Quinta-feira, 3 de março de 2022 - 14h30
5. ARL
− Como surgiu a vontade de seguir a carreira da magistratura? Como ocorreu essa
preparação? Quais as virtudes que você destaca num juiz? Um juiz consegue ser
isento, imparcial?
Dimis
Braga – Essa resposta merece um pouco de história. Ao concluir o ensino médio
numa escola de bairro, fraquíssima, amarguei um primeiro fracasso no vestibular
para Economia (1985) e sequer tentei no ano seguinte (1986), pois só havia a
Universidade Federal e eu tinha que trabalhar duro como servente de pedreiro e
auxiliar de perfuração de poços semiartesianos, estudando por conta própria,
nas horas vagas, longe dos bancos escolares. Estava sobre a carroceria de um
caminhão, indo perfurar mais um poço, quando comprei o jornal e lá estava meu
nome, aprovado em concurso público Estado (SEFAZ-AM). Então pude pagar um
preparatório e passei no vestibular para Direito em 1987. Estudante, passava em
frente à Justiça Federal todos os dias – é ao lado da SEFAZ –, e admirando as
escadarias sóbrias e o prédio elegante, sonhava em ser Juiz ali. Então, desde o
começo do curso sabia o que queria, mas jamais disse a ninguém, e pela minha
simplicidade, poucos achavam que eu passaria.
Existem
dois tipos de preparação para ser juiz. A primeira é o estudo necessário para
passar no concurso, a outra é mais importante, é o amadurecimento das
qualidades necessárias para julgar. São conquistas da prática do estudo diário,
do trabalho, cursos de pós-graduação e de aperfeiçoamento, aquisição de cultura
e observação do ser humano. Fui logo aprovado no 1º concurso para servidor da
Justiça Federal e, pouco depois de um ano de experiência como advogado, tomei
posse e já tinha um cargo de nível superior, assessorando juízes, então a
Justiça Federal foi minha escola, e já tendo sido advogado, desde quando fui
servidor, tinha muito respeito por essa profissão. Cinco anos depois, fui
Promotor de Justiça, então pude estar em todas as posições do balcão e da sala
de audiências – quando assumi o cargo de Juiz já era bastante experiente,
embora jovem.
Mas a
preparação técnica não se esgota na aprovação e posse como juiz, cujo exercício
exige habilidades muito mais complexas do que para a aprovação. Um juiz deve ser
empático, capaz de ouvir as partes e garantir o equilíbrio de oportunidades na
produção das provas e julgar com equidade. Buscar continuamente o conhecimento,
o que se torna cada vez mais difícil na sociedade da estupidez e da ignorância,
da polarização e das fake news. Em vez da era do
conhecimento, a internet e a pós-modernidade nos trouxeram a pós-verdade, o
excesso e a superficialidade da informação, em que a máxima cartesiana: penso,
logo existo foi substituída por “se me é útil, acredito”.
Seria
interessante, além do estudo, que o juiz vivesse, ou conhecesse profundamente
antes de ser um julgador, algumas das mazelas que lhe chegam para julgar. Eu
tive essa vivência, aos 9 anos trabalhava muito em casa e no pequeno comércio
do meu pai: sem contar com minha mãe, varria a casa, a taberna e as calçadas,
passava panos no chão, nos móveis, fazia comida e atendia aos fregueses; aos
13, além do comércio, revendia confecções vindas do Ceará; a partir dos 14 fui
servente de pedreiro, auxiliar de técnico eletrônico, de marcenaria, de oficina
mecânica de carros, vendedor de loja de confecções; entre os 16 e 19 além de
servente de pedreiro, fui garçom, vendedor de bingos de automóveis, títulos de
capitalização e outros, até me tornar servidor público, aprovado em concurso
com apenas 19 anos.
Apesar
de tudo isso, cursei quatro especializações, mestrado e doutorado em Direito,
participei de dezenas de cursos de aperfeiçoamento e eventos de qualificação.
Se a última esperança é a Justiça, precisamos fazer o máximo para dar-lhe credibilidade,
pois o juiz pode até negar a pretensão, mas a decisão deve ser fundamentada.
Situações
há que demandam ir além de esperar sentado no gabinete. No ano 2000, em
Santarém, fui colher o depoimento de um ex-seringueiro acamado, imprescindível
para garantir a pensão de soldado da borracha ao autor da ação. Dez anos
depois, situação semelhante ocorreria em Manaus e mais recentemente, em Porto
Velho. Antônio Serpa do Amaral, servidor da Justiça Federal, registrou duas
inspeções realizadas na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e peças de seu acervo,
por ocasião da enchente do Rio Madeira de 2014. A visita era necessária para o
julgamento de causa ajuizada pela OAB.
A
imparcialidade do juiz diz respeito a garantir às partes a equidade de
tratamento e o equilíbrio na produção das provas, pois só assim a sentença será
expressão do melhor Direito. Quando o juiz decide, após colher as provas, ele
não se torna parcial, apenas entrega o direito a quem tem.
Quem
melhor sacramentou e sintetizou entre nós o ideal de igualdade foi Rui Barbosa:
(...) “A regra da igualdade não
consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se
desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é
que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do
orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com
igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.” (Oração
aos Moços)
6. ARL
- Um dos grandes nomes da literatura brasileira, Fernando Sabino, escreveu a
seguinte frase: “Para os pobres é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”. Hoje a
imprensa propaga que quem tem dinheiro e pode pagar bons advogados, desconhece
a dureza da lei. Favor comentar!
Dimis
Braga – A irracionalidade do sistema penal brasileiro não advém só do
Judiciário, mas da desigualdade que permeia a sociedade, influenciando o
Direito que é fruto e semente dela, refletindo na lei. Essa, prevê infinitos recursos,
tanto no âmbito penal quanto civil, nem sempre usados por quem não dispõe de
recursos financeiros, mas explorados até o último pelos que os possuem. Nada
mais injusto do que um criminoso ficar impune pelo decurso do prazo da
prescrição; assim como, no plano inverso da injustiça, o inocentemente acusado
ter que conviver com a extinção do processo pela prescrição, sem obter a
declaração de sua inocência.
7. ARL
- É sabido que você tem pelo menos um livro no prelo. Quando irá publicá-lo?
Dimis
Braga- Trata-se de um livro jurídico, sobre energia e Direito Ambiental. O
boneco dele está em minhas mãos há anos, mas diante de uma mudança na lei,
suspendi a publicação até fazer revisões, para o que, diante de desafios
pessoais, profissionais e acadêmicos, ainda não pude dedicar o tempo
necessário. Mas vou publicá-lo este ano, já renovei os contatos com a editora.
Continua
na próxima semana…
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