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USAID: da Ditadura ao Controle Eleitoral


USAID: da Ditadura ao Controle Eleitoral - Gente de Opinião

Quem já tomou, como eu, “leite de camburão, um complexo vitamínico que temperava a aveia cheia de “Tribolium”, o famoso gorgulho, vai lembrar do que vou começar a falar agora. Nesse tempo, o ano era 1971, e eu tinha sete anos. Era estudante da Escola Municipal John F. Kennedy, na avenida Salgado Filho, em Porto Velho, acabara de entrar para alfabetização, mas por incrível que possa parecer, eu já sabia ler. Fui alfabetizado em casa, pela minha prima Suely Rodrigues, a quem rendo toda a minha gratidão. Essa merenda, servida  numa caneca de fibra azul piscina,  era oferecida pelo Governo Militar às crianças, través da USAID- Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, no programa chamado de “Aliança para o Progresso.  Essa mesma que agora está na mídia de todo o mundo, como uma grande influenciadora das eleições no Brasil. Essa agência tem desempenhado ao longo dos tempos um papel controverso nos bastidores da política e da economia brasileira. Criada supostamente para fomentar o desenvolvimento, a entidade acumulou histórico de influência direta na formulação de políticas nacionais, em especial nas áreas ambiental, educacional, econômica e, mais recentemente, no próprio processo eleitoral.

Mas, pelo que estou vendo, parece que ninguém sabia disso. Estou vendo todo mundo falando disso ou daquilo como se fosse uma coisa nova. Aliança para o Progresso, programa lançado pelo governo dos Estados Unidos em 1961, sob a administração de John F. Kennedy, visava promover o desenvolvimento econômico e social da América Latina, com investimentos em infraestrutura, educação e combate à pobreza. No entanto, sua verdadeira função era estratégica: impedir a ascensão de governos alinhados ao socialismo e garantir a influência norte-americana na região, especialmente após a Revolução Cubana de 1959.

Documentos históricos indicam que a agência não apenas financiou campanhas midiáticas contra o governo de João Goulart, mas também ofereceu apoio estrutural para setores militares que viriam a tomar o poder no golpe de 1964. Além disso, a USAID esteve diretamente envolvida na reestruturação do sistema educacional brasileiro, alinhando-se aos interesses norte-americanos e desestimulando o ensino crítico e político. A agência não apenas forneceu apoio econômico e estratégico aos militares, mas também influenciou diretamente políticas públicas no Brasil, especialmente nas áreas educacional e econômica. Então, como é que todo mundo parece surpreso com isso?

Além disso, um dos primeiros impactos diretos da presença da USAID foi a reestruturação do sistema educacional brasileiro na década de 1970. O objetivo era conter a influência de movimentos estudantis e adaptar a educação aos interesses norte-americanos. Na prática, isso se traduziu na extinção do ensino crítico e político das escolas públicas e na ampliação da formação técnica voltada para as demandas do mercado global. Quem se lembra dos “Centro Cívicos”, dos Líderes de Sala, da matéria de OSPB- Orientação Social e Política do Brasil? Oh, sério, quem diria! Nunca imaginei... (só que sim)”. Numa linguagem chula, dona |Aurea, minha avó, se expressava, num caso desse, dizendo assim: Não me venha com esses peitos moles dizendo que é moça!

O papel da USAID não para por aí. Na minha formação em Direito, tratei do assunto em minha monografia com o tema “A influência das ONGs na Soberania Brasileira”, mostrando que com a ascensão dos debates ambientais no cenário internacional, a USAID redesenhou sua atuação no Brasil, tornando-se um dos principais arquitetos das políticas ambientais que vigoram até hoje. O livro Máfia Verde, de Lorenzo Carrasco, que ajudei a financiar, denunciava como a agência influenciou a criação de vastas áreas de conservação ambiental na Amazônia exatamente onde existem riquezas minerais, impedindo que o Brasil explorasse seus próprios recursos. Assim, como estou hoje, naquela época, eu era uma vó solitária. Cheguei a dar palestras a convite da Escola de Comando e Estado Maior do Exército Brasileiro- (ECEME), no curso para   formação de generais, em Porto Velho, mostrando essa realidade, mas me parece que pouca coisa foi feita. Que diga a Marina Silva, do Meio Ambiente. Foi uma das que mais se beneficiou com os programas esquematizados pela USAID e WWF, inseridos na politica ambiental brasileira, na cara de todos nós.

A estratégia não é nova. Em diversos países, entre eles a África e América Latina, a USAID financiou ONGs e grupos ambientalistas para implementar um modelo de "preservação" que impossibilita a exploração mineral e o desenvolvimento das regiões afetadas. Esse modelo de controle fez com que o Brasil ficasse impedido de utilizar suas riquezas naturais, enquanto empresas estrangeiras conseguem se posicionar para, futuramente, negociar a exploração sob condições mais favoráveis aos interesses internacionais. A China, comendo pelas beiradas, já se instalou na Amazônia comprando vastas áreas de terras raras, num dos maiores contrapé, como se diz na capoeira.

Vejam só: Se ONGs, são organizações não governamentais, como é que eu crio uma entidade como esta para viver de recursos de governos? Não é um contrassenso? Algo está bem claro, mas ninguém quer ver. Qual o efeito da CPI das ONGs montada no Congresso? Não vi nenhum resultado.

Nos últimos anos, a interferência da USAID passou a se concentrar no processo eleitoral brasileiro. Durante a gestão do ministro do STF Luís Roberto Barroso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foram estabelecidos laços diretos entre a agência e o órgão. Em 2021, a USAID promoveu eventos e parcerias com o TSE para "combater a desinformação", um termo que se tornou pretexto para a censura de oposição.

Tudo passa a ficar às claras agora, depois da denúncia feita por Mike Benz, ex-chefe da divisão de informática do Departamento de Estado dos EUA, durante o governo Trump, ao afirmar que a USAID teria influenciado o processo eleitoral brasileiro. Segundo Benz, a agência financiou organizações no Brasil para que promovessem a censura sob o pretexto de combater a desinformação, mas o objetivo final era enfraquecer a campanha do então presidente Jair Bolsonaro. Ele declarou que, se não fosse pela atuação da USAID, “Bolsonaro ainda seria presidente do Brasil”.

Documentos gerados por essas iniciativas foram utilizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para fundamentar a remoção de conteúdo e a penalização de figuras conservadoras e de direita. A influência também se estendeu às grandes mídias. A USAID destinou milhões de dólares para financiar programas de "verificação de fatos", o que, na prática, resultou no direcionamento da narrativa pública contra o governo Bolsonaro e seus apoiadores. Lembram-se do consórcio de mídia, encabeçado pela Rede Globo? Estima-se que ao menos US$ 6,5 milhões tenham sido investidos em veículos de comunicação para reforçar uma campanha negativa contra o projeto conservador e liberal no Brasil.

Ademais, a censura imposta por decisões do TSE e do STF foi diretamente beneficiada pelas diretrizes estabelecidas em parceria com a USAID. Com o pretexto de combater discursos "antidemocráticos", jornalistas e influenciadores de direita tiveram contas derrubadas e conteúdo bloqueado, alterando significativamente o equilíbrio da disputa eleitoral. Esta semana a Folha de São Paulo, que pra mim se transformou numa vergonha, disse em seu editorial que a medida de Trump de parar as atividades da USAID, “vai afetar diretamente a mídia independente”. Ora! Se a mídia é independente, porque precisa do dinheiro de governos? Palhaçada.

A atuação da USAID no Brasil segue um padrão já conhecido em outros lugares: São um exército de milhares de funcionários agindo e mais de 40 países no mundo, com manipulação política por meio de ONGs, interferência em eleições e restrição da soberania nacional sob a justificativa de cooperação internacional.

O bilionário Elon Musk, que está comandando o Departamento de Eficiência Governamental, no Governo Trump, chamou a USAID de “organização criminosa” e defendeu seu fechamento.

Quero ver agora o que os nossos parlamentares vão fazer. O crime está feito, as vítimas abatidas, os assassinos e os mandantes descobertos. O que falta?  O Brasil reassumir o controle sobre suas políticas públicas, suas riquezas e sua soberania. Parem de espernear e ajam.

Rubens Nascimento é jornalista, com formação jurídica, Mestre-Maçom-GOB e ativista do Desenvolviimento.

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