Sábado, 8 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Polícia

FHC celebra queda de Dilma e pede diálogo PT-PSDB


FHC celebra queda de Dilma e pede diálogo PT-PSDB - Gente de Opinião

247 – Principal liderança intelectual do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o principal ideólogo da derrubada da presidente Dilma Rousseff, num impeachment sem crime de responsabilidade – o que lhe custou uma má reputação nos meios acadêmicos, que o fez fugir de um encontro de intelectuais em Nova York, onde seria alvo de escrachos e protestos (leia aqui).

Realizado o trabalho sujo, que hoje transforma o Brasil num país bem menos respeitado do que antes, e que vive um momento triste, segundo o papa Francisco (leia aqui), FHC agora propõe um diálogo PT-PSDB, para que a ira popular não se volte contra toda a classe política.

Confira, abaixo, seu artigo deste domingo:

Triste fim

Fernando Henrique Cardoso

Viramos uma triste página. Melhor teria sido que o governo Dilma Rousseff tivesse competência política e administrativa para chegar ao final. O que sobrou? Ilusões perdidas de quem acreditou no modo PT de governar, economia em recessão, desemprego em massa, escândalos, uma onda de desencanto. Será a ex-presidente a única responsável? Não. Mas ela foi incapaz de manter as rédeas do governo e deixou evaporar as condições de governabilidade. Juntou-se a isso o crime de responsabilidade.

Uma pessoa eleita por 54 milhões de votos é derrubada, sendo inocente, como repisou a defesa petista? Houve um “golpe congressual” pela perda da maioria, como nos sistemas parlamentaristas? Tampouco. Em sua emotiva, mas racional argumentação, a doutora Janaina Paschoal sumarizou com pertinência o desrespeito às normas constitucionais.

O impeachment requer fundamento jurídico (um desrespeito continuado à Constituição), mas é também um processo político (a falta de sustentação congressual e popular) e não tem necessariamente consequências capituladas no Código Penal. Foi jogando com este último aspecto que a presidente Dilma apelou retoricamente para sua “inocência” (não roubei, não tenho conta no exterior, etc.).

Diga-se em sua homenagem que, na parte lida do discurso perante o Senado e em boa parte da arguição, ela se mostrou “uma guerreira”. Se a guerrilheira do passado não era tão democrática como afirma, isso não apaga a nobreza de sua resistência ao arbítrio e à tortura. Tampouco, entretanto, sua combatividade justifica as “pedaladas fiscais”, os gastos não autorizados pelo Congresso, as centenas de bilhões de reais destinados à maciça transferência de renda em benefício de empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES e subsídios fiscais, para não mencionar o fato de que presidia o conselho de administração da Petrobras quando a empresa era assaltada em benefício de seu partido e da “base aliada”.

A presidente Dilma Roussef pagou com o impeachment o preço de sua teimosia e da visão voluntarista que se consubstanciou na “nova matriz econômica”. E pagou também pela má companhia. Se a presidente não foi autora dos malfeitos, foi beneficiária política deles.

Foram tantos os implicados nesta rede que, aos olhos do povo, ficou condenada toda a “classe política”. A ruína do governo petista provoca o desabamento do atual sistema político. Os erros vêm desde quando os partidos social democratas (grosso modo, PSDB, PT, PSB e PPS) foram incapazes de inibir suas idiossincrasias e de conviver, divergindo quando fosse o caso.

O PT, herdeiro da visão de um mundo dividido em classes e organizado em torno do eixo direita-esquerda, encarou os liberais-conservadores, especialmente o PFL, como se fossem uma direita reacionária. Ao PSDB quis pintar como um partido da elite conservadora.

A fatal decisão do primeiro governo Lula de se aliar aos “pequenos partidos” e não ao PMDB — que representava o “centro” — e transformar o PSDB em “partido inimigo”, deu origem ao mensalão, que posteriormente encontrou réplica mais ampla no petrolão.

O PT de Lula abriu assim espaço para o oportunismo, o corporativismo, dos vários “centrões”. O atual amálgama dos ultraconservadores em matéria comportamental com os oportunistas, clientelistas etc., forma o que eu denomino de “o atraso”. Meu governo e o de Lula, no início, ainda foram capazes de dar rumo ao país, o que forçou o atraso a jogar como coadjuvante.

Mais recentemente, entretanto, houve uma inversão: o atraso passou a comandar as ações políticas, tendo Eduardo Cunha como figura exponencial. O mal estar na sociedade, somado às informações sobre desmandos e corrupções que circulam em uma sociedade livre e o desenvolvimento de instituições estatais de controle externo, colocou em xeque o arranjo político institucional: o povo e as instituições reagiram e abriram espaço para a mudança de práticas.

Estamos assistindo, e não só no Brasil, aos efeitos das grandes transformações econômicas e tecnológicas. Sociedades estruturalmente fragmentadas por uma nova divisão do trabalho, culturalmente heterogêneas, com muitas dificuldades para manter a coesão social, com ampliação gigantesca da acumulação de capitais e interrogações sobre como oferecer empregos e reduzir a desigualdade.

Nesse tipo de sociedade as distinções de classe se mesclam com outras formas de identificação social. Nelas, paradoxalmente, os partidos perdem espaço e as narrativas capazes de juntar massas dispersas suprem o vazio criado na trama política.

Por isso, o slogan: “É golpe”. O resto, as ligações efetivas dos petistas com interesses vários, os resultados de suas políticas e a identificação dos grupos que delas se beneficiaram, fica obscurecido pela força eventual da narrativa.

O desafio das lideranças renovadoras será o de criar, mais do que uma “narrativa”, propostas que desenhem caminhos para a nação. Teremos capacidade, coragem e iniciativa para rever posturas, caminhos e alianças?

Terá o PT disposição para uma verdadeira reconstrução e para o diálogo não hegemônico? E os demais partidos, inclusive e principalmente o PSDB, serão capazes de aglutinar a maioria, apesar de inevitáveis divergências?

O que vimos nas semanas passadas foi o rufar de tambores para a construção de um discurso: uma presidente inocente sendo destronada por golpistas ansiosos pelo poder. Mau começo para quem precisa se reinventar. A despeito disso, temos desafios comuns.

Ou bem seremos capazes de reinventar o rumo da política, ou novamente a insatisfação popular se manifestará nas ruas, sabe-se lá contra quem e a favor do quê. E não basta circus, belas palavras, também é preciso oferecer panis, um rumo concreto para o país e sua gente.

Gente de OpiniãoSábado, 8 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Polícia apreende 30 mil maços de cigarros contrabandeados em operação na fronteira de Rondônia

Polícia apreende 30 mil maços de cigarros contrabandeados em operação na fronteira de Rondônia

Durante a Operação FRONTEIRA SEGURA, voltada ao combate de crimes transfronteiriços na Fronteira Central do Estado de Rondônia, uma guarnição

Receita Federal e Polícia Federal participam de operação de combate a práticas ilícitas no comércio de gêneros alimentícios destinados à Venezuela

Receita Federal e Polícia Federal participam de operação de combate a práticas ilícitas no comércio de gêneros alimentícios destinados à Venezuela

A Receita Federal e a Polícia Federal deflagraram, na manhã desta terça-feira (18/02), a operação PUBLICANOS, que tem por objetivo apurar e combater

PF autoriza concurso para provimento de 1.000 novos cargos

PF autoriza concurso para provimento de 1.000 novos cargos

A Polícia Federal anunciou, nesta sexta-feira (14/02), a realização de um novo concurso público para o recrutamento e seleção de 1.000 novos policia

CV interligado: faccionado preso em Porto Velho é fugitivo do Acre e queria matar policiais em RO

CV interligado: faccionado preso em Porto Velho é fugitivo do Acre e queria matar policiais em RO

Um fugitivo do Complexo Penitenciário de Rio Branco (AC) e um foragido da Justiça foram presos na terça-feira (11) em Porto Velho, em apoio a uma op

Gente de Opinião Sábado, 8 de março de 2025 | Porto Velho (RO)