Sexta-feira, 27 de abril de 2018 - 22h32
247 - O filósofo e professor da USP Vladimir Safatle afirmou nesta sexta-feira, 27, em Paris, que não haverá eleições presidenciais legítimas em outubro. "Existem várias maneiras de não haver eleição. O Brasil teve eleição até 1930, sem eleição. A gente criou essa figura: eleição sem eleição. Uma eleição no interior da qual você tira os candidatos que vão contra o interesse de quem 'deve' ganhar", analisa Safatle em entrevista à RFI, em Paris.
Segundo o filósofo, a palavra que define politicamente o Brasil neste ano de eleições é desagregação. "O Brasil é um país em desagregação, sua experiência de constituição de uma democracia liberal minimamente sustentável foi um fracasso, eu diria que o pacto que produziu uma nova República mostrou completamente o seu esgotamento", analisa.
"O que nós vivemos agora é um momento de degradação institucional, dos atores políticos e de brutalização dos conflitos sociais, que tende, a meu ver, a piorar", acrescenta.
Safatle afirma que nota que a percepção geral das pessoas sobre o Brasil é de "espanto". "Todo mundo [fora do Brasil] se pergunta o que de fato aconteceu. Não era uma análise só do governo brasileiro, era uma análise partilhada por todos, de que a economia e o processo democrático brasileiros eram sólidos, e tudo isso se mostrou completamente ilusório", diz o filósofo.
O pesquisador da USP aponta também a participação política do Poder Judiciário no Brasil. "A partir do momento em que advogados de defesa do Lula foram grampeados pela Justiça, uma coisa absolutamente impensável, o Estado não pode grampear advogados, a partir do momento que as conversas dele com a presidente da República foram grampeadas e divulgadas no mesmo dia, horas depois, em cadeia nacional, o processo se transformou num processo simplesmente político", afirma.
Bolsonaro é "candidato feito para não ganhar eleição"
"Bolsonaro é como a Marine Le Pen na França, é um candidato feito para nunca ganhar", analisa o filósofo. "A função dele não é ganhar. A função dele é outra. A função dele é jogar a pauta do debate à direita e, segundo, é criar uma situação na qual qualquer um que for com ele para o segundo turno, ganha", diz Safatle.
"Como no caso do Macron na França, alguém que não tinha base política nenhuma, passa para o segundo turno com uma anti-candidata [Marine Le Pen°, e ele ganha", conclui.
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