Terça-feira, 30 de maio de 2023 - 14h48
O
Ministério Público Federal (MPF) arquivou o inquérito civil instaurado em
fevereiro deste ano para apurar um novo episódio de conduta inadequada e
assédio moral cometido por Samuel Milet, docente do curso de Ciências Jurídicas
da Universidade Federal de Rondônia (Unir).
Na
ocasião, Milet relembrou — em sala de aula — um episódio ocorrido em 2016,
quando xingou uma pesquisadora que esteve naquela instituição de ensino para
uma palestra sobre questões de gênero. Na época, a Unir foi condenada pelo ato
e ele ficou 90 dias afastado de suas funções, em decorrência de um processo
administrativo. O professor chegou a rir do episódio, que envolveu comentário
homofóbico, ao relembrá-lo aos alunos, o que caracterizaria em tese a
reincidência da prática discriminatória.
O
docente ainda teria tentado intimidar uma aluna que presenciou a cena e
protestou no grupo de WhatsApp da turma contra a postura do professor em sala
de aula. Milet, segundo denúncia recebida, teria inclusive assediado moralmente
a estudante com ameaças verbais, chegando até mesmo a enviar-lhe mensagem
afirmando que estava com uma queixa-crime preparada para apresentar contra ela.
De
acordo com a procuradora regional dos Direitos do Cidadão substituta em
Rondônia, Daniela Lopes de Faria, a promoção de arquivamento do inquérito se dá
porque a Unir acatou integralmente todos os pedidos listados na Recomendação Conjunta 5/2023, assinada pelo MPF e pela
Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da OAB/RO, que foi expedida logo após a
instauração do inquérito civil em fevereiro.
O
MPF recebeu a informação de que, após a recomendação do MPF e da OAB/RO, a Unir
já está apurando os fatos envolvendo supostas práticas de atos
discriminatórios, intolerantes e de assédios morais, constantes da denúncia
encaminhada à sua reitoria, junto da recomendação conjunta. A universidade
afirmou ao MPF ainda que, caso seja comprovada a infração disciplinar, vai
promover a imediata penalização de seus autores.
A
Unir também informou ao MPF que vai intensificar sua atuação junto à Direção de
Gestão de Pessoas e a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão no sentido de ampliar
debates em toda comunidade acadêmica, por meio de eventos e publicações
diversas, sobre misoginia, homofobia, assédio moral e sexual, e os limites da
liberdade de expressão em face dos discursos de ódio.
Por
fim, a reitoria da Unir se comprometeu a se retratar publicamente, com ampla
divulgação, caso as denúncias relatadas sejam confirmadas em âmbito
disciplinar.
No
entanto, conforme está registrado no arquivamento do inquérito civil, nada
impede sua reabertura, diante de novas provas ou para investigar fato novo
relevante, dentro do prazo de seis meses.
Reincidência – No episódio ocorrido
em 2016, Milet valeu-se de sua autoridade como professor para professar discursos
de ódio, violência de gênero e homofobia numa gravação em áudio feita com sua
autorização, ao referir-se à advogada e pesquisadora Sinara Gumieri,
palestrante convidada para a Semana Acadêmica de Direito da Unir. O caso ganhou
grande repercussão na esfera pública, após ter sido, inclusive, pautado como
matéria do Fantástico, na TV Globo.
O
procurador da República Raphael Bevilaqua, que atuou no episódio de 2016,
lembrou que “a universidade é local para discussões dos mais variados temas,
principalmente em cursos como o de direito; no entanto, é fundamental
estabelecer limites éticos a essas discussões porque a liberdade de expressão
não pode ultrapassar a dignidade da pessoa humana e não pode ser utilizada como
fonte de degradação e propagação de preconceitos”.
Em 2019, a Unir
acabou condenada pela Justiça Federal a pagar uma indenização para a
palestrante ofendida em 2016
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