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Rondônia no centro do mundo. (Parte 1)

A integração da América do Sul sul tem que passar por aqui


Rubens Nascimento - Gente de Opinião
Rubens Nascimento

Parece-me que estou observando uma imensa letargia das estruturas governamentais de Rondônia, sem falar das plêiades de parlamentares locais, que estão comendo moscas diante de um dos assuntos que está no epicentro das rodas de economia global. Falo do  Projeto de Integração da América do Sul, lançado dia 21, sexta-feira, em Cárceres,  pelo Ministério de Planejamento que, ao que parece, está em pleno curso e nosso Estado de Rondônia figura no centro desse emaranhado de soluções.

Dentro do projeto de interligação,  temos a  Rota Quadrante Rondon, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento -PAC, do Governo Federal, estruturada pelo Ministério de Planejamento e que, se aplicado, vai estruturar toda a logística da Região Amazônica como uma solução estratégica para conectar o Brasil ao Oceano Pacífico, visando especialmente o mercado asiático. Esta rota é formada pelos estados do Acre e Rondônia e por toda a porção oeste de Mato Grosso (MT), conectada com Bolívia e Peru. O Mato Grosso e Rondônia são destaques na rota o que inclui 10 obras financiadas pelo novo PAC com um total de R$ 370 milhões em investimentos.

Há três saídas do Brasil para países vizinhos, que desembocam em portos do Pacífico. As fronteiras ficam em Cáceres, no Mato Grosso, Guajará-Mirim, em Rondônia, e Assis Brasil, no Acre. A iniciativa promete reduzir custos logísticos e tempo de exportação, tornando os produtos brasileiros mais competitivos. A importância desse projeto se dá pela integração de diversos modais de transporte – ferroviário, aquaviário e rodoviário – que juntos, criarão um corredor eficiente para escoamento de mercadorias.

São várias as possiblidades econômicas que vão impulsionar a Economia de Rondônia e, por conseguinte, outros estados que integram a região: Redução de Custos e Tempo: A rota promete cortar significativamente os custos logísticos e o tempo de transporte, facilitando o acesso aos mercados internacionais. Competitividade: Ao melhorar a logística, os produtos brasileiros, especialmente do Acre e Rondônia, ganham competitividade no mercado global; Desenvolvimento Regional: A infraestrutura integrada com outros países sul-americanos deve gerar emprego e fomentar a produção local, beneficiando diretamente a economia regional; Integração de Modais: A combinação de transporte ferroviário, aquaviário e rodoviário garante maior eficiência e sustentabilidade no escoamento de mercadorias.

A integração proporcionada pela Rota Quadrante Rondon é crucial para o desenvolvimento econômico da região Norte do Brasil, mas para isso são necessários Investimentos em infraestrutura, como ferrovias e rodovias, e a melhoria dos portos aumentam a capacidade de exportação e incentivam a industrialização local. Esse desenvolvimento integrado não só eleva a produtividade local, mas também fortalece a economia nacional, colocando o Brasil em uma posição mais competitiva no cenário internacional.

Essa integração que já vem sendo discutida há décadas só será possível com os investimentos necessários na infraestrutura: Duplicação da Br-364 até Porto Velho, construção da ponte binacional entre Guajará-mirim , no Brasil e Guayara-Mirim- Bolívia, reestruturação alfandegária e melhoria dos portos, dragagem e sinalização do rio Madeira e a construção de uma ferrovia Porto Velho- Manaus, sem falar na estrutura de aeroportos e aeródromos.

Estamos com mais de 40 anos atrasados na infraestrura logística no Brasil. Nossas ferrovias foram sucateadas e hoje fazem falta para impulsionar o desenvolvimento brasileiro.

Cria de Miguel de Souza e de Luiz Tourinho, dois baluartes pela luta para a tão sonhada Saída Para o Pacífico, me tornei um propagador dessas ideias, até porque acreditei nelas,  participei diretamente de suas ações e, como um entusiasta do desenvolvimento, não tenho como ficar calado, mesmo estando fora das decisões governamentais, quando uma grande oportunidade de mobilização de toda a classe empresarial, de políticos e da própria estrutura do governo local, se faz necessária para impulsionar ainda mais o crescimento econômico de nosso Estado.

Tenho sido um sofredor solitário de vislumbrar uma interligação ferroviária para a Amazônia. Recentemente, escrevi um trabalho técnico que mostrava toda a viabilidade de uma interligação ferroviária entre Porto Velho e Manaus, colocando de vez por terra toda a problemática ambiental como uma solução pratica e econômica, tirando o estado do Amazonas do isolamento, além de integrar outros estados economicamente importantes como o Pará, Roraima e Amapá numa única pazada de acerto.

Hoje, vejo a total viabilidade da ferrovia, quando dentro do mesmo projeto do Ministério do Planejamento, também se vislumbra uma integração  com outros países, através de Manaus, o que torna Rondônia no epicentro comercial com A rota multimodal  que contempla o estado do Amazonas e partes dos territórios de Roraima, Pará e Amapá, interligada principalmente por via fluvial à Colômbia, Peru e Equador.

Houve uma época que, para apresentar as potencialidades de Rondônia aos países com portos no Pacifico, Peru e Chile, ousei mandar confeccionar um mapa onde coloquei Rondônia no centro do mundo. Também pedi a elaboração de um vídeo que mostrasse exatamente nossa localização estratégica global, como um Estado único com essa capacidade geográfica de interligação que se completava com os três eixos logísticos: Ferroviário, Aquaviário e Rodoviário apoiado, em menor escala, pelo Aéreo, mas parece que esse crescimento de Rondônia não vem sendo acompanhado no mesmo passo pela estrutura governamental.

Não se consegue andar pela precária rodovia 364 e observar as centenas de construções de silos e ver a paisagem deixando a pecuária e dando lugar as grandes lavouras. Porto Velho, com seus portos, tem feito migrar para essa Região os grandes investimentos e a capital tem experimentado esse crescimento visto a olhos nus.

Estudos do Ministério de Planejamento dão conta que o Estado de Rondônia vem se consolidando como uma importante economia da região Norte do Brasil. Nas duas últimas décadas houve um inconteste avanço da produção e exportação de bens agropecuários, sobretudo na porção mais ao sul do estado. Essas transformações geoeconômicas ficam ainda mais evidentes quando se compara a pauta de exportação rondoniense do começo dos anos 2000 com o período mais recente. Em 2000, as vendas legais e registradas de madeiras representaram quase 93% do total exportado pelo estado, enquanto as exportações de carnes e de soja, somadas, correspondiam a somente 1,1%. Hoje, a participação das vendas de madeiras reduziu-se para 3,5%, enquanto as exportações de carnes e de soja totalizam 81%. Tem sido forte o ritmo de crescimento das vendas de soja em grão, carnes bovinas congeladas ou refrigeradas e milho, entre outros produtos.

Atualmente, dos 52 municípios rondonienses existentes, a cidade de Vilhena-RO é a maior responsável pelas vendas externas estaduais, seguida pela capital Porto Velho-RO e pelas cidades de Rolim de Moura-RO e Cerejeiras-RO. Em 2022, Vilhena-RO, situada na fronteira de Rondônia com Mato Grosso, exportou US$ 638,8 milhões, indicando forte dinamismo.

Por outro lado, e pelo que tenho acompanhado, o rio Madeira está passando por um processo de privatização para se transformar verdadeiramente numa hidrovia. Por enquanto, é apenas um canal navegável, cheio de obstáculos, assoreado e que precisa de investimentos pesados que vão desde a dragagem, propriamente dita e não enxugar gelo, como tem sido feito,  uma draga atraca num banco de areia e joga o material para traz que, levado pelas correntes,  vai se depositar em outro canto, num looping infinito. Precisamos de um trabalho sério nesse importante modal, inclusive com sinalização e batimetria que dê segurança para a navegação. O verão amazônico mal chegou e o rio já está apresentando sérios problemas para os transportes de cargas e passageiros.

Não dá pra ficar parado apenas observando a iniciativa privada, com muita dificuldade fazer o trabalho de todos. É necessária uma união de forças de todos os segmentos produtivos para que nosso Estado desponte como um dos mais prósperos. Estamos virando o eixo produtivo do Brasil para o Norte e, ao que parece, poucos estão observando esse fenômeno. Vamos dar as mãos e, independente dos interesses políticos partidários em prol de nossa Rondônia.

Vou continuar com esse assunto porque o tema é cativante.

Rubens Nascimento, é jornalista, Bel em Direito, Ativista do Desenvolvimento e M.Maçom-GOB-RO

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