Sábado, 9 de fevereiro de 2019 - 16h03
Acidentes acontecem. Isso é um fato. Mas
no Brasil eles são de certa forma consequências da “brasileirice” e do famoso jeitinho que costumam orgulhar tanta
gente por aqui. As tragédias se multiplicam pelo país e somente neste início de
ano, já tivemos dois casos que chocaram o mundo: o rompimento da barragem em
Brumadinho e o terrível incêndio na concentração do Flamengo, o Ninho do Urubu.
O saldo das duas catástrofes é aterrador: quase 400 mortos. Porém, o pior
nestes dois casos é que tudo isto poderia ter sido evitado. Isso se esses fatos
tivessem ocorrido em um país sério do Primeiro Mundo, onde segurança é levada
ao pé da letra. Para se ter uma ideia, o Flamengo foi multado pelos menos 30
vezes pela Prefeitura do Rio de Janeiro por causa de suas instalações. O local
não tinha alvará de funcionamento, ainda assim funcionava.
Segundo
ainda a Prefeitura do Rio, faltava um documento do Corpo de Bombeiros e por
isso o centro de treinamentos estava interditado. Infelizmente tem sido assim
em quase todas as nossas tragédias. Providências só são tomadas depois que
acontece o pior. Pouco tempo depois, todo mundo se esquece do ocorrido e a vida
“volta ao normal”. Foi assim em Santa
Maria na Boate Kiss quando por total irresponsabilidade dos seus proprietários
e também do Poder Público, pelo menos 242 jovens perderam a vida. Até hoje,
seis anos depois, ninguém foi preso e parece que nunca será. Muito menos
responsabilizado pela tragédia que chocou o mundo. Nos dias que se seguiram,
boates espalhadas pelo Brasil inteiro foram vasculhadas e fiscalizadas como se
o nosso país fosse os Estados Unidos ou a Alemanha. Tudo encenação pura.
Em
Brumadinho, a barragem da Vale soterrou mais de 350 trabalhadores brasileiros.
Na Justiça, até agora, não aconteceu absolutamente nada com o presidente da
companhia e nem com os seus donos. Somente alguns funcionários foram presos e já
soltos dias depois. Preso mesmo quem ficou foram os pobres trabalhadores. E na
lama tóxica da barragem assassina. Agora, sirenes tocam quase todos os dias
para alertar a população. Outra encenação estúpida somente para mostrar
eficiência: por que estas malditas sirenes não tocaram na hora da tragédia para
avisar a todos? Depois da hecatombe em Minas Gerais, barragens no Brasil
inteiro estão sendo fiscalizadas pelas autoridades. Menos a de Santo Antônio a
sete quilômetros do centro de Porto Velho e a de Jirau, pois estas barragens,
segundo seus “sábios” técnicos, são
totalmente seguras.
Parece que todos têm a certeza de que
“nem Deus estoura essas barragens de Rondônia”. E como o brasileiro só
coloca a tranca na porta depois que foi roubado, é bom “botarmos as barbas de molho”. A hidrelétrica de Santo Antônio fica
de frente para a capital do Estado. Está bem ali só esperando a hora de testar
a “capacidade humana”. Quem já foi
orientado dos riscos se uma possível tragédia acontecer? Nunca houve treinamento
para uma evacuação em massa. Sabe-se que em Rondônia as autoridades não evacuam
as pessoas, mas nas pessoas. Onde há sirenes pela cidade? Quantas mortes
ocorrerão em caso de rompimento daquele “troço”
cheio de lama? Se o pior acontecer, quem será responsabilizado? Por que a
Capitania dos Portos daqui permite, por
exemplo, que barcos viajem sem que ninguém seja obrigado a usar o colete
salva-vidas? Brumadinho, Mariana, Santa Maria. Porto Velho seria só mais um
nome?
*É
Professor em Porto Velho.
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