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Situação da Europa em 2025


António da Cunha Duarte Justo - Gente de Opinião
António da Cunha Duarte Justo

Iniciamos o ano 2025 com as esperanças murchas porque na qualidade de cidadãos e de povos nos encontramos envolvidos num dilema político-económico que se pode ver equacionado na constatação da realidade que Henry Kissinger “inocentemente” outrora revelava: “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”!

Em questões de aprendizagem de interesses europeus, von der Leyen e a EU precisariam de frequentar um pouco da escola turca de Erdogan que usa e abusa da NATO e da Federação russa na defesa dos interesses turcos! 

Talvez no decorrer deste ano os EUA optem mais por uma estratégia económica e isso crie espaço para a Europa poder pensar em realizar-se, libertando-se, pouco a pouco, das peias do preponderante pensamento anglo-saxónico...

O chefe da NATO (Rutte) quer ver propagada na União Europeia uma “mentalidade de guerra” (discurso em Bruxelas 12.12.2024) e que a força económica seja canalizada para a indústria da guerra, apelando também à redução dos direitos sociais dos cidadãos, exigindo para isso cortes nas pensões, etc....

Humano seria acabar-se mundialmente com as sanções económicas pois quem mais sofre com elas são as populações; um outro impulso seria fomentar-se o incremento das indústrias nos países sem o nível económico da Europa. Este poderia ser o início de uma economia mundialmente mais justa e de uma política mais séria que não precisaria de ser sustentada por guerras...

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9720  

 

O RIO E A ALMA PERDIDA 

Havia um tempo em que o rio corria livre, serpenteando vales e montanhas com a graça de um dançarino ao som de uma música suave e delicada imbuída da ternura de Bach. Nesse tempo, a sua água clara refletia o azul do céu, as copas das árvores e era lar de libelinhas, peixes e passarinhos que enchiam o meio envolvente com cantos e cores. As pessoas vinham até ele, deixavam as roupas nas margens, mergulhavam nas suas águas, colecionavam pedrinhas e pescavam trutas que se escondiam sob rochas cintilantes. O rio era mais que um caudal de água; era um confidente, um retrato da natureza e, em muitos aspectos, um espelho da alma humana. 

Mas o tempo foi passando, e as mãos humanas interferiram no curso do rio. O que antes era uma dança despreocupada transformou-se em algo contido, forçado. Barragens ergueram-se como muralhas, prendendo a correnteza, apagando curvas e lagos que, um dia, haviam sido refúgio de vida. Várzeas inteiras desapareceram sob as águas turvas, junto com os telhados de casas e memórias que antes respiravam esperança. O rio, agora engolido pela represa, não se reconhecia mais a si mesmo. Suas águas estagnadas refletiam tristeza, e o seu murmúrio tornou-se num lamento que se fazia sentir no subir da bruma cinzenta. 

Uma noite, sentado à beira do rio transformado, ouvi seu desabafo. Ele falou-me de sua dor, de como sentia saudades de ser livre, de carregar folhas, galhos e sonhos em seu percurso até ao mar. Compartilhei da sua tristeza, pois em sua transformação eu via um reflexo do que acontecia à humanidade. Assim como o rio, as pessoas também haviam perdido a sua essência, a sua alma. 

Convidei o rio para dividirmos o mesmo travesseiro de memórias. Fechamos os olhos juntos, tentando reviver um tempo em que sonhos individuais tinham espaço para florescer, livres das imposições de uma sociedade massificada e sob o controlo de forças estranhas. O rio contou-me que seu destino não foi escolha sua, assim como a alma humana não escolhe ser moldada por forças que a afastam de sua natureza autêntica. Ele lamentava como a sua água havia sido canalizada para um propósito impessoal, reduzida a uma fórmula de H2O que sustentava uma civilização sem alma. 

“E os humanos?”, perguntou-me o rio, depois de uma pausa de silêncio. “Vocês também estão presos em barragens invisíveis, perdendo a identidade ao serem agrupados em massas. Antes, cada um de vós era como um cristal único e brilhante; agora sois apenas parte de um fluxo amorfo. Ninguém ouve mais o murmúrio de sua própria alma, apenas ouve e segue o eco da corrente dominante.” 

Eu nada respondi, pois sabia que o rio estava certo. Olhei para o céu, buscando uma resposta que não veio. As águas calmas da represa refletiam estrelas, mas era uma calmaria que escondia uma verdade inquietante. Como o rio, também me sentia preso, não mais um indivíduo, mas parte de uma massa que se movia ao sabor dos ventos anónimos. 

Naquela noite, prometi ao rio que guardaria suas memórias e suas lágrimas. Decidi que não deixaria minha alma ser submersa pelo lago da conformidade. Talvez, como o rio, eu pudesse encontrar um caminho de volta à liberdade, mesmo que apenas em sonhos, ou numa de troca de saudade transcendente que salda a dor da humanidade no colo da natureza. 

E assim adormecemos, o rio e eu, com a esperança de que, um dia, tanto as águas como as almas reencontrariam o seu curso verdadeiro.

António da Cunha Duarte Justo

In Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9716

 e em Poesia de António Justo 

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