Segunda-feira, 1 de outubro de 2018 - 06h11
O dia é dois de outubro. E a tristeza é uma só: Porto Velho, a insólita, suja, fedorenta e amaldiçoada capital dos rondonienses está completando 104 anos de muita agonia e sem absolutamente nada para comemorar. Roraima inteira devia estar de luto por esta data tão triste em seu calendário. Porto Velho é a pior dentre as capitais do Brasil em saneamento básico e água tratada. O Instituto Trata Brasil praticamente aponta nossa capital como um lugar inóspito para se viver, uma vez que tem um dos piores IDH’s do país. Diferente de cidades relativamente novas como algumas do Centro-Sul do Brasil, a exemplo de Blumenau, Londrina e Maringá, a “Capital da Fedentina” desponta como a pior em limpeza e urbanização. E para piorar este ranking, o lugar é violento, sem planejamento, desarborizado, quente e sem mobilidade urbana.
Morar em Porto Velho é como uma praga rogada em outras encarnações, se isso existir. Nada, mas absolutamente nada na cidade nos traz alegria. Com raríssimos 2% de rede de esgotos é comum encontrarmos nas ruas merda boiando a céu aberto. Água encanada há, mas não chega a 30%, por isso o abastecimento geralmente é feito a partir de poços rasos, sujos, cavados ao lado de fossas sépticas. Doenças já erradicadas nos lugares desenvolvidos e civilizados há séculos como lombriga, conjuntivite, sarna, diarreia crônica e coceiras são rotina por aqui. E não tem como se tratar adequadamente. O “açougue” João Paulo Segundo, uma espécie de hospital de pronto-socorro é o único logradouro público disponível para atender aos milhares de pacientes. Entra governo e sai governo e o “velho açougue” lá atestando a incompetência das nossas autoridades.
A cidade aniversariante é um lugar tão desgraçado que nunca teve um filho seu para lhe administrar nestes 104 anos de existência. Desde o maranhense Major Guapindaia até o pernambucano Hildon Chaves que os eleitores fazem questão de escolher para prefeito somente os cidadãos de fora. A rotina urbana é dividida em duas estações anuais. O inverno com muita merda, lama, lodo, sujeira, mato, fedentina, lixo, carniça, ratos, urubus, baratas, percevejos, carapanãs e toda sorte de insetos. E o verão com poeira sufocante, fumaça das queimadas, buracos nas ruas e mais bosta. Nunca entendi porque os funcionários públicos lotados na cidade não recebem uma espécie de adicional de insalubridade. Aqui se corre o risco de contrair malária, dengue, Zika, esquistossomose, lepra, curuba, febre tifo e outras doenças já erradicadas na civilização.
Porto Velho está aniversariando e como presente maior deveria receber um decreto de extinção. Ou pelo menos perder a condição de ser capital de um Estado, já que não reúne nenhuma qualidade para isso. Não tem porto, não tem aeroporto internacional, não tem rodoviária decente, não tem praças floridas, não tem arborização e nem recantos de lazer. Muitos dos filhos da terra e aqueles “de coração” ficam bravos quando alguém ousa apontar essas verdades. São pessoas que gostam de viver no lodaçal urbano. A “capital das sentinelas avançadas” é um lixo, uma imundície, um buraco quente imprestável e mal administrado. Eu fico é envergonhado quando meus parentes vêm da Serra Gaúcha e de Curitiba para me visitar. Já lhes pedi que não façam mais sacrifícios desnecessários. Como dar os parabéns para uma currutela fedida assim? Meus pêsames, Porto Velho! O lugar é tão ruim que podia ser a morada do Bolsonaro.
*É Professor em Porto Velho.
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