Quarta-feira, 11 de outubro de 2006 - 21h00
O povo votou. Cumpriu com seu dever. Exerceu a cidadania. Enfim, fez-se a vontade do povo. Até aí tudo muito bom, tudo muito bem.
Vamos entender, a partir das definições do Aurélio, o que é vontade: Faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticado em obediência a um impulso ou a motivos ditados pela razão. Sentimento que incita alguém a atingir o fim proposto por esta faculdade; aspiração; anseio; desejo: Capacidade de escolha, de decisão: Deliberação, decisão ou arbítrio que parte de entidade superior. Ânimo firme; firmeza, coragem. Capricho, fantasia; veleidade. Desejo, decisão ou determinação expressa. Empenho, interesse, zelo. Disposição do espírito, espontânea ou compulsiva. Necessidade fisiológica.
Vontade segundo Nietzsche: impulso fundamental inerente a todos os seres vivos, que se manifesta na aspiração sempre crescente de maior poder de dominação. Segundo Rousseau: a vontade da sociedade expressada através das suas instituições, mesmo que, eventualmente, nem todos estejam de acordo com elas. Segundo Kant: vontade movida pela pura noção de dever, excluídos quaisquer outros motivos.
Vamos agora a definição da palavra obrigatório, ainda, segundo o Aurélio: Que envolve obrigação; que obriga. Obrigado. Forçoso, inevitável. Imposição, preceito. Dever; encargo; compromisso.
O voto no Brasil é obrigatório. A vontade, obrigatória, de muitos, é realizada pela vontade de poucos (os que fazem a Leis), que obrigam os demais a terem "vontade" de votar, por pura coincidência, nos que fazem a Leis. Daí, se sou obrigado, faço de qualquer jeito, mesmo sabendo das consequências, enfim, minha tendência é me livrar da obrigação. E é nessa condição que muitos votaram nessa eleição, inclusive eu.
Concluída a primeira fase das eleições, uma vez que haverá segundo turno em alguns Estados e para a presidência, o que mais ouvi e continuo ouvindo é que a vontade do povo foi feita. Isso é a conclusão dos políticos, claro, e da mídia. Essas mesmas pessoas que declaram que a vontade do povo feito, mesmo através da obrigatoriedade do voto, ironizam essa soberania popular, uma vez que dizem não entender porque tantos políticos acusados de alguma desvio de caráter estão retornando, muitos de maneira heróica, à vida pública, e o que é pior, nas mesmas regras que permitiram os tais desvios e sem nenhuma perspectiva de alteração nessas regras. Pessoas importantes, acusados de coordenar, criar, planejar, influenciar a esses desvios. Apesar da massiva onda de "denunciamentos".
O mais incrível é que a conclusão, quanto analisam nessa perspectiva, é que o povo é o responsável, pois votam assim porque querem, pois as notícias foram fartamente divulgadas por todos os meios de comunicação. Chegam a declarar que cada povo tem os político que merecem. Será? Será mesmo?
Perguntei a muitas pessoas se já tinham candidatos, quando fui anular meu voto, fiz a vontade da Lei, afinal eu votei, tenho o meu comprovante de votação. As respostas foram: "ainda não", "ainda estou vendo", "vou votar em fulano porque já ouvi falar dele", "em fulano, porque todo mundo lá de casa vai votar", e claro, outros disseram que já tinham decidido. Porém, não souberam falar sobre as propostas de seus candidatos. Ou seja, não ouvi de nenhum eleitor decidido que o motivo de seu voto era em função do trabalho que o candidato havia realizado e realizaria, caso fosse eleito, ou mesmo pelo seu caráter. Vale ressaltar, que em momento algum, falei para os indecisos anularem seus votos. Afinal, isso é um problema meu.
Não aceito que tudo que aconteceu nessa eleição seja somente a vontade do povo, como querem me fazer acreditar. O povo não pode ser responsabilizado pela forma como as coisas acontecem no Brasil. Em primeiro lugar não recebem a educação que deveriam para desenvolver o senso crítico tão necessário para o desenvolvimento de uma sociedade. Vamos aos fatos (extraídos da revista Exame nº 19, de 27/09/2006): o Brasil apresenta os piores indicadores na área de educação comparado a países emergentes que figuram como seus competidores internacionais. Taxa de analfabetismo (maiores de 15 anos), 13%, e a melhor do mundo, 0%, Canadá. Média de anos de escolaridade, 5 anos, e a melhor do mundo, 12 anos, Estados Unidos. Participação de mão-de-obra especializada na força de trabalho (técnicos e profissionais com curso superior), 9%, e a melhor do mundo, 38%, Suécia. Repetência no ensino fundamental, 21%, e a melhor do mundo, 0,2%, Coréia. Qualidade de ensino de ciências e de matemática (em uma escala de 1 a 7 pontos), 2,9%, e a melhor do mundo, 6,5, Cingapura.
Considerando que o emprego do século XXI requer habilidades mentais, exige raciocínio rápido, capacidade de interpretação e de análise da informação, atributos que só são adquiridos com ensino de qualidade, segundo a Unesco, o Brasil demorará mais de 30 anos para alcançar o nível educacional que as maiores economias têm hoje. Enquanto isso não acontece, nem tem previsão de iniciar, cerca de 75% dos adultos brasileiros têm alguma deficiência para escrever, ler e fazer contas, o que acarreta um efeito devastador sobre a sua capacidade de se expressar, segundo a matéria da Exame. O presidente do grupo Ultra desabafa que "o que está acontecendo com as nossas escolas é estarrecedor". E diz ainda, "as crianças ficam oito anos nas salas de aulas e saem tão ignorantes quanto entraram. Como elas vão disputar um lugar no mercado?." E eu acrescento, como elas vão poder votar conscientes? Como vão identificar se uma notícia sobre política ou político é verdadeira? Como vão poder analisar se a notícia é indutora ou trata-se de uma informação sobre os fatos, como de fato são? Cada veículo tem a sua forma de ver as coisas. E cada brasileiro acredita de acordo com as suas conveniências ou pela sua ignorância, afinal, são 75% dos eleitores que não compreendem muito bem o que está se passando. Isso é voto consciente?
Como podem atribuir toda a responsabilidade ao povo brasileiro a volta de certos políticos a tão sonhada impunidade parlamentar? Muitos se elegem por indução. Por acaso é responsabilidade nossa credenciar, para participar de eleições, candidatos presos, por exemplo? Não é justo que a não mídia abra espaços para discutir as razões estruturais que constroem as condições para fatos como esses aconteçam. Simplesmente dizem que a culpa é nosso, do povo. A mídia acha anormal que um miserável que recebe alguma assistência governamental vote ao contrário. E se não fosse obrigatório? Será se o povo votaria nessas pessoas? Ou teria liberdade para votar em que quisesse? Com esse nível de escolaridade acho muito difícil. Será que os miseráveis brasileiros ainda recebem algum benefício somente porque o voto é obrigatório? Acredito piamente que sim. Está mais que provado que não há nenhuma vontade política de desenvolvimento humano, na atual conjuntura brasileira.
Como desejam crescimento de mais de 3% se não há investimentos no desenvolvimento do povo? É o que explica os números a seguir: o Brasil gasta, por aluno/ano do ensino infantil U$ 930,00, do ensino fundamental, U$ 870,00, do ensino médio, U$ 1.100,00 e do ensino superior, 10.000,00. Nos EUA gasta-se, respectivamente U$ 7.700,00, U$ 8.300,00, U$ 9.600 e U$ 24.000,00. Os EUA é o país mais rico por acaso? E o Brasil vai crescer mais de 4% da forma que está? Detalhe, dos gastos com o ensino superior no Brasil, 95% serve para pagamento de professores e funcionários. Aos fatos: apenas 12 universidades públicas brasileiras, das 220 existentes, fazem pesquisa. Na verdade os gastos com educação no Brasil são altos, o problema é como o dinheiro é distribuído, o que causa uma distorção universidades ricas e escolas básicas à míngua, ainda segundo à Exame.
Cristovão Buarque foi muito criticado por ser um candidato de um problema só. A mídia que cobra do povo que não votem nos políticos corruptos não disseminam, não cobra, assim como a punição aos corruptos, os verdadeiros problemas do Brasil, as causas que levam o povo a votar errado e obrigado. Vocês acham que sem investimento em educação haverá políticos diferentes? Preparados? De onde vocês pensam que saem os políticos? Os professores? Os cidadãos? Desse sistema educacional falido que temos hoje. O que é que estamos fazendo para mudar isso? Brincando de mudança de políticos. Você acredita mesmo que houve renovação? É impressionante como dependemos da política para ter alguma esperança. Que país é esse?
Qual o eleitor que assimila as propostas do Cristóvão Buarque? Principalmente quando ele fala que não conseguirá resolver o principal problema do Brasil em quatro anos? Quem entende o que é um plano de Estado para o Brasil? Resultado: teve menos de 2% dos votos. Estamos preparados para votar? A mídia contribui realmente para preparar o eleitor para votar? Falar sobre as falcatruas dos políticos, "incessantemente", é suficiente para o eleitor votar consciente? Não seria dever da mídia, principalmente da mídia, apoiar o candidato como o Cristóvão Buarque que, em princípio, teria um Plano de Estado para o Brasil?
Suponhamos que o Cristovão Buarque fosse eleito. Considerando que o Brasil não dispõe de profissionais qualificados para garantir o suprimento de massas de pessoas qualificadas na produção, em curto prazo, você acredita que o Brasil está preparando uma massa de profissionais qualificados para atuar no setor público, que compreenda e se comprometa com as ações, que um presidente como o Cristovão Buarque, queira adotar para desenvolver o Brasil? Ou estamos todos querendo nos salvar? O que acontece quando todos estão querendo se salvar? Há futuro previsível? Claro que há. O futuro do caos. Do desemprego. Da ignorância. Do subdesenvolvimento. Não devemos esquecer que o Brasil cresceu apenas 1,2%, em relação ao primeiro semestre de 2005. A Argentina, o Peru, e o Chile, cresceram, respectivamente, 7,9%, 6,9% e 4,5%. Isso é fato. Você já sabe por que não cresceremos além de 4%? Há pouco, o Ministro Furlan declarou que dá para crescer 6%. Depois voltou atrás e disse que o crescimento será de 3,5%. Talvez porque ele tenha lido a Exame e descobriu que o Brasil não fez reformas, aumentou os tributos, piorou a justiça e a educação, aumentou a burocracia, apesar de ter reduzido a pobreza, segundo o IBGE. A pergunta é: por quanto tempo as pessoas que sentiram melhorar a qualidade de suas vidas se manterão dessa forma? Qual a perspectiva de outras pessoas terem suas vidas melhoradas? Como isso foi possível sem melhorar o nível de emprego? Com distribuição de renda de forma assistencial, como principal vetor de melhorar vida de pobre, é um avanço sustentável? O que mais ouvi os candidatos prometerem foi a ampliação de suas ações assistenciais. Pergunto novamente: se o voto não fosse obrigatório haveria tantas despesas em assistencialismo? Será que os candidatos só fazem assistencialismo porque não sabem fazer outra coisa? Onde é que eles aprenderam isso? Onde é que ensinam outra forma de atuar como político? Perguntas de respostas difíceis ou talvez sem respostas.
Pobres professores, pobres candidatos, pobres de nós. Somos produtos do mesmo meio, para não dizer farinha do mesmo saco. Por isso somos conduzidos de acordo com os interesses de um monte de gente, instituições públicas e privadas que produzem o meio. Estamos num círculo vicioso. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Isso quer dizer que a culpa é nossa de eleger e reeleger corruptos. Todos os poderosos fizeram suas partes, e nós fizemos a nossa, apesar de termo o "poder", afinal, estamos numa democracia, apesar do voto obrigatório, mas fizemos errado, de forma insconsciente. Ouçam a mídia dizer que não entendem porque muitos voltaram. Política é assim mesmo, é uma caixinha de surpresa. Ninguém ousa criticar, permanentemente, as Leis soberanas que permitem a ignorância do povo e a impunidade dos ladrões.
É isso. Resta-me paciência para esperar as coisas acontecerem. Resta-me paciência para fazer coisas e esperar resultados nem sempre muito claros e rápidos, como por exemplo, me preparar para votar nas próximas eleições, a de 2008, para prefeito e vereador.
Se pelo menos, até lá, o TSE adotasse que, para um cidadão brasileiro pudesse ter seu registro de candidato aprovado, além dos processos, das denúncias, tão comuns nesse meio, deveria apresentar e registrar no TSE um PROJETO DE MANDATO, formulário próprio do TSE para cada cargo político. O TSE, por sua vez, divulgaria à sociedade os candidatos e seus PROJETOS DE MANDATO. E nem precisava de santinhos, faixas, pois a escolha seria por projeto e não, necessariamente, por pessoa, apesar de ser necessário um breve currículo do candidato, para que o eleitor pudesse fazer a análise do que seria feito e se o candidato teria requisito mínimo para fazê-lo, daí decidir seu voto.
No final do mandato, o candidato teria que prestar contas no TSE sobre a execução do seu projeto, baseado nos procedimentos da LEI DE RESPONSABILIDADE POLÍTICA. Agora a utopia: o candidato que não cumprisse seu projeto seria punido, com no mínimo, inelegibilidade para a próxima eleição.
Uma solução relativamente simples, em princípio. Mas teria efeitos como: acabaria com as bravatas, divulgaria apenas o que está no seu projeto, acabaria com as promessas de verdadeiros milagres, acabaria com o ridículo horário eleitoral, reduziria o número de candidatos, haveria pelo menos um critério para ser político, entre inúmeras vantagens. Finalmente, o povo teria uma referência de verdade para avaliar o candidato: pelas suas intenções oficiais registradas no Tribunal Superior Eleitoral e pela sua capacidade de executá-las.
Vale a pena sonhar.
Se preparar para agir e agir e ter paciência para esperar os resultados é MUDAR PARA VIVER MELHOR.
CONVITE: Se vovê está no Orkut, cadastra-se na comunidade MUDAR PARA VIVER MELHOR, e contribua com a disseminação dessa filosofia de vida. O endereço é http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4897543.
Fonte: Sérgio Ramos
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