Domingo, 7 de janeiro de 2007 - 15h16
Numa época em que deputados aumentam os próprios salários de forma desmesurada, cresce o exemplo de um homem público do Império brasileiro que manteve a dignidade acima de tudo.
Paulo Gomes Lacerda*
Alagoano, como dois dos grandes responsáveis pelo golpe de estado contra a Monarquia, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, o Visconde de Sinimbu era a antítese de ambos. Jamais aumentou o próprio salário durante o Império e nunca se vendeu ao poder, morrendo por isso na miséria. Agora, ao tomarmos conhecimento de que neste momento minguam os recursos destinados à saúde, educação, segurança pública e outros serviços essenciais, mas os parlamentares se conferem um aumento de 91% em seus salários, fora outros benefícios, o exemplo deixado por João Lins Vieira Cansansão, o Visconde de Sinimbu deve ser rememorado e exaltado.
Em 1889, diante dos eventos da proclamação da República, o Visconde assistiu a morte de sua esposa Valéria Tourner Vogeler, mulher que amou durante toda a sua vida, e numa ocasião em que ainda exercia o cargo de conselheiro do Imperador D. Pedro II e de senador vitalício, postos que perdeu com o fim da Monarquia. Monarquista convicto e militante, o Visconde de Sinimbu recusou qualquer tipo de benefício, inclusive uma pensão mensal equivalente hoje a cerca de R$25.000,00, conforme carta enviada ao novo governo republicano e na qual declarou:
"Na solidão onde vim recolher-me e provisoriamente resido, retirado da vida pública, após o cruciante golpe e a suprema desgraça com que aprouve a Deus ferir-me, enviuvando-me no próprio dia da abolição da Monarquia, chegou-me a notícia do decreto do Governo Provisório, concedendo-me a pensão mensal de 500 mil réis. Como resolução que me prescreve a consciência, me dita a dignidade e me impõe a honra, rejeito a graça e, salva a intenção, repilo-a como afronta e como ultraje à minha obscura pessoa e à minha pobreza honrada".
Qual de nossos parlamentares de hoje assinaria um documento com teor equivalente a esse?
Nascido em 20 de novembro de 1810 na pequena cidade de São Miguel dos Campos (AL), Sinimbu recebeu seu merecido título de nobreza concedido pelo magnânimo Imperador D. Pedro II em 16 de maio e 1888 por seus esforços na campanha abolicionista e por sua brilhante carreira. Aos 25 anos, formou-se bacharel em Direito pela Academia Jurídica de Olinda, tendo obtido seu doutorado na Universidade de Iena, na Alemanha. Com muito esforço, entrou na magistratura, tornando-se juiz de Direito na cidade de Cantagalo, em uma carreira pública meteórica. Foi também chefe de Polícia, inclusive da Corte e presidente do Conselho de Mineração.
Em 1840, com apenas 30 anos de idade, tornou-se presidente da Província de Alagoas, equivalente ao atual cargo de Governador de Estado, deixando o cargo, presidiu interinamente a Província de Sergipe durante alguns meses e tornou-se embaixador do Brasil em Montevidéu, Uruguai; e de 1852 até 1855, governou o Rio Grande do Sul. De 1856 até 1859, governaria ainda a Província da Bahia, destacando-se por combater o tráfico de escravos, que considerava odioso; e a imoralidade pública que condenou em vários de seus discursos.
O Visconde também incentivou a colonização do interior da Bahia, de modo a descobrir os diamantes da atual Chapada Diamantina, que criaram um ciclo de desenvolvimento na região. Em 1856, tornou-se ainda senador por Alagoas, cargo que, nessa época, era vitalício e preenchido apenas pelos homens públicos mais honestos e competentes, selecionados pelo Imperador a partir de uma lista tríplice eleita pelo povo.
Em 1859, o Barão de Uruguaiana, então presidente do Conselho de Ministros, equivalente hoje ao posto de primeiro-ministro, solicitou ao Imperador D. Pedro II que convocasse Sinimbu para a pasta dos Negócios Estrangeiros, tornando o Visconde ministro das relações exteriores do Brasil. Em 1862, o novo presidente do Conselho, Marquês de Olinda, mesmo sendo de facção política diametralmente oposta à de Sinimbu, decidiu convocá-lo para a pasta da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, tendo em vista a sua competência e experiência comprovadas. Neste papel, o Visconde de Sinimbú, entre outros feitos, implantou o sistema decimal de medidas até hoje utilizado no Brasil. Era grande acadêmico, autor de diversos trabalhos e livros, tendo conseguido a cadeira número 23 na Academia Alagoana de Letras.
Finalmente, em 1878, tendo o Duque de Caxias, grande herói militar do Brasil, se retirado da vida pública, pôde o Visconde de Sinimbu ocupar o cargo de presidente do Conselho de Ministros, governando o Brasil em uma época de grandes sucessos econômicos que precederia à estagnação dos anos 1880 e 1890. Terminado o seu mandato, tornou-se conselheiro de Estado, passando a assessorar politicamente D. Pedro II.
Após o golpe de 15 de novembro de 1889, foi acusado pela falência do Banco Nacional, que presidia, ocorrida em virtude da desconfiança internacional gerada após o golpe da proclamação da República. Logo foi inocentado, diante do ultraje público que as acusações geraram contra o honestíssimo Visconde de Sinimbu, agora, aos olhos da República, apenas o "Cidadão João Lins Vieira Cansansão".
Sinimbu, que jamais solicitou um aumento salarial e que tanto se dedicou ao seu País e ao seu Imperador, ofendido pelas acusações que lhe fizeram os republicanos faleceria quase centenário e na mais extrema pobreza no ano de 1906. Resta a todos nós espelharmo-nos nesse brasileiro quase esquecido pela História, mas que martirizado pelos republicanos renasce agora como exemplo ímpar de dignidade.
*Paulo Gomes Lacerda, ensaísta
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