EU NÃO AGUENTO MAIS
ESTE FAMIGERADO GERUNDISMO!
Na semana passada, fomos surpreendidos com uma atitude transloucada do governador de Brasília, Jose Roberto Arruda, em uma ação no mínimo escalafobética, o ilustre governador resolveu “demitir”, isto mesmo, “demitir” o gerúndio de todos os órgãos do Distrito Federal, por meio de decreto publicado no Diário Oficial daquele Distrito. Para justificar o fato de acabar com este tempo verbal por decreto, ele disse que o mesmo é usado como desculpas para ineficiência de seus assessores. Segundo ele, diante das centenas de reclamações que chegam todos os dias ao seu palácio, muitos funcionários respondem com frases do tipo: - “nós estaremos ligando”, “nós estaremos tomando providências”. Até secretários de estado respondiam assim às perguntas do governador.
Agora vamos ao que interessa. O Ilustre governador mostrou-se totalmente leigo nos conhecimentos de nossa gramática. Primeiro, ele errou de maneira berrante, ao tentar abolir o gerúndio e não o gerundismo na comunicação escrita e falada no Distrito Federal. Será que o nobre mandatário perdeu a aula, lá no ensino fundamental, que diz que o gerúndio nada mais é do que uma forma verbal conhecida como FORMA NOMINAL DO VERBO, juntamente com o infinitivo e o particípio. É chamada de forma nominal porque exerce também a função de nome. Esta forma nominal pode e deve ser usada para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra, ou para exprimir a idéia de progressão indefinida. Concomitante com alguns verbos auxiliares, o gerúndio marca uma ação duradoura, com aspectos diferenciados. Veja alguns exemplos do bom uso do gerúndio:
- O verbo estar seguido de gerúndio indica uma ação durativa num momento rigoroso:
- Estavam todos DORMINDO
- Estavam todos DEITADOS
- O verbo vir, seguido de gerúndio, expressa uma ação durativa que se desenvolve gradualmente em direção à época ou ao lugar em que encontramos
- A Gramática não explica como tal expressão VEM SENDO USADA pelos brasileiros.
- A luz de um novo dia VAI CHEGANDO devagar.
Existem infinitos exemplos de boa utilização do gerúndio, porém o seu uso indiscriminado e de forma incorreta, é que criou o fenômeno da endorréia (gerundismo), basta para isto atender aos operadores de tele marketing em geral. O gerundismo é uma moléstia verbal transmissível. Talvez por este fato, o governador Arruda tentou com uma medida profilática exterminar o gerundismo, porém aplicou o remédio no paciente errado.
Em suma, eu sei que a matéria de português não é uma das mais salutares para se estar dissertando nas páginas de um jornal. Porém isto se faz necessário, haja vista que o vestibular se aproxima e é interessante, principalmente para os futuros calouros estarem focados (lá vou eu usando mais uma palavra da moda) nestas metamorfoses lingüísticas, tendo em vista que a gramática escrita por si só é hermética e clássica, não permitindo a sua de modificação tão facilmente. Agora por favor, não me venham com expressões do tipo – “Vamos ESTAR ENVIANDO a sua fatura, para que o senhor possa ESTAR QUITANDO o seu débito junto a nossa empresa, é assim ESTAR TENDO o seu crédito restituído”. Se a fala for esta, além de desligar o telefone na cara do negociador, prefiro que meu nome seja incluso no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC), pois eu não agüento mais este famigerado gerundísmo e não gerúndio como disse o governador arruda.
Um forte abraço e até a próxima oportunidade, se me deixarem é claro!
Máximo Nobre
nobreseis@hotmail.com
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)