Domingo, 5 de dezembro de 2010 - 10h21
Mauri König
Gazeta do Povo
O impacto das ações policiais nos morros do Rio de Janeiro levou as autoridades de segurança pública a voltarem os olhos para o outro extremo do país. A extensa faixa fronteiriça (16,8 mil km, dos quais 44% de fronteira seca e 56% de rios, lagos e canais) é vulnerável à entrada de drogas e armas para o crime organizado nos grandes centros urbanos. Principal articulador da retomada do Complexo do Alemão, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, diz que as fronteiras têm de ter um melhor policiamento, pois é por ali que entram as drogas e as armas que abastecem as facções criminosas do Brasil.
No caso do narcotráfico, o avanço se deu primeiro pela condição geográfica do Brasil, depois pelo importante mercado consumidor em que se converteu. Por um bom tempo o país não passava de corredor para que a cocaína da Colômbia, do Peru e da Bolívia chegasse à Europa. Quem trabalha na segurança pública sabe – ou deveria saber – que invariavelmente todo território que se torna rota do tráfico um dia acaba virando também mercado consumidor. Assim, não tardou e parte das drogas começou a ser vendida nas principais cidades brasileiras. Portanto, o maior desafio é estancar os canais de entrada.
O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) está recolhendo assinaturas no Senado para criar a CPI das Fronteiras, com o objetivo de investigar a entrada de armas e drogas no país. O controle fronteiriço não é só um problema brasileiro, como revela a relação conflituosa entre Estados Unidos e México.
Autoridades americanas estimam que 90% da cocaína que entra nos Estados Unidos cruzam a fronteira terrestre com o México e 70% desse total sai da Colômbia pelo Pacífico, 20% pelo Atlântico e 10% pela Venezuela e Caribe. A fronteira entre os dois países têm 3.141 quilômetros de extensão, entrecortados por centros urbanos e áreas desérticas. Os fluxos ilegais são constantes. Dos Estados Unidos saem armas e dinheiro para o México, e na mão inversa, entram drogas e imigrante ilegais em território americano. Armamento entra por 17 cidades e 3 portos
O mercado mundial ilícito de armas de fogo movimenta até US$ 320 milhões por ano, isso é, 20% do mercado lícito, segundo cálculos do Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime (Unodc). No caso brasileiro, a Polícia Federal (PF) calcula que 95% das armas de grosso calibre usadas por organizações criminosas entram pelas fronteiras (outros 5% são obtidos em assaltos a quartéis e empresas de segurança). Em 2009, a PF identificou 17 cidades de fronteira usadas como ponto de entrada de armas ilegais, além dos portos de Santos, em São Paulo, de Sepetiba, no Rio de Janeiro, e de Paranaguá, no Paraná.
Pelas fronteiras, cinco países sustentam o poder bélico do crime organizado brasileiro. Via Paraguai, as armas entram por Foz do Iguaçu e Guaíra, no Paraná, além de Bela Vista, Ponta Porã, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas e Mundo Novo, todas no Mato Grosso do Sul. Pela Bolívia, o armamento ingressa via Corumbá (MS), Cáceres (MT), Guajará-Mirim (RO), Brasiléia e Plácido de Castro (AC). Da Argentina, entra por Uruguaiana (RS), do Uruguai por meio de Quaraí e Santana do Livramento, e da Colômbia, por Tabatinga (AM).
O armamento pesado que entra no Brasil, numa triangulação com países como Paraguai, Bolívia, Uruguai e Argentina, é sobretudo de fabricação russa, norte-americana, israelense e austríaca.
As brechas existentes na fiscalização dos 170 quilômetros do Lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, fazem do Paraná a principal rota do tráfico de armas e munições de todo o Brasil.
Por ser uma porta de entrada de pistolas, cartuchos e fuzis, o estado contabiliza apreensões expressivas. Só no ano passado, a PF retirou de circulação 19.543 munições e 169 armas dos mais diversos calibres em todo o Paraná, o maior índice do país. Neste ano, a cena repete-se: no primeiro trimestre, a PF interceptou 8.846 munições, quase metade do total retido em 2009.
Fonte; Jornal Gazeta do Povo / Mauri König
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