Segunda-feira, 29 de outubro de 2018 - 20h47
247 - O jornalista e correspondente internacional Pepe Escobar publicou texto nesta segunda-feira (29), no Consortium News, sobre a eleição de Jair Bolsonaro, referindo-se ao Brasil como uma terra "dilacerada", pois embora o candidato do PSL tenha sido eleito com 55,63% dos votos válidos (57,8 milhões), mais de 76 milhões de brasileiros não votaram nele (recorde de 31 milhões abstenções + votos brancos, nulos e os 47 milhões em Fernando Haddad).
Para Escobar, "a ascensão foi facilitada por uma conjunção sem precedentes de fatores tóxicos como o enorme impacto social do crime no Brasil, levando à crença generalizada na repressão violenta como a única solução; a rejeição orquestrada ao Partido dos Trabalhadores, catalisada pelo capital financeiro, rentistas, agronegócios e interesses oligárquicos; um tsunami evangélico; um sistema de ´justiça´ que privilegia historicamente as classes altas e está embutido no ´treinamento´ financiado pelo Departamento de Estado de juízes e promotores, incluindo o notório Sergio Moro, cujo único objetivo durante a suposta investigação anticorrupção da Lava Jato foi enviar Lula à prisão; e a aversão absoluta à democracia por vastos setores das classes dominantes brasileiras". E o pior: "Isso está prestes a se fundir em um choque neoliberal radicalmente antipopular", escreve Pepe, que ironiza: "dado por Deus".
Ainda sobre a ascensão do Bolsonarismo, Pepe diz que não seria possível "sem o pano de fundo da extremamente sofisticada Guerra Híbrida desencadeada no Brasil pelos suspeitos de sempre. A espionagem da NSA - desde a gigante da energia Petrobras até o grampo telefônico da então presidente Dilma Rousseff - era conhecida desde meados de 2013, depois que Edward Snowden mostrou como o Brasil era o país mais espionado da América Latina nos anos 2000".
E Escobar lembra que "os gerentes do complexo industrial-militar-tecnológico do Brasil sobreviveram em grande parte à ditadura de 1964-1985. Eles aprenderam tudo sobre o operações psicológicas dos franceses na Argélia e dos norte-americanos no Vietnã. Com o passar dos anos, eles evoluíram sua concepção do inimigo interno; não apenas os proverbiais ´comunistas´, mas também a esquerda como um todo, assim como as vastas massas de brasileiros despossuídos. Isso levou à recente situação de generais ameaçando os juízes se eles libertassem Lula. O companheiro de chapa de Bolsonaro, o grosseiro Generalito Hamilton Mourão, chegou a ameaçar um golpe militar se a chapa não vencesse. O próprio Bolsonaro disse que nunca ´aceitaria´ a derrota. Essa evolução da militarização da política combinava perfeitamente com o Congresso Brasileiro BBBB (Bala, Boi, Bíblia e Banco)".
Sobre a influência do WhatsApp no resultados das eleições, Pepe escreve que "mesmo que grandes massas mal informadas se tornassem progressivamente conscientes dos maciços golpes manipulativos da campanha de Bolsonaro no WhatsApp - uma saga tropical pós-Cambridge da Analytica; e mesmo quando Bolsonaro declarou que os opositores teriam apenas duas opções após as eleições de domingo, prisão ou exílio, isso ainda não bastaria para deter o Brasil inexoravelmente inclinado a uma BET (Banana Evangelical Theocracy) militar e distópica. Em qualquer democracia madura, um grupo de homens de negócios - via contabilidade obscura - financiando uma campanha de notícias falsas e multi-tentaculares no WhatsApp contra o Partido dos Trabalhadores e o candidato de Lula, Haddad, se qualificaria como um grande escândalo".
Leia o artigo na íntegra em inglês.
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