Sábado, 7 de agosto de 2010 - 09h16
EMMANOEL GOMES
PROFESSOR E HISTORIADOR
A atuação européia trouxe graves conseqüências para as populações nativas que viram seu mundo milenar desabar, com práticas de crueldades jamais vistas ou sonhadas por aqueles povos.
Em nome de Deus e em busca das imensas riquezas, a população nativa Americana que ultrapassava os setenta milhões de seres humanos foi reduzida quase que totalmente.
Quando falamos ou escrevemos sobre o genocídio ocorrido com os povos nativos da América, por mais que queiramos, não chegamos nem perto do real, vivido ou acontecido.
É uma utopia da história e historiadores a reconstituição da verdade e do real, ambas são ideologias e atendem aos interesses de classes, a verdade como a mentira, são múltiplas, fazem parte de um lado de uma mesma moeda e atende aos interesses de cada um que as conta.
Retornando aos índios e a relação com os europeus no século XVI, constatamos na prática a logística cultural do capitalismo que em busca das riquezas gerou de assassinatos em massa, a estupros de mulheres homens e crianças, contaminação proposital de milhões de indivíduos com vírus desconhecidos no novo mundo à destruição dos valores morais, religiosos, éticos, humanos, culturais; corpos incendiados, filhos sendo arrancados do ventre das mães por pura diversão, corpos esquartejados servindo de ração para cães, vísceras arrancadas com a pessoa ainda viva e se agonizando, torturas e sofrimentos sem fim, dor eterna, lágrimas que escorrem até hoje nos olhos dos descendentes que percebem que o terror não possui limites, realmente é eterno, como a palavra do Deus eterno que foi utilizada para justificar o ímpio, o medonho, o infame.
Por mais que busquemos não encontramos palavras que possam traduzir o real o acontecido.
Não conseguiremos, pelo menos, nos discursos e palavras nos aproximar da brutalidade praticada contra esses povos que viviam numa profunda harmonia e paz com o seu mundo, cultuando lagos, rios, bichos, filhos, mulheres, terra, céu, chuva, sol, lua, estrela, cometa, frutos, flores e vento. Um universo comparado pelos primeiros cronistas que visitaram nossa Amazônia como o paraíso divino na terra.
A questão indígena no Brasil e em especial em Rondônia precisa, ainda hoje, ser refletida profundamente. Alguns posicionamentos vazios, descrentes e ingênuos têm contribuído com o discurso maléfico de setores conservadores que atuam no sentido de por um fim às culturas tradicionais.
É comum pessoas afirmarem que não existe mais espaço para as culturas tradicionais e principalmente para as nações indígenas. Ouvimos muitas pessoas afirmarem que o destino dos povos indígenas está muito próximo do fim.
Alguns milhares de índios vivem a nossa volta, e isso é incontestável. Como você se sentiria se as pessoas pregassem o extermínio de sua cultura, sua vida e vida de seus familiares e amigos?
Os índios são elementos humanos reais da sociedade atual. Alguns enxergam os índios como se fossem de uma sociedade passada, distante, peça existente somente em museus antropológicos.
Outros o enxergam como um ser puro, distante de tudo, ligado a uma natureza intocada, distante e isolada.
Devemos compreender que são seres humanos, possuem sonhos, desejos, crenças, culturas, contradições, possuem as perfeições e imperfeições características dos seres humanos.
Os povos indígenas estão nas cidades, ruas, avenidas, debaixo das pontes, asilos decadentes, periferias do Brasil e em vários países da América. Mendigam o direito à existência.
A sua volta, uma sociedade fria, preconceituosa, capitalista que vulgarizou e banalizou a maioria dos valores éticos, morais, religiosos e humanos. O capital e o capitalismo bestializaram as pessoas, possivelmente nunca tivemos na historia da humanidade uma sociedade composta por gente tão desumana e arredia ao semelhante como na atualidade.
Em quase todos os municípios de Rondônia existem remanescentes de tribos indígenas, essa terra, nosso “distante eldorado”, um dia foi o verdadeiro eldorado deles. Por onde andam os ARIKEMES, JARUS, CABIXIS, NAMBIQUARAS, KARITIANAS, KARIPUNAS ETC.
Eles, os remanecentes, insistem em um combate pela sobrevivência, pelo direito de existir, de ser e viver seu mistério, sua crença e cultura.
Todos nós, os não índios, estamos seguimos indiferentes a essa realidade, trancados em nosso mundinho de consumo, como zumbis queremos comer e consumir tudo que está a nossa volta; sem nos importarmos com coisas como o passado, religião, história, cultura, tradições e a arte, sem preocupação com as relações afetivas profundas e sensíveis.
O ser humano nunca viveu tantas frustrações, depressões, tristezas e tédio como na atualidade.
As estéticas do corpo e das coisas se sobrepõem aos ideais e sonhos de liberdade e conquistas que embalaram as gerações passadas.
Uma noite de amor regada a drogas e álcool, embaladas com sons barulhentos, estridentes, desarmônicos e ambientes tumultuados, substituem uma vida inteira de amor, os românticos, poetas e seresteiros são quadrados. Estranhamente viver o momento, algo como o "Carpe Diem" que quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre.
A idéia do viver o hoje, o agora, o já. Cada vez mais substitui o viver intensamente a vida, toda ela.
Olhemos ao nosso redor, nossos filhos e amigos, a juventude, a adolescência, até a terceira idade, chamada de melhor idade. Vivemos um profundo vazio; carentes de amor, musicalidade, poesia, espiritualidade, esperança e coletividade.
O medo tomou conta das pessoas. Não encontramos mais prazer e paz de espírito, sempre achamos que o outro quer tomar alguma coisa da gente.
As pessoas com seus grandes egos tornaram-se incapazes de compartilhar, fazer amizades sinceras de se relacionar fraternalmente.
Atuamos socialmente para mostrar nossas posses, desde um sapato, o corte de cabelo o vestido, o filho, marido o silicone o carro de última geração. Estamos há muito tempo nos medindo pela régua do consumo.
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