Sábado, 8 de maio de 2021 - 13h34
A inauguração da ponte sobre o rio Madeira, a qual liga os distritos de Abunã, Vista Alegre do Abunã, e ao mesmo tempo proporciona mais comodidade para quem precisa chegar (ou voltar) do Acre foi uma vitória comemorada pela população que compõe toda da região norte do Estado de Rondônia e os acreanos. Trata-se de uma obra que era esperada há décadas. Quem afirma são os pioneiros da região, pessoas que cresceram, casaram-se, constituíram família, muitos já se aposentaram e outros passaram a vida ouvindo anunciações da tão esperada obra, mas infelizmente morreram sem poder ver o resultado de uma espera coletiva que vai economizar horas no aguardo para a travessia.
Com passos lentos, devido a idade já avançada, o ex-soldado da borracha, Zacarias Batista da Silva, de 84 anos, diz que sua vida se resume à Ponta do Abunã, como é conhecida toda a região. Nascido abaixo de Mutum Velho, ele foi um dos inúmeros trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e afirma que desde muito jovem ouvia políticos prometerem a obra, mas sua concretização ficava apenas no âmbito da esperança.
O pecuarista José Fortunato de Lima, 60 anos, o “Paraíba”, como é conhecido na região, diz que a obra, segundo sua própria definição, agiliza a vida do cidadão. “Pra ir a Vista Alegre e voltar, a gente chegava a esperar três horas pela balsa no tempo da seca. Agora com a ponte temos mais agilidade para resolvermos nossas coisas”, comenta.
A “inauguração” da ponte para o Paraíba está prevista para a segunda-feira (10), quando ele pretende atravessá-la até Vista Alegre do Abunã para buscar peças adquiridas no comércio local.
De Xapuri (AC), a servidora aposentada Damiana Magalhães Soares, “Mica” como é conhecida, desembarcou em Abunã aos 13 anos de idade, junto com oito irmãos e os pais em busca de uma vida melhor. Aos 18 anos ela se casou com o comerciante Sebastião Mota Soares, que morreu em decorrência da covid-19 há pouco mais de 40 dias. Ainda enlutada pela perda, Mica relembra com muita emoção a expectativa que a família, principalmente Sebastião, tinha pela inauguração da obra. “Isso vai facilitar muito nossas vidas. Desde sempre eu ouvia histórias sobre a construção da ponte, mas ela nunca acontecia. Finalmente ela virou uma realidade e estamos muito satisfeitos”, conta.
A vigilante Ivanilce de Souza Andrade, nascida e criada em Abunã, mas atualmente morando em Porto Velho, conta que sua história ganha um novo sentido com o término da obra. Ela se viu obrigada a deixar o distrito onde sempre viveu após o frigorífico da região, um dos poucos postos de trabalho para a população, encerrar as atividades. O valor pago pelos caminhões na travessia da balsa aumentava o custo da produção, dificultava o transporte das cargas e principalmente o deslocamento de profissionais.
Ela conta que, com a construção da ponte, a população está na expectativa da reabertura do frigorífico. “São mais empregos; os proprietários falavam que tinham interesse em montar um setor de desossa e isso pode melhorar a vida das famílias que moram por aqui”, diz.
A região do Abunã vive quase que exclusivamente do extrativismo. Os garimpos são fontes de renda de diversas famílias, bem como a atividade madeireira. A pecuária também tem sua parcela de contribuição e a agricultura está se fortalecendo.
Cálculos fornecidos pelo Governo Federal apontam que a travessia do rio Madeira entre os distritos de Abunã e Vista Alegre do Abunã rendiam uma arrecadação média de R$ 100 mil ao dia ao dono da balsa que prestava o serviço. O tempo de espera, segundo os moradores, varia de acordo com a época do ano. Em tempos de seca pode levar pelo menos três horas. Os bancos de areia dificultam a navegação e tornam o processo mais lento. Em tempos de chuva, o nível do rio está mais alto e agiliza a travessia.
Com os relatos, o governador Marcos Rocha se emocionou com as histórias e comentou ser gratificante presenciar momentos históricos e poder contribuir com a melhoria da vida das pessoas. “Essa ponte vai garantir o desenvolvimento e o progresso da região. Além de ser um anseio da comunidade que há décadas esperava por isso, também se torna ferramenta de progresso socioeconômico. Todo mundo sai ganhando com esta obra”.
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