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Quem são os rivais se a europa é considerada inexistente?


António CD Justo - Gente de Opinião
António CD Justo

O Presidente Mácron solicita mais soberania para a Europa irritando assim a Alemanha

 

Mácron busca um debate que até agora foi oprimido na Europa. Na entrevista no voo de volta da China, Mácron referindo-se ao conflito com Taiwan disse: “O pior seria pensar que nós, europeus, deveríamos seguir a liderança nessa questão e nos adaptar ao ritmo americano e ao exagero chinês”.

O presidente francês Mácron no seu discurso de visita à Holanda, também pede mais soberania europeia. Mácron não se contenta com uma Europa presente mundialmente só pelo seu aspecto económico; ele quer que a Europa assuma relevância a nível geopolítico para ter influência nos destinos dos povos; doutro modo estes continuarão a ser determinados só pelos Estados Unidos e pela Rússia (e num futuro próximo também pela China).

No próximo conflito, a Europa não deve cair na armadilha dos EUA, como aconteceu com a Ucrânia; doutro modo a Europa permanecerá sempre presa das crises geopolíticas externas.  Vai sendo tempo de as potências deixarem de afirmarem os seus negócios egoístas com a guerra em vez de negociarem a paz!

Se a Europa não acordar, os estados extremamente dependentes do regime americano tornar-se-ão vassalos dos EUA e da China. A Europa mereceria ter uma palavra a dizer em questões geopolíticas se fosse fiel a próprios interesses e às suas populações, mas para isso, não poderia renunciar a ser a terceira posição geopolítica e desse modo poder contribuir para a construção da paz mundial.

Que o governo alemão se irrite com a mensagem de Mácron é natural porque a Alemanha não tem a possibilidade de privilegiar uma política europeia em relação aos Estados Unidos devido às condições pós-guerra que lhe foram impostas e ao facto da presença militar dos EUA na Alemanha ser avassaladora! Na Europa precisa-se uma influência mais latina e menos anglo-saxónica...

O governo alemão critica Mácron, acusando-o de se isolar da Europa, mas ignora que Mácron personifica melhor a voz, a situação e os interesses da Europa do que a Alemanha; esta encontra-se altamente comprometida pela presença militar americana. Devido aos fardos da guerra e às condições impostas pelos aliados vencedores, a Alemanha só pode ocupar na política mundial uma posição intermediária vendo-se limitada ao poder económico e controlada no que respeita às relações económicas com a Rússia (recorde-se a espionagem de Ângela Merkel, o boicote económico do gasoduto Stream 2, pelos “amigos” americanos e a sabotagem explosiva de Stream 1 e 2! Também por isso o debate político na Alemanha obedece a certas coordenadas em relação aos EUA e também a Israel...

Já não basta repetir o mantra de que somos parceiros, é hora de usar-se o bom senso e velar pelos interesses europeus. Quem são os rivais se a Europa é considerada inexistente?...

Tanto o capitalismo liberal como o socialismo precisam de um tratamento fundamental para se tornarem mais compatíveis com a dignidade humana e com os interesses humanos e estatais...

A Europa, goste ou não, a longo prazo, será mais dependente da Rússia e da China do que dos EUA apesar do poder estratégico mais alto destes. O interesse e o poder mais elevado deve ser o da paz (1).

Na opinião pública europeia joga-se com cartas pró-americanas e antieuropeias ao impedir-se uma discussão pública diferenciada e crítica que permita formular interesses culturais europeus...

António CD Justo

Texto completo e nota em Pegadas do Tempo:  https://antonio-justo.eu/?p=8441

 

SERÁ QUE O SUL GLOBAL VIRÁ REEDIFICAR A EUROPA?

Rivalidade entre sistemas que favorecem a individualidade e sistemas que favorecem a Comunidade

No momento crítico da História em que nos encontramos estamos a repetir, no âmbito geopolítico, a luta que se deu na Europa na passagem da Idade Antiga /Idade Média para a Idade Moderna/Idade Contemporânea. Duas mundivisões encontram-se hoje, como outrora, em luta rival: a mundivisão de caracter individualista e a mundivisão de caracter comunitário.

Em vez de se tentar uma relação equilibrada das forças da individualidade e das forças da comunidade as duas lutam bestialmente uma contra a outra (sociedades com estruturas sociais individualistas contraestruturas sociais medievais comunitárias, fazendo-se passar a ideia no povo de que a luta é entre liberdade e comunismo/autoritarismo quando se trata de dois polos de uma só realidade. Os governantes europeus têm assumido no contencioso geopolítico uma posição irresponsável de ignorância cultural e de autonegação! Há um factor de erro e de crise comum nos dois tipos de sociedade em luta: a sociedade ocidental destruindo em si mesma a necessidade comunitária em favor do individualismo caótico e as sociedades orientais subjugando toda a exigência legítima de emancipação de um sistema comunitário abafador do indivíduo. No meio de tudo isto afirmam-se as arrogâncias e rivalidade dos poderes contra os povos e suas populações.

A partir do renascimento a Europa começou paulatinamente a abandonar o seu caracter comunitário latino (greco-romano) como reacção emancipatória adequada expressa no individualismo; essa tendência humanista aliada aos interesses dos senhores seculares  conduziram à discórdia (espírito nórdico contra o espírito latino); a Europa em vez de se desenvolver de forma inclusiva em relação à ética individualista protestante optou por seguir um só polo (individualismo) vendo-se absorvida e dominada pela cultura  e filosofia anglo-saxónica, atingindo o seu auge no iluminismo.

Hoje a cultura anglo-saxónica encontra-se em crise e na iminência de perder a sua hegemonia mundial para dar lugar a uma realidade global multipolar; apesar dos males e crises que as divisões criam talvez a actual crise se manifeste como a grande oportunidade para a Europa se reconsiderar e se reencontrar culturalmente de maneira integral deixando o caminho desintegrador iniciado pelos países protestantes no século XVI e levado ao extremo no iluminismo (modernismo) motivado hegemonicamente pela cultura anglo-saxónica que viu surgir o comunismo como tentativa de dar resposta à necessidade comunitária. O desenvolvimento e a cura deixaram de se dar na comunidade para iniciar a sua profanação e consequente fragmentação. O progressismo individualista oprimiu o desenvolvimento conservador de maneira a ser instalado um progressismo de bandeirantes como se observa hoje no agir de muitos grupos activistas!

A Europa, vista na sua integralidade operou uma divisão cultural nela mesma ao optar pela cultura e filosofia anglo-saxónica. Hoje seria a oportunidade de se reconverterem as vertentes anglo-saxónica e latina de modo a poder-se criar na Europa o encontro do sul global com o nórdico. O Brexit foi um passo desastrado e quase de rutura com a Europa em favor da hegemonia anglo-americana. 

A cultura e a filosofia anglo-saxônica enfatizam a importância da liberdade e autonomia individual descurando o desenvolvimento comunitário (o estado social funciona mais como tapa buracos de um sistema por si polarizador). O direito à afirmação do indivíduo, à liberdade de expressão e o direito à autodefesa tornaram-se de tal maneira tensos que ameaçam tirar os últimos fundamentos à comunidade para os destruir em grupos individualistas sem consciência de comunidade e de bem-comum (constrói-se um humano sem características numa sociedade descaracterizada!). Assistimos na Europa à imposição do ideário protestante de caracter individualista ao ideário católico de caracter comunitário; na guerra da Ucrânia dá-se a luta entre a mundivisão emancipatória anglo-saxónica e a mundivisão comunitária oriental, faltando aqui a Europa como papel moderador entre a afirmação do individualismo e do comunitarismo. Assiste-se hoje à crise inversa à que se deu no surgir da idade moderna com a sua expressão no protestantismo (emancipação da comunidade medieval). Se, na Europa, no renascimento e com o protestantismo a a concepção de comunidade entrou em crise por sufocar o indivíduo, hoje a afirmação do indivíduo é tal que ameaça sufocar a comunidade! A filosofia individualista encontra a sua melhor expressão na cultura anglo-americana. Na falta de uma complementaridade e inclusão dos factores individualismo e comunidade fomentam-se as guerras entre mundivisões de caracter mais individualista ou mais comunitárias. Desta falta de inteligência e compreensão humana assistimos a nível geopolítico como exemplarmente se combatem as duas mundivisões (individualista e comunitária) de maneira catastrófica quando a tarefa seria de se aproximarem uma da outra. No meio disto quem se aproveita da situação é o socialismo/comunismo (China) porque assume assim um caracter religioso dando a falsa ilusão de fazer uma síntese entre a necessidade humana de comunidade e de individualidade e a hegemonia americana ainda se oferece como vantajosa para países ou regiões da periferia económico-política.

A filosofia e a ciência anglo-saxônicas puseram em destaque o Empirismo e a metodologia científica e sobrepuseram na Europa o ideário e a ética protestante à católica (no próximo artigo reflectirei sobre as consequências da matriz católica e da matriz protestantes a nível geopolítico). O pragmatismo anglo-saxónico faz uma abordagem pragmática da realidade (político-económica) para encontrar soluções práticas. Esta posição unilateral favorece a decomposição cultural europeia.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8450

 

 

O NOSSO CÉREBRO ENGANA OU DEIXA-SE ENGANAR?

 

Activar o Cérebro prolonga a Qualidade de Vida

 

Um exemplo possível: você teve um conflito com alguém e não consegue resolver o problema. Então, em vez de ir arejar, você vai beber uns copos. Seu cérebro considera isso como recompensa e solução para o problema. Se isso se repete a ponto de chegar à bebedeira, o cérebro chega a levar a pessoa a ficar viciada nele.

Outra observação da ciência é que o cérebro produz pensamentos habituais e os torna tão firmes e cimentados que criam autoestradas cerebrais deixando pouco espaço para vias alternativas importantes...

No meu cérebro flutuam ideias como barcos em alto mar. As ondas da informação e da propaganda são tão altas que não deixam horizonte que possibilite chegar à costa. O nevoeiro da publicidade é tal que não deixa ver para além do barco. Quando baixarão as ondas emocionais da sociedade de modo a poder reconhecer-se o que pretendem e quem as provoca?...

António CD Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8438

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