Quarta-feira, 6 de julho de 2022 - 09h07
O Ministério Público de Rondônia teve papel
fundamental na garantia de um dos direitos mais reivindicados pela comunidade
LGBTQIA+ em todo o país. Através de um parecer da Instituição, a primeira união
civil celebrada entre pessoas do mesmo sexo foi realizada em março de 2012. Dez
anos depois, os agentes centrais dessa conquista se reuniram virtualmente na live
“Com Orgulho”, transmitida nesta segunda-feira (4/7) pelo Comitê
Interinstitucional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, composto pelo
MPRO, Tribunal de Justiça de Rondônia e Tribunal Regional do Trabalho da 14ª
Região – RO e AC.
O encontro on-line contou com a participação da
Promotora de Justiça Lisandra Vanneska Monteiro Nascimento Santos, do
magistrado Áureo Virgílio Queiroz e do professor Thonny Hawany, com seu marido,
Rafael Costa, e seus filhos, Jefferson Wagner (21) e Maria Vitória (5).
A live “Com Orgulho: 10 anos da união civil
homoafetiva em Rondônia” está disponível no YouTube
Thonny Hawany é fundador do Grupo Arco-Íris (GAYRO)
e forma, com Rafael, o casal que figurava na ação judicial para obter o direito
de se casar e constituir sua família. Na live, ele apresentou dados acerca do
número de casamentos homoafetivos ao longo dos anos, bem como os direitos
conquistados pela comunidade LGBTQIA+ na última década, refletindo quanto aos
caminhos que serão percorridos futuramente.
“As estatísticas indicam que, de março de 2012 a
novembro de 2021, mais de 300 casamentos foram consumados. O nosso foi o
primeiro de Rondônia e talvez o primeiro da Região Norte. A partir do parecer
do MP e da decisão do Poder Judiciário formamos oficialmente uma família que se
ama e se respeita de forma recíproca. Essa união é, para além da consolidação
do amor, a principal forma de garantir os direitos dos cônjuges e a maior das
vitórias contra a homofobia no Estado”, pontua Thonny.
A Promotora de Justiça Lisandra Vanneska Monteiro
Nascimento Santos, autora do parecer com a recomendação favorável ao casamento
pleiteado pelo casal, registrou sua emoção em fazer parte dessa história
através da Justiça.
“Como Promotora de Justiça acredito que o Direito é
transformador e pode ser usado para concretizar os direitos da população, como
indivíduo e sociedade. Essa conquista vai muito além de um simples parecer ou
uma simples decisão. É o Direito em vida, da forma mais genuína. É o artigo 5º
da Constituição Federal, que inspirou tantos microssistemas que defendem as
minorias”, explica.
Em sua fala, o magistrado Áureo Virgílio Queiroz
destacou como significativo o feito à época e resgatou algumas curiosidades
sobre o caso histórico para a comunidade LGBTQIA+ rondoniense. “Não houve
audiência, tudo tramitou através de papéis. Eu já estava trabalhando em casos
sobre adoção por parte de casais homoafetivos. Para mim, era incontestável o
direito ao reconhecimento, pois tinha tudo que precisava: o requerimento de
duas pessoas capazes e idôneas com o parecer do MPRO”, afirma.
Quem também fez questão de destacar a importância
do casamento homoafetivo que abriu portas para muitos outros que viriam a
seguir foi Jefferson, filho adotivo de Thonny antes da união. “Sou filho de
dois pais, negro e candomblecista e enxergo isso como um diferencial positivo
que carrego até hoje. Graças a Deus a vida me deu a oportunidade de viver em
uma família que me respeita, me ama e me apoia. Sou feliz pelo encontro do meu
pai com Rafael, que gerou a nossa família e agora conta com mais uma integrante,
minha irmãzinha linda”, enfatizou.
No encerramento da live, a Promotora de Justiça
Lisandra Monteiro fez questão de deixar um recado para a família e também para
a sociedade em geral. “Quando o Direito abraçou o amor e o afeto, a humanidade
entrou pela frente e a intolerância, envergonhada, saiu pelos fundos. Em 2012 a
sua família surgiu, os direitos foram se consolidando. Hoje vocês são exemplo
de pluralidade e luta. Que sirva de inspiração a tantos outros e outras que
temem aparecer, que se sentem menos cidadãos e menos legítimos. A luta é longa,
mas o amor sempre venceu o ódio. Que possamos expressar nosso afeto de maneira
legítima, sem medo e sem pressa. Que a nossa pressa seja sempre em viver bem e
ser feliz”.
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