Sexta-feira, 12 de maio de 2023 - 09h53
Há várias
maneiras de se tornar mãe e um dos caminhos é através da adoção. Em 2012,
Simona Lúcia de Carvalho Albuquerque, servidora do Ministério Público de
Rondônia (MPRO), começou a escrever a história que hoje conta com orgulho. Ela
é mãe de Miguel, de 11 anos, e Heloísa, de 8.
Simona
explica que ela e o esposo, Neilson Albuquerque, planejaram primeiramente ter
um filho biológico. Eles passaram por vários processos de tratamento, mas
tiveram duas gestações interrompidas.
“Passei
por abortos espontâneos e no meio desse período todo meu marido disse: ‘um
filho pode vir de várias formas, vamos nos preparar e ingressar com um processo
para adoção’. Desde o início esse filho já tinha nome, sempre sonhamos com
Miguel e tínhamos confiança que o Miguel chegaria pra gente”, comentou Simona.
Então o
casal procurou o Juizado da Infância e Juventude e, enquanto pesquisava sobre
os trâmites legais para adoção, Simona engravidou pela terceira vez.
“Eu vinha
de um processo de perdas e estava novamente vivendo uma gravidez conturbada,
preocupada se iria ou não adiante. Acabou que eu tive a minha terceira perda.
Eu passei pelo procedimento da curetagem no dia 30 de dezembro e o Miguel
nasceu no dia 31 de dezembro”, relembra.
A
curetagem é um procedimento médico feito para limpar o útero. Enquanto se
recuperava dele, Simona se preparava para a chegada de Miguel. Ele teve alta 11
dias depois porque nasceu prematuro.
“O principal
Miguel já tinha: o nosso amor. Ele foi muito bem recebido pela nossa família,
amigos próximos, colegas de trabalho. Todo mundo com essa vontade imensa de
amar o Miguel e recebê-lo de braços abertos”, comenta.
Miguel
tinha dois anos quando sua mãe biológica sinalizou à Justiça que estava grávida
de oito meses e que pretendia enviar a criança para adoção, se possível para
uma família onde já havia um irmão biológico.
“Quando
Heloísa nasceu, a assistência social do próprio hospital comunicou ao Juizado.
Depois nós recebemos a ligação e meu marido já ficou empolgado falando: ‘nossa
filha nasceu’. Então fomos para a parte burocrática”.
De acordo
com o casal, ao se tornarem pais pela segunda vez, os corações já estavam mais
calmos, pois as dúvidas sobre adoção já estavam sanadas e os procedimentos eram
conhecidos.
“Quando
olhei para Heloísa e vi que ela era um pedaço do Miguel, eu já a amei. Amo a
Heloísa desde o primeiro segundo”, disse Simona.
As
crianças foram ensinadas a falar com respeito sobre suas origens. Simona e o
esposo optaram por explicar abertamente sobre adoção aos filhos, embora já
tenham passado por dificuldades para abordar o tema devido à forma como parte
da sociedade fala sobre o assunto com tom pejorativo.
“Existe
muito preconceito, mas a gente tem muito cuidado dentro da família em explicar
para eles que nossa história é linda. A adoção representa a formação da nossa
família e tenho muito orgulho dela. É algo que eu sempre quis, inclusive eu
lembro de vários eventos de Dia das Mães no MPRO em que eu me perguntava: ‘Deus
quando é que vai chegar a minha vez?’. Eu desejava aquilo. Agora que eu posso
participar me sinto radiante, empoderada. Hoje quando olho para os meus filhos
eu vejo que o meu empoderamento vem do título de mãe. De poder ser chamada de
mãe”, disse.
O papel
do Ministério Público no processo de adoção — É dever da família criar, educar e sustentar
os filhos. Se o pai e a mãe não cumprem essas três obrigações, prejudicando a
criança, eles acabam perdendo o poder familiar. Abrindo espaço para a
intervenção do Ministério Público.
Conforme
explicado pelo Promotor de Justiça Marcos Valério Tessila de Melo, que atua na
área de adoção no MPRO, a abordagem não é a de acusar, separar e segregar. Na
realidade os esforços são voltados para proteger a criança e às vezes a
proteção não vai se dar no “ambiente natural” dela, mas em uma outra família.
A adoção
daquele que tem menos de 18 anos é feita em conformidade com o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) e todos os processos que tramitam judicialmente
têm participação obrigatória do Ministério Público. Nos casos em que o alvo da
adoção tem mais de 18 anos, a matéria é regida pelo Código Civil e o processo
se desenvolve na Vara de Família.
“A regra
não é retirar a criança da família, essa é a exceção, mas há situações graves
de violações de direitos em que é necessário fazer a retirada, e o Ministério
Público acompanha esse processo. O primeiro passo é o acolhimento dessa
criança, que acontece após denúncia de maus-tratos ou outros crimes.
Inicialmente, ela vai para uma das unidades de acolhimento. Em Porto Velho, por
exemplo, são cinco, e a gente trabalha para analisar se ela pode voltar em
segurança para o pai, para a mãe ou para ambos, ou para outros membros de sua
família extensiva” explicou o Promotor.
Porém, em
alguns casos não é possível que a criança volte para a casa de origem. Logo,
começa um processo chamado de Destituição do Poder Familiar e a criança deverá
ser inserida no Cadastro Nacional de Adoção. Na sequência, acontece a
aproximação da Família Substituta.
Segundo a
experiência do Promotor, esse é um processo que geralmente se inicia em um
lugar triste, mas há diversas técnicas e abordagens para que o encontro da
criança com a nova família seja permeado por carinho, afeto e atenção.
“Eu
trabalho há quase duas décadas com a temática de adoção e fico muito
gratificado em lembrar das histórias de crianças que foram adotadas aos 17 anos
de idade, das que foram para outros países, das adoções de crianças com
deficiência, adoção de grupos de irmãos, por exemplo, há casos de quatro a
cinco irmãos adotados pela mesma família. A gente vê muitas cenas bonitas e a
gente trabalha pela proteção desses filhos. Não há diferença entre adotivos e
biológicos. São todos filhos”, disse.
No Brasil
o Dia Nacional da Adoção é celebrado no mês de maio, assim como o Dia das Mães.
Ele foi instituído pela Lei 14.387, de 2022. A comemoração acontece no dia 25
de maio, com a reflexão, celebração e divulgação sobre o tema.
A data
ajuda a lembrar o passo a passo do processo de adoção e incentiva esse ato de
amor que acontece por meio do Juizado da Infância e da Juventude.
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