Sexta-feira, 5 de janeiro de 2018 - 06h11
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
O aumento da criminalidade em Angra dos Reis, na Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, tem prejudicado o funcionamento e manutenção das sirenes que integram o Plano de Emergência Externo (PEE) da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (Cnaa), localizada naquele município, e que abriga as usinas nucleares Angra 1, 2 e 3, esta ainda em construção.
As comunidades mais violentas estão situadas na região do Frade, a um raio de cinco quilômetros da Cnaa. Um morador da comunidade Sertãozinho do Frade, que não quis se identificar com medo de represálias, confirmou que os habitantes do entorno das usinas estão “passando um perrengue [dificuldades] muito complicado. Perdemos, praticamente, a nossa liberdade. A pista ficou toda fechada. É um momento muito difícil”.
No final do ano passado, as famílias permaneceram dentro das casas e não puderam comemorar o Réveillon, acrescentou a fonte, completando que as sirenes do plano de segurança da Central Nuclear já ficaram desligadas mais de seis meses.
Compete ao Exército fazer o controle de trânsito e evacuação das pessoas nessa área, em treinamentos de emergência para casos de acidente nuclear. Mas, com as dificuldades impostas pelos criminosos armados, torna-se complicado acionar as sirenes do Plano de Emergência da Central Nuclear porque, segundo moradores, as pessoas não conseguem fazer a manutenção, distribuir os calendários, nem fazer as reuniões nas comunidades.
Já o ex-presidente da Associação de Moradores e Amigos do Morro da Constância, Silvio Ribeiro Sobrinho, tem opinião contrária. Ele afirmou que a sirene da usina nuclear instalada naquela comunidade não está sendo ameaçada. “Está funcionando, os caras estão vindo aqui fazer a manutenção, sem problema”.
Confronto
O superintendente de Segurança Pública de Angra dos Reis, major Francisco de Assis Canella Seixas, informou que a Central Nuclear efetua diariamente testes silenciosos das sirenes e uma vez por mês, a cada dia 10, é feito um acionamento da parte sonora dos equipamentos.
Assegurou que não está havendo impossibilidade técnica de manutenção das sirenes do Plano de Emergência das usinas. Os problemas foram localizados em dias de confronto com criminosos armados que ocupam, principalmente, duas comunidades próximas à Central Nuclear, onde há sirenes. Uma delas é conhecida como Morro da Constância; a outra é a comunidade Sertãozinho do Frade.
Nesses locais, o major Seixas disse que o tráfico se tornou bem presente e ostensivamente armado. “Nos últimos quatro anos, houve um recrudescimento da marginalidade armada em alguns pontos da cidade, o que não havia até pouco tempo”. Por isso, acrescentou que os técnicos das usinas evitavam esses dias de confronto “e verificavam junto à Polícia Militar se haveria alguma operação, justamente para poder fazer a manutenção mais tranquilos”.
Defesa Civil
O secretário de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Angra dos Reis, Alexandre Giovanetti Lima, informou que - no tocante à questão das sirenes da Defesa Civil municipal, destinadas à prevenção de riscos de deslizamentos e acidentes - o contrato de manutenção era competência do estado. “Na verdade, o estado parou de funcionar já há quase dois anos”, disse.
Em função disso, o município tomou para si essa decisão, junto com uma coordenação do Ministério Público. “Até por uma questão de responsabilidade, entendemos que a resposta local não pode falhar de forma alguma”, afirmou Giovanetti Lima. A prefeitura de Angra dos Reis já está licitando a retomada do funcionamento das sirenes, cujo processo deve findar no final deste mês.
Giovanetti esclareceu que embora tenha havido uma elevação do índice de criminalidade no município, a Defesa Civil local não tem encontrado obstáculos em relação ao funcionamento das sirenes. Atualmente, 20 sirenes estão desativadas e devem voltar a operar em fevereiro. Há previsão de que, ao longo do ano, sejam instalados mais dois ou três pontos.
O secretário admitiu que alguns pontos foram tomados por um “poder paralelo”, mas reiterou que, enquanto Defesa Civil, não tem encontrado obstáculos para subir nas comunidades carentes e reativar as sirenes.
Eletronuclear
A Eletronuclear, estatal do grupo Eletrobras responsável pela administração e operação das usinas nucleares, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as oito sirenes que integram o Plano de Emergência Externo (PEE) da Central Nuclear são instaladas pelo Ministério da Integração e pela Defesa Civil Nacional, cabendo sua operação à Defesa Civil do estado.
Reconheceu, contudo, que duas dessas sirenes estão em áreas de violência, onde técnicos da Eletronuclear fazem a manutenção, desde que haja condições próprias para isso.
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