Segunda-feira, 12 de janeiro de 2015 - 11h52
Professor Nazareno*
Rondônia e Porto Velho são lugares muito atrasados e com pouquíssimos resquícios de civilização. Isso quase tudo mundo sempre soube. No entanto, algo difícil de entender é o fato de que o progresso por aqui, contrariando a lógica da maioria dos lugares do mundo, diminui à medida que o tempo passa. Único Estado do Brasil que tem duas datas cívicas (22 de dezembro e 04 de janeiro), não comemora nenhuma das duas. Aliás, em assuntos de mudanças de datas e troca de calendário, Rondônia dá lição ao resto do Brasil. As festas juninas podem ser realizadas em setembro, o carnaval oficial, não aquele fora de época, às vezes é realizado em julho e a Semana Santa já foi algumas vezes encenada em junho com direito a espetáculo ao ar livre. E seguindo essa lógica bisonha, o interior do Estado tem mais progresso e IDH do que a própria capital.
Até a natureza é adulterada por aqui. O frio (25ºC aproximadamente) chega durante dois ou três dias quando todos acreditam estar no verão. Porém, o mais espetacular de se ver é a televisão. Há 30 anos, quase todos os programas exibidos eram gravados. Como são agora. Não houve progresso nessa área, apesar dos avanços tecnológicos. A TV Rondônia, por exemplo, retransmissora da TV Globo, exibe seus jornais com pelo menos duas horas de atraso em relação ao resto do mundo. E não é por causa do fuso horário, atrasado em relação a Brasília. O Jornal Nacional é exibido exatamente às sete e meia da noite, horário local, quando já são nove e meia em Brasília e no restante mais civilizado do país. Ora, se fosse exibido ao vivo, mostrando as notícias na hora em que acontecem, esse noticiário deveria ser exibido no final da tarde.
Assim, furo de reportagem não vai existir nunca por aqui. Mas quem tem antena parabólica ou sinal de TV fechada assiste às principais notícias do Brasil e do mundo com bastante antecedência. Já os rondonienses que não têm este privilégio só sabem o que acontece depois que todo mundo já viu e comentou. A reprise das novelas é uma piada totalmente sem graça. O progresso das transmissões ao vivo parece que “não pegou” na terra dos “destemidos pioneiros”. O Bom Dia Brasil, outro noticiário, começa exatamente às sete e meia da manhã por aqui (nove e meia em São Paulo) e deveria ser ao vivo (cinco e meia da manhã), já que se trata de um noticiário. Notícia gravada é como produtos alimentícios vencidos: não servem para nada. O “furo” da derrota do Brasil na última Copa do Mundo já chegou à terra das “sentinelas avançadas”?
Antes do “progresso”, a distância entre Porto Velho e a ex-Cachoeira do Teotônio era bem menor e não tínhamos enchentes históricas. Dizem que na época do território, a capital era uma cidade mais limpa e higiênica. Bons tempos aqueles. E para alegria geral, naquele tempo não existia Assembleia Legislativa e os poucos políticos de então quase não roubavam os cofres públicos. Era uma maravilha, pois vivíamos como no Primeiro Mundo e não sabíamos. Miragem: dizem até que os ex-prefeitos e os ex-governadores trabalhavam de verdade em benefício do povo. Havia Expovel, Arraial Flor do Maracujá com local e data definida e outras manifestações culturais. Já o aeroporto da cidade não era internacional e só fazia voos domésticos, como hoje. Obras inacabadas iguais aos viadutos quase não havia e o trânsito fluía normalmente. Então, vamos sair hoje à noite? Antes ou depois do Jornal Nacional? Da Sky ou da TV aberta?
*É Professor em Porto Velho.
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