Segunda-feira, 20 de maio de 2024 - 11h05
A Defensoria Pública da União
(DPU), a Defensoria Pública do Estado de Rondônia (DPE), o Ministério Público
Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado de Rondônia (MPRO) apresentaram
pedido à Justiça Federal para que a União, o Estado de Rondônia e o Município
de Porto Velho providenciem abrigo emergencial a refugiados e migrantes que
vivem em Porto Velho (RO). Na ação civil pública, proposta em conjunto nesta
quarta-feira (15), os órgãos apontam que, apesar do grande fluxo de migrantes e
refugiados, não há abrigos públicos na capital.
Na ação, os autores pedem que
seja disponibilizado, no prazo de15 dias, abrigo emergencial, provisório e
adequado com, no mínimo, 100 vagas. O local deve oferecer alimentação diária
que mantenha os hábitos culturais dos migrantes e refugiados e deve ser formado
por equipes técnicas especializadas em acolhimento temporário. Além disso,
autores do pedido requerem que os entes públicos elaborem, no prazo de 30 dias,
plano de contingência conjunto para enfrentamento de fluxos migratórios, com
explicitação das tarefas, procedimentos, responsáveis e fiscalizadores.
No documento, os órgãos apontam
o grande fluxo de refugiados de diversas nacionalidades, inclusive indígenas,
que chegam ao município de Porto Velho e sustentam que, sem ajuda da União e do
Estado, não é possível prover assistência social adequada e atenção humanitária
a essas pessoas. A maioria vem de países como Venezuela, Peru e Bolívia, por
conta de crises econômicas e políticas. Para os autores, apesar de não ser
oficialmente reconhecido como um corredor de migração, Rondônia funciona como
passagem de refugiados para outros estados do país, por ser região de fronteira.
“Ao chegarem à capital, os
migrantes não encontram o apoio primordial de acolhimento institucional
necessário para aguardar a continuação de suas viagens, tampouco conseguem
acessar oportunidades de emprego, resultando em condições precárias”, destaca
trecho do documento. Os autores do pedido enfatizam ainda que o fornecimento de
atendimento dos serviços adequados e de um local para que os migrantes
permaneçam provisoriamente contribuiria para que o tempo de permanência fosse
menor. Segundo eles, esse acolhimento “possibilitaria que os migrantes e
refugiados conseguissem seguir viagem ou mesmo que se estabelecessem em
Rondônia e não mais precisasse de abrigo público”.
Os órgãos ressaltam que há três
casas de apoio na capital, mas que estão lotados ou com atividades paralisadas
por conta da falta de repasse de recursos públicos ou interditados por obras.
Ainda assim, os locais não são destinados ao acolhimento de migrantes, não
possuindo equipes técnicas e qualificação especializada para oferecer as demais
assistências básicas necessárias, além da moradia. A permanência de brasileiros
com migrantes, inclusive, é causa de frequentes conflitos.
Repasse
de recursos – Na
ação, os autores citam diversas tentativas em âmbito administrativo para
resolver a situação, incluindo recomendação conjunta, enviada em março de 2024
para a União, Estado de Rondônia e o Município de Porto Velho. O único ente que
respondeu à notificação foi a União, por meio da Secretaria Nacional de
Assistência Social, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome. Na ocasião, o setor informou que,
em 2019, o Município solicitou recursos para ações destinadas ao público
migrante. Contudo, os recursos não foram utilizados e desde então estão parados
em conta, em valor superior a R$ 270 mil.
Recentemente, o Município
solicitou novo recurso da União para atendimento a 580 refugiados. O repasse
deve ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano. “Os entes federados ainda
não possuem um plano de contingência conjunto e efetivo, que também trabalhe na
perspectiva preventiva das próximas crises migratórias. O que se percebe é
sempre uma atuação no olho do furacão, com reparações pontuais, sem visão
estratégica e com elevados gastos públicos”, acusam os autores. Para os órgãos,
o cenário deve se agravar com o anúncio de endurecimento nas regras de migração
no Chile e no Peru, já que o Brasil aparece como solução provisória para os
futuros migrantes.
Reativação
de comitê – Os
órgãos sugerem ainda a reativação do Comitê de Atenção ao Migrante, Refugiado e
Apátrida de Porto Velho, para discussão de políticas públicas. Criado em 2019,
com representantes dos Poderes Executivo e Judiciário, além do MPF, do MPRO, da
DPU, da DPE e da sociedade civil, o comitê está sem funcionar desde 2020.
“É preciso suplantar a
tendência a uma atuação emergencial, que lida com o problema de modo
circunstancial, para encarar o desafio de pensar e desenvolver uma política
ativa e realista ao contexto de Rondônia, em conformidade com o próprio
posicionamento geográfico nas rotas internacionais de migração”, reiteram. Para
os órgãos, o desafio é perene. “Mesmo que haja movimentos cíclicos de alta e
baixa, a entrada de migrantes continuará a acontecer de forma permanente”,
concluem, no documento.
Ação
Civil Pública nº 1007228-23.2024.4.01.4100
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