Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

Tragédias com jeitinho


Tragédias com jeitinho - Gente de Opinião

Acidentes acontecem. Isso é um fato. Mas no Brasil eles são de certa forma consequências da “brasileirice” e do famoso jeitinho que costumam orgulhar tanta gente por aqui. As tragédias se multiplicam pelo país e somente neste início de ano, já tivemos dois casos que chocaram o mundo: o rompimento da barragem em Brumadinho e o terrível incêndio na concentração do Flamengo, o Ninho do Urubu. O saldo das duas catástrofes é aterrador: quase 400 mortos. Porém, o pior nestes dois casos é que tudo isto poderia ter sido evitado. Isso se esses fatos tivessem ocorrido em um país sério do Primeiro Mundo, onde segurança é levada ao pé da letra. Para se ter uma ideia, o Flamengo foi multado pelos menos 30 vezes pela Prefeitura do Rio de Janeiro por causa de suas instalações. O local não tinha alvará de funcionamento, ainda assim funcionava.

            Segundo ainda a Prefeitura do Rio, faltava um documento do Corpo de Bombeiros e por isso o centro de treinamentos estava interditado. Infelizmente tem sido assim em quase todas as nossas tragédias. Providências só são tomadas depois que acontece o pior. Pouco tempo depois, todo mundo se esquece do ocorrido e a vida “volta ao normal”. Foi assim em Santa Maria na Boate Kiss quando por total irresponsabilidade dos seus proprietários e também do Poder Público, pelo menos 242 jovens perderam a vida. Até hoje, seis anos depois, ninguém foi preso e parece que nunca será. Muito menos responsabilizado pela tragédia que chocou o mundo. Nos dias que se seguiram, boates espalhadas pelo Brasil inteiro foram vasculhadas e fiscalizadas como se o nosso país fosse os Estados Unidos ou a Alemanha. Tudo encenação pura.

            Em Brumadinho, a barragem da Vale soterrou mais de 350 trabalhadores brasileiros. Na Justiça, até agora, não aconteceu absolutamente nada com o presidente da companhia e nem com os seus donos. Somente alguns funcionários foram presos e já soltos dias depois. Preso mesmo quem ficou foram os pobres trabalhadores. E na lama tóxica da barragem assassina. Agora, sirenes tocam quase todos os dias para alertar a população. Outra encenação estúpida somente para mostrar eficiência: por que estas malditas sirenes não tocaram na hora da tragédia para avisar a todos? Depois da hecatombe em Minas Gerais, barragens no Brasil inteiro estão sendo fiscalizadas pelas autoridades. Menos a de Santo Antônio a sete quilômetros do centro de Porto Velho e a de Jirau, pois estas barragens, segundo seus “sábios” técnicos, são totalmente seguras.

            Parece que todos têm a certeza de que “nem Deus estoura essas barragens de Rondônia”. E como o brasileiro só coloca a tranca na porta depois que foi roubado, é bom “botarmos as barbas de molho”. A hidrelétrica de Santo Antônio fica de frente para a capital do Estado. Está bem ali só esperando a hora de testar a “capacidade humana”. Quem já foi orientado dos riscos se uma possível tragédia acontecer? Nunca houve treinamento para uma evacuação em massa. Sabe-se que em Rondônia as autoridades não evacuam as pessoas, mas nas pessoas. Onde há sirenes pela cidade? Quantas mortes ocorrerão em caso de rompimento daquele “troço” cheio de lama? Se o pior acontecer, quem será responsabilizado? Por que a Capitania dos Portos daqui  permite, por exemplo, que barcos viajem sem que ninguém seja obrigado a usar o colete salva-vidas? Brumadinho, Mariana, Santa Maria. Porto Velho seria só mais um nome?

 

 

 

*É Professor em Porto Velho.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 10 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Na passagem da democracia partidária para a oligarquia liberal (democracia autoritária)

Na passagem da democracia partidária para a oligarquia liberal (democracia autoritária)

Poder económico e Poder político em Promiscuidade clara Estamos no início de uma nova era moldada pelas tecnologias virtuais e pela Inteligência A

Lua de mel do prefeito Léo com a Câmara Municipal logo chegará ao fim

Lua de mel do prefeito Léo com a Câmara Municipal logo chegará ao fim

No começo, tudo são flores. Com o passar do tempo, elas murcham, perdem o vigor e acabam morrendo. Assim pode ser entendido o relacionamento entre o

Situação da Europa em 2025

Situação da Europa em 2025

Iniciamos o ano 2025 com as esperanças murchas porque na qualidade de cidadãos e de povos nos encontramos envolvidos num dilema político-económico q

Prefeito Léo acertou na escolha para a Controladoria Geral

Prefeito Léo acertou na escolha para a Controladoria Geral

Léo Moraes assumiu no dia 1º de janeiro os destinos do município de Porto Velho, em uma solenidade bastante concorrida, que aconteceu no Complexo da

Gente de Opinião Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)