Sexta-feira, 8 de dezembro de 2023 - 10h48
Após
inquérito do Ministério Público Federal (MPF) para apurar a regularidade da
construção de um muro que interditou o acesso ao rio Mamoré, em Guajará-Mirim
(RO), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) aceitou acordo com
associações dos ribeirinhos para uso do Porto dos Canoeiros. Com a medida,
ribeirinhos da Reserva Extrativista do rio Pacaás Novos, que utilizavam o Porto
da Primavera, bloqueado pelo muro, terão direito a pagarem valores menores para
integrarem a Associação dos Canoeiros, além de isenção de mensalidade aos
sócios-fundadores maiores de 60 anos de idade.
Os
associados poderão usar o Porto dos Canoeiros sem pagar taxas para embarque e
desembarque. A estrutura também poderá ser usada por pessoas não associadas,
mediante pagamento de taxa de embarque, desembarque e atracamento. O acordo foi
fechado com a concordância da Associação Primavera, que se juntou à dos
Canoeiros na elaboração desta alternativa de acesso.
O muro
foi construído pela Prefeitura Guajará-Mirim, por recomendação da Antaq, para
impedir o uso irregular do Porto Primavera, que era acessado pela avenida
Estevão Correia. A área fica na fronteira com a Bolívia. De acordo com o
inquérito, conduzido pelo procurador da República Raphael Luis Pereira
Bevilaqua, além do uso regular pelos ribeirinhos, foi identificada a ocorrência
de atividades clandestinas no porto interditado.
A Antaq
informou que a estrutura era utilizada, “majoritariamente, por operadores
bolivianos, que se valiam do local para realizar transporte de passageiros e
cargas à margem do controle efetivado no terminal portuário autorizado” pela
Agência, ao lado do Ponto de Fronteira Alfandegado (Porto Oficial) de
Guajará-Mirim. O uso irregular do porto também foi constatado por outros órgãos
federais e municipais, que o consideraram como clandestino.
Vale
notar, ainda, que a Antaq comunicou ao MPF que a construção do aludido muro não
trouxe prejuízos ao acesso às embarcações por ribeirinhos e seringueiros, em
função da existência do Porto dos Canoeiros. Para a Agência, a área reúne
condições para ser utilizada pelas comunidades tradicionais como ponto de apoio
para transporte de produtos e pessoas, ressaltando que tal ponto não pode ser
usado para fins comerciais, tampouco para o transporte de travessia com origem
ou destino a Guayaramerín-Bolívia.
Inquérito
Civil – A
investigação sobre a construção do muro foi iniciada, em 2021, pelo Ministério
Público do Estado de Rondônia (MPRO), que a encaminhou para o MPF após
identificar que se tratava de edificação às margens de rio fronteiriço,
portanto, de interesse da União. A pedido do MPF, o MPRO realizou vistoria no
local e ficou constatado que o Porto dos Canoeiros poderia suprir as necessidades
dos ribeirinhos. Com a solução alcançada a partir da atuação do MPF junto aos
demais órgãos e associações de ribeirinhos, o inquérito foi arquivado pelo
procurador da República Leonardo Trevizoni Caberlon. Entretanto, pode ocorrer o
desarquivamento, se necessário, caso o MPF identifique novas provas ou fatos
relevantes.
Porto de
Pequeno Porte – Também
dentro do inquérito, o MPF apurou que o Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes (Dnit) já iniciou a construção de uma Instalação Portuária
Pública de Pequeno Porte (IP4) na região. O Dnit informou que o objetivo da
nova estrutura é melhorar as condições de transbordo de embarcações de pequeno
porte, podendo atender aos anseios das populações ribeirinhas, com a ressalva
de que as atracações em tal plataforma serão temporárias (embarque e
desembarque de pessoas e mercadorias, sem atracações definitivas).
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