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Tesouro criminoso de Geddel já teve mais de R$ 100 milhões - Por Tereza Cruvinel


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Agora foram achados R$ 51 milhões mas Geddel Vieira Lima deve ter amealhado mais de R$ 100 milhões em propinas nos últimos anos. Quem diz é um prócer peemedebista de outra ala do partido, lembrando que ele disputou e perdeu as eleições para governador em 2010 e para senador em 2014. Nestes dois pleitos, deve ter queimado muito mais do que R$ 50 milhões financiando suas campanhas fracassadas, onde houve derrama de recursos. Apesar do flagrante sem precedentes quanto aos valores, ele continua confortavelmente instalado em seu apartamento em Salvador mas um surto de pavor já percorre o chamado "PMDB da Câmara": se for preso, Geddel vai se transformar em delator e entregar seus parceiros históricos. Entre eles Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Geddel, segundo este colega de partido, deve ter começado a estocar dinheiro a partir de 2007, quando se tornou ministro da Integração Nacional no segundo governo Lula. Embora tenha fustigado o presidente e o governo petista no período anterior (2003-2006), com a reeleição de Lula a aliança com o PMDB foi sacramentada e Geddel tornou-se ministro com a bênção de Michel Temer, que presidia a Câmara. Neste cargo ele tocou várias obras de infraestrutura de alto valor no Nordeste e principalmente na Bahia, que chegaram á ordem dos R$ 500 milhões, como os projetos de irrigação do Baixio de Irecê e de Salitre, em Juazeiro, ambas na Bahia, e deu início às obras da transposição das águas do Rio São Francisco.

Ele deixou o governo para concorrer ao governo da Bahia em 2010 mas foi derrotado por Jacques Wagner, do PT. Esperneou porque o PT não o apoiou e lançou candidato próprio. Apesar da escaramuça local, através de Temer conseguiu ser indicado para a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal em 2011. Dilma resistiu mas acabou cedendo à pressão de seu vice. Neste cargo, deu curso ao esquema de cobrança de propinas para a liberação de empréstimos e de recursos do FI-FGTS para empresas, conforme já relatado pelo delator Cleto Falcão e por empresários delatores, em parceria com Eduardo Cunha.

Deixou o cargo em 2013 para disputar o Senado em 2014 e foi derrotado por Otto Alencar, apoiado por Jacques Wagner. Desde então, passou a defender o rompimento do PMDB com o PT e foi um dos mais ativos conspiradores do golpe de 2016 contra Dilma. Com a posse de Temer em maio de 2016, tornou-se um dos homens mais poderosos do governo, assumindo o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo. Durou seis meses no cargo. Em novembro, caiu depois que o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, denunciou as pressões que dele sofria para que autorizasse a elevação do gabarito de um prédio na área histórica de Salvador, de 13 para 30 andares. Ele demitiu-se com uma carta ao "fraterno amigo" Temer mas todos os seus auxiliares continuam na Secretaria de Governo.

A delação de Lúcio Funaro, que já foi homologada mas continua sob sigilo, deve confirmar e detalhar o que já foi dito por outros delatores sobre a atuação de Geddel na CEF. Mas é a delação da OAS, que ainda dorme no STF sem ser homologada, que deve reservar um bom capítulo a ele, ao tratar das obras de transposição das águas do Rio São Francisco, que teriam rendido a Geddel uma parte do tesouro agora revelado de R$ 51 milhóes, fora o que ele já gastou ou ocultou de outro modo. A Lava Jato apreendeu mensagens que indicam também sua atuação a favor da OAS em obras em aeroportos e junto à prefeitura de Salvador.

Nestes tristes trópicos, muitos discursos já foram feitos por defensores da austeridade fiscal contra o custo das obras que representam a redenção para os nordestinos que sofrem com a seca e a falta de água. As águas chegaram, finalmente, aos beneficiários, mas a outros mais estariam chegando, e a custo mais baixo, se tantos recursos não tivessem sido desviados para alimentar o tesouro de Geddel.

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