Segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022 - 15h12
A Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes - ARL, nestes tempos de pandemia, para revolver os neurônios dos acadêmicos e dos simpatizantes por uma boa leitura, resolveu fazer entrevistas com seus membros efetivos, que serão publicadas, quinzenalmente, no site Gente de Opinião, aproximando os acadêmicos da sociedade rondoniense. A escolha do entrevistado, Dimis da Costa Braga, juiz federal, membro fundador da ARL, foi feita por sorteio, e as perguntas da entrevista foram elaboradas pelos membros da diretoria William Haverly Martins, José Dettoni, Heinz Roland Jakobi, Abel Sidney de Souza e Lucileyde Feitosa, com ajuda do acadêmico Viriato Moura, autor da ideia das entrevistas. Esta entrevista foi dividida em 3 partes – O Intelectual – O Magistrado – O Cidadão, que serão divulgadas, semanalmente, no site Gente de Opinião e no espaço da ARL no Facebook. Porto Velho, março de 2022.
O
Intelectual
1. ARL
– Para iniciar a conversa, já que somos uma academia majoritariamente de letras
e conhecemos a sua extensa biblioteca particular, gostaríamos de saber qual é o
seu livro preferido, aquele que mereceu mais de uma leitura e é guardado com
carinho? Ou, como diz o confrade Abel Sidney, aquele que você levaria para uma
ilha deserta?
Dimis
Braga – Em primeiro lugar, cumprimento os leitores do Gente de Opinião e os
admiradores e simpatizantes da Academia Rondoniense de Letras. Não tenho preferência por um livro. Se
tivesse que escolher um, seria a Bíblia Sagrada, em cujo conteúdo se pode
encontrar diversos gêneros, do romântico ao épico, do poético ao filosófico. Se
tivesse que escolher um que não fosse a Bíblia, seria JK – O Artista do Impossível, de Cláudio Bojunga. Amo este país
e gosto de biografias, que considero fundamental para formar as novas gerações,
conhecendo os feitos de nossos vultos. A biografia que retratou a vida desse
grande médico, prefeito, deputado, governador e presidente desvela um Brasil
que deveria ser mais conhecido.
2. ARL
– Cite cinco livros de ficção, gênero narrativo, que você recomendaria a
leitura? E no gênero lírico, quais seus autores preferidos?
Dimis
Braga – Sagarana, de Guimarães Rosa, expressa o Brasil através
das gentes, modos de vida e paisagem das Minas Gerais, que “são muitas”,
emanando, do centro para as bordas do Brasil, uma certa essência desse Estado
que é âmago da nação; Em Vidas Secas, Graciliano Ramos desnuda a
dura realidade do semiárido que o Brasil litorâneo escondia, situação que em
parte perdura; n’O Mulato, Aluísio de Azevedo confrontou
cruamente um problema que repercute na realidade atual. Contos Amazônicos
proporciona entender, pela exímia pena naturalista de Inglês de Sousa, as
raízes da conflagração ante a amazônica desigualdade com que foram tratados,
desde o início, os donos da terra; em Réu do Sexo, William Haverly
Martins apresenta o tênue limite entre público e privado nos desvãos de uma
disputa travada pela promoção ao cargo máximo do Poder Judiciário estadual,
levando o Brasil e o mundo a conhecer, pela literatura, o Estado de Rondônia e
sua capital, em personagens psicologicamente complexos e redondos. Pasme: estou
relendo esse livro exatamente agora.
São
tantos os autores no gênero lírico: Fernando Pessoa, Thiago de Mello, Vinicius
de Moraes, Viriato Moura, Alcides Werk, Carlos Drummond de Andrade, José
Saramago, Jorge Luís Borges, João Correia. Encanta-me o humanismo de Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido –
o Don Juan arrependido de Saramago. De Viriato Moura, poderia citar dúzias de
poemas, haicais, aldravias e nanocontos, mas me contento com a reflexão íntima
e humildade do poeta em Choque:
Meus
versos / não almejam êxtases / hedonistas, tampouco prantos / de dores d’alma.
Eles
são dependentes, para sobreviver, do espanto provocado / em quem os consome.
Sem
sua resposta, serão apenas letras mortas / numa lápide de papel.
Ou
espanto / ou morte. (Viriato Moura, em Ritual de Catarse – Poesia como Terapia)
3. ARL
- Qual pessoa, do presente ou do passado, você gostaria de ser, por um dia? Por
quê?
Dimis
Braga – Anatole France disse que se
Napoleão tivesse sido tão sábio quanto Spinoza, teria passado a vida em uma
água-furtada e escrito quatro ou cinco livros. Baruch de Spinosa, sendo
judeu, teve coragem para desenvolver a ideia de um Deus que ao contrário de
exigir oração, revela a si mesmo na ordenada
harmonia do mundo e não se preocupa com o destino e os atos da raça humana
(Einstein); execrado no Judaísmo, exilou-se em Haia, recusou a Cátedra de
Filosofia em Heidelberg e morreu aos 44 anos, na água-furtada em que vivia,
deixando para a posteridade uma das maiores obras de filosofia da humanidade.
4. ARL
- Qual a importância da Literatura na sua formação de juiz? O que significa a
ARL na sua vida?
Dimis
da C. Braga – A literatura é imprescindível! A arte imita a vida (Aristóteles) e a vida imita a arte. A
cultura só faz bem a um juiz, pois ajuda a relaxar de uma dura profissão e
ainda ajuda – eu diria que é mesmo imprescindível. A arte é filha pródiga da
humanidade, expressa a evolução de nossa ancestralidade, é a manifestação
máxima de nossa sensibilidade, a publiciza e coletiviza, e justificando o
Direito o diviniza – porque a divindade, na iluminada filosofia de Spinoza:
“Tudo que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode ser concebido”. Dadas
minhas limitações, tentei traduzir a humanidade da arte de julgar através o
poema Sentenciar, que faz parte de obra poética e de crônicas a ser
oportunamente publicada:
Silenciar... / E
então sentir, pensar, asserir, cogitar, assentir, assentar, melhorar, semear.
Sem si, ser par;
sem ter, se dar; sem ser, estar / E assim julgar.
Ser si, ser mar /
Ser sim, ser sal; sem o “mim”, sem o mal / Sem o “se”, sem o “tal”.
Servir, e assim,
amar. Enfim... sentenciar.
A
poesia, a literatura, a arte cênica, as artes plásticas, a sétima arte, fazem
parte do aperfeiçoamento que se espera de qualquer pessoa, tanto mais quem
julga o semelhante. A ARL cumpre na minha vida esse papel, contribuindo na
minha evolução como pessoa.
Continua
na próxima semana…
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