Sexta-feira, 27 de maio de 2011 - 07h03
Por William Haverly Martins
Por instantes foi como se estivéssemos vivendo um antigo conceito da Idade Média, no sentido obscuro, decadente, faltou energia, a transparência se viu na corda bamba sem os holofotes do acontecimento. Na escuridão, voltamos a Idade das Trevas na terra das duas maiores hidrelétricas em construção no país, o Fórum Rondônia Contra a Corrupção tentava instalar-se, querendo ser a transição de conceitos no rumo do clarão de um renascimento karipuna, mas partindo de uma premissa errada de modificação de cima pra baixo, ingenuamente interferindo na aparência, tentando uma cirurgia plástica na boca torta pelo uso do cachimbo, se não aprofundarmos a mudança na essência da dignidade humana, se não desabrocharmos a ética no jovem estudante, seremos mero placebo.
No princípio era o caos que não se fez verbo, se fez verba, uma antiguidade perdida em meio a conchavos, comissões, licitações fraudulentas, tribunais seletivos, indústria de recursos, propinas da grossa e da fina, mensalões para todos os gostos, corrupção moral invadindo as igrejas, gerando egos inflados que se confundiam com as próprias excelências. Nossa conhecida Ceron, palco de tantos episódios de corrupção, restringiu o discurso do Governador, não houve tempo para anunciar medidas que serão desenvolvidas nas escolas, visando o fim do apagão comportamental, nem tampouco deu ao prefeito a chance de se explicar, a pouco mais de cem denodados, de que Porto Velho já não vive a idade média, apesar dos 2% de esgoto, do abandono de nosso Patrimônio Histórico, do ensino de péssima qualidade, dos escândalos na saúde e da superfície lunar de nossos logradouros.
O caos se fez luz: hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! No Teatro Banzeiros? Tem, sim senhor! A comédia iluminou a incompetência com humildade, dando início ao fim da ansiedade na pele da nossa Bailarina da Praça, acalmando os ânimos: dançou com um boneco, brincou, contou parte de sua vida com a transparência própria dos humildes, que faltaria a alguns palestrantes, no decorrer dos trabalhos contra a corrupção.
O fórum começou no escuro, foi clareando aos poucos com o desenrolar das palavras do governador, ainda com o ambiente desfavorável ele foi objetivo, demonstrando com palavras convincentes a vontade de promover no Estado uma nova cultura, substituindo a que outrora fora carcomida pelo câncer da corrupção. O prefeito não teve a mesma felicidade, desligou as luzes da fala do governador, mesmo se expressando no claro não convenceu, afinal são sete anos de pouco sendo propagandeado como muito, não passou da idade média, não alcançou a média, nem respondeu convincentemente aos inquisidores, merecia a fogueira.
A energia retornara, mas as desembargadoras do TRE e do TRT não foram iluminadas, limitaram-se a ler o conteúdo do PPS projetado no telão, foram muito técnicas e fugiram ao debate com a velha desculpa da viagem e do compromisso urgente, ressalte-se que não eram louras.
O único representante da bancada rondoniense no Congresso praticamente não disse a que veio, um desastre, mais pra Tiririca do que pra fiscal das contas públicas federais, estaduais e municipais.
No mais foi uma sequência de mea culpa, de como prevenir a corrupção, de como acompanhar as contas, todos os órgãos estavam afiados no controle das despesas, mas nada se falou do controle da corrupção nas receitas, órgãos como os Detrans, por exemplo, usam e abusam do direito de arrecadar sem o mínimo controle interno e externo, as taxas cobradas pelo Detran de Rondônia, segundo os despachantes, são as maiores do Brasil, isto sem contar com a exclusiva taxa dos bombeiros que financia o luxo da corporação. Quem controla o abuso nas receitas?
Destaque para as palestras do Diretor da Justiça Federal, do Procurador-chefe do MPF, do superintendente da PF/RO, do representante da OAB, das representantes das CGU, CGE e CGM e especialmente para o presidente do Observatório Social de Rolim de Moura, foram momentos de elucidação, erudição e de promessas, visivelmente honestas e sinceras no sentido de diminuir a cultura da corrupção.
A nota decepcionante, como sempre, ficou por conta dos representantes do Legislativo, simplesmente ignoraram o evento. O TCE também não foi bem, o conselheiro palestrante se envolveu numa discussão sobre as cadeiras de cinco mil reais compradas para os conselheiros com o dinheiro do povo e não soube explicar porque tantos cargos comissionados naquele órgão, para o Zé povo o TCE/RO se confunde com a própria corrupção, é um órgão sem crédito, auxiliando um poder desacreditado pela população e merece o trabalho do CERCCO, afinal o coordenador do Comitê Rondônia Contra a Corrupção conhece bem as entranhas putrefatas do órgão.
Leo Ladeia representou brilhantemente a imprensa rondoniense, foi sóbrio, coerente e honesto, declarou a impotência da imprensa diante da subserviência ao capital governamental. Não existe isenção, confessou com o semblante abatido. Quem publica mazelas ocorridas vai pra guilhotina, ou pra masmorra a pão e água.
A UNIR, sempre distante de eventos de porte, não compareceu, o povo não deu o ar da graça, alias o povo nunca acreditou no fim da corrupção a partir de ações dos órgãos do sistema. Nois acredita porque nois é bonzinho e aprendemo na cartilha do MEC. Compareceram algumas associações de bairros e a ACRM , seremos o adubo da semente da mudança e a consequente multiplicação.
Apesar dos pesares, o pontapé inicial foi dado, frases de efeito e um festival de citações foram lembrados por quase todos os participantes, desde a tradicional “... o homem chega a ter vergonha de ser honesto” de Rui Barbosa ao sonho de Martin Luther King, nada que se compare ao pragmatismo do lançamento do Observatório Social de Porto Velho e do CERCCO. Os corruptos, ou os candidatos a corruptos que cuidem de por as barbas de molho, estamos renascendo para uma nova República Karipuna Idealista, a tribo da meritocracia, onde a retórica do ter pela via da corrupção, será substituída pela eloquência do ser para ter, pela via da competência. Angustiado pelos arquétipos portugueses, espero não estar no meio de mais uma visão sob os efeitos alucinógenos da Ayuasca!
williamhaverly@gmail.com / witahaverly@hotmail.com
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, membro efetivo da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
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