de 11 de setembro de 2001. A guerra do Afeganistão provocou aprox. 250.000 mortos. A Europa e os EUA diziam defender a Democracia e os valores ocidentais no Afeganistão tal como dizem fazer hoje na Ucrânia.

9- Guerra do Iraque (2003-2011): Os EUA atacaram o Iraque para derrubar o regime de Saldam Hussein e para justificarem tal mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa. A guerra no Iraque provocou aprox. 1-1,5 milhões de mortos.

10- Intervenção militar na Líbia (2011): Os EUA e outros países da OTAN intervieram na guerra civil da Líbia para apoiarem os insurgentes contra o governo legítimo e derrubaram Muammar al-Gaddafi, criando assim uma zona instável propícia. Onde há petróleo, riquezas naturais ou interesses de estratégica política há sempre pretextos não declarados para se intervir.

11- Ação militar contra o Estado Islâmico (desde 2014): Os EUA e uma coligação internacional participaram da luta contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

Esta é uma amostra das intervenções militares dos EUA entre outros conflitos e engajamentos não mencionados.

Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a Rússia e os EUA ainda eram parceiros de guerra: Os EUA entraram na guerra em 1941 e lutaram com a Rússia contra as potências do Eixo, Alemanha, Itália e Japão que dera origem ao conflito armado. A Segunda Guerra Mundial provocou cerca de 70-85 milhões de mortes. Os EUA lançaram a bomba atómica no Japão. Os Aliados eram o Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos.

 

B - Invasões e intervenções relevantes da União Soviética/Rússia:

 

1- Guerra Fino-soviética (1939-1940): A União Soviética atacou a Finlândia por questões de disputas de fronteira.

2- Guerra Afegã (1979-1989): A União Soviética atacou o Afeganistão para apoiar o governo comunista.

3- Guerra na Chechênia (1994-1996 e 1999-2009): A Federação Russa lutou contra os separatistas chechenos.

4- Guerra na Geórgia (2008): A Federação Russa interveio na Geórgia para apoiar a independência da Ossétia do Sul e da Abkhazia.

5- Intervenção militar na Ucrânia (desde 2014): A Federação Russa apoiou os separatistas no leste da Ucrânia e anexou a Crimeia. Neste conflito encontra-se também a Casa Branca e a OTAN também já antes envolvidos através da revolução laranja. Os EUA investiram 5 bilhões de dólares para deporem o legítimo presidente da Ucrânia e motivarem a Ucrânia a passar do estatuto de Estado neutro para pretendente a membro da OTAN.

Como é de observar entre as duas potências mundiais que rivalizam no domínio da economia e do poder político no mundo, os representantes dos Estados Unidos revelam-se como mais profissionais na criação de intrigas e são os que mais apostam no poderio militar e económico sob o pretexto de (anteriormente) defenderem os valores anticomunistas e agora de defenderam a liberdade e a independência (os Estados Unidos são mais motivados pelo domínio económico e a Rússia mais pela ideologia). A Federação Russa ainda tentou vir a fazer parte da OTAN, mas as elites dos Estados Unidos apostavam na decomposição da Europa e na redução da Rússia a uma potência secundária. Por isso a intenção da Federação Russa se aproximar à Europa e à OTAN foi sistematicamente contraminado pela Oligarquia americana. “O Acto Fundador OTAN-Rússia (oficialmente o Acto Fundador sobre Relações Mútuas, Cooperação e Segurança entre a OTAN e a Federação Russa) é uma declaração de intenções ao abrigo do direito internacional assinada em Paris a 27 de maio de 1997 entre a OTAN e a Rússia”.

Desde 1940, a Rússia ou a União Soviética, e mais tarde a Federação Russa, interveio em numerosos conflitos militares e guerras em todo o mundo. Geralmente nos conflitos regionais lá se encontram os EUA e a Rússia e um pouco ainda mais discretamente a China.

Os impérios Estados Unidos, Rússia e China procuram influenciar os cidadãos em países que pretendem sob sua dependência com apoios económicos a opositores dos governos ou a grupos armados. Nos últimos tempos os EUA têm usado como meio de infiltração as chamadas revoluções coloridas especialmente nos povos que antigamente pertenciam à esfera de influência soviética.  O antigo Portugal das colónias é um exemplo da intervenção soviética e dos EUA no surgir dos combates entre os diferentes grupos rivais. 

 

António CD Justo

Notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8379

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