Domingo, 18 de março de 2012 - 22h04
Do G1, em São Paulo
“O mercado pratica 10%. É o normal, é o praxe. Aí tem uma negociação melhorzinha e faz pra 15%". A frase acima mostra como funciona o esquema de propina que acontece na saúde pública brasileira entre empresários e funcionários públicos. O repórter André Luiz Azevedo, do Fantástico, trabalhou disfarçado por dois meses como responsável pelo setor de compras do hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mostra como é feito a oferta de suborno para fraudar licitações de saúde pública. Clique AQUI e assista reportagem do Programa Fantástico da TV Globo.
Três das empresas envolvidas são investigadas pelo Ministério Público por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas R$ 500 milhões só em contratos feitos com verbas públicas.
Uma licitação correta termina com a abertura dos envelopes das propostas para se saber quem é o vencedor. Em uma licitação fraudada, os envelopes acabam lacrados, porque já se sabe quem vai levar. A propina chega a atingir milhares de reais.
A Toesa Service, uma locadora de veículos, foi convidada para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. “Cinco. Cinco por cento. Quanto você quer?”, pergunta de imediato o gerente Cassiano Lima. Falando em um código em que a palavra "camisas" se refere à porcentagem desviada, ele aumenta a propina. “Dez camisa [sic], então? Dez camisa?".
David Gomes, presidente do conselho da Toesa, garante que o golpe é seguro e, o pagamento, é realizado em dinheiro ou até mesmo em caixas de uísque e vinho. A Toesa ganharia R$ 1.680 milhão pelo contrato.
"Eu vou colocar o meu custo, você vai falar assim: ‘Bota tantos por cento’. A margem, hoje em dia, fica entre 15 e 20", explicam Carlos Alberto Silva e Carlos Sarres, diretor e gerente da Locanty Soluções e Qualidade, convidada para a licitação de coleta de lixo hospitalar. "Nós temos hoje, aproximadamente, três mil clientes nessa área de coleta", afirmam.
A lei brasileira prevê concorrência mesmo em licitações feitas em regime emergencial, mas isso não inibe o desvio de dinheiro público. As fornecedoras agem em conjunto e aquelas que fazem parte do esquema entram com orçamentos mais altos que o da primeira empresa nas licitações. Entram para perder. "Eu faço isso direto. Tem concorrência que eu nem sei que estou participando!", comenta Renata Cavas, gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções, empresa chamada para a licitação de contratação de mão de obra para jardinagem, limpeza, vigilância e outros serviços que ganharia R$ 5.200.000 se a licitação tivesse existido.
O dinheiro do suborno é espalhado por vários itens da proposta vencedora. Assim, a fraude fica escondida da fiscalização. Jorge Figueiredo , representante comercial da Bella Vista Refeições Industriais, explica como funciona. "Tem gente que não conhece alimentação e diz assim: 'Figueiredo, eu quero 30%.' Isso não existe em alimentação. Em alimentação, nós temos que considerar a quantidade diária, colocar mais um valor ali em cima, que no montante do mês a coisa vai crescer. Então o que eu vou fazer? Eu vou te apresentar os preços e você vai dizer: 'Figueiredo, tu vai botar mais xis aí em cima.' Deu para entender? Está claro?", continua.
O dono da Rufolo diz à reportagem, que está acostumado a fraudar licitações, e a gerente Renata comenta que o fraude nas licitações é "ética de mercado". "No mercado, a gente vive nisso. Eu falo contigo que eu trago as pessoas corretas. Eu não quero vigarista, não quero nunca".
Fonte: G1
Vídeo: TV Globo
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