Segunda-feira, 9 de setembro de 2019 - 09h41
Promovido durante o Fórum Nacional de Juízes Criminais (Fonajuc), a
primeira edição o Prêmio Boas Práticas na Justiça Criminal contempla
duas categorias: Práticas de Juiz e Menção Honrosa. O Poder Judiciário de
Rondônia foi representado por três práticas: Classificação objetiva de
presos e de unidades prisionais como novo paradigma para reconstrução do
sistema prisional – Projeto Piloto de Individualização da Pena aplicado na
comarca de Porto Velho, encabeçado pelo juiz auxiliar da Presidência, Sergio
William Domingues Teixeira; Projeto Novo Norte – Os soldados do lixão da Vila
Princesa: famílias garantindo o pão nosso de cada dia, inscrito pela juíza da
Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas – Vepema, Kerley Regina
Ferreira de Arruda Alcântara; e Projeto de Arte “Luz e Cor para a Minha Vida”,
desenvolvido na 1ª Vara Criminal da Comarca de Colorado D'Oeste pela
juíza Márcia Regina Gomes Serafim.
O Prêmio tem como finalidade o reconhecimento e a disseminação de boas
práticas de juízes criminais e juízes de execução penal de todo o país, além de
valorizar iniciativas que promovam a celeridade e a efetividade da Justiça
Criminal e incentivar as ações proativas e criativas. Ao todo a comissão
avaliadora - que teve como integrante o desembargador do Tribunal de Justiça de
Rondônia Marcos Alaor Diniz Grangeia - analisou 28 iniciativas e escolheu o
projeto Além da Punição: por uma justiça de proteção integral, do Juiz do
Tribunal de Goiás, Decildo Ferreira Lopes como vencedor. A menção honrosa foi
concedida à juíza Bárbara Livio, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, pelo
projeto Diálogos em Foco.
O Prêmio Boas Práticas na Justiça Criminal foi organizado pela juíza da
comarca de Espigão do Oeste, Larissa Pinho de Alencar Lima, que também é a
vice-presidente do fórum. A participação de três projetos do Poder Judiciário
de Rondônia demonstra o comprometimento social que a magistratura tem para a
construção de uma sociedade mais igualitária e justa.
Projeto Piloto de Individualização da Pena
Encabeçado pelo juiz auxiliar da presidência do TJRO, Sérgio William
Domingues Teixeira, o projeto consiste em um trabalho inédito de classificação
dos presos , voltado para a definição do perfil (de baixa, média ou alta
periculosidade) e também das unidades prisionais que poderá ser lotado
(segurança máxima, mínima ou média), de forma que promova a individualização da
pena.
“Estima-se, ainda, segundo fontes do DEPEN-MJ, que o custo para a
criação de uma vaga em um dos presídios federais do país, com capacidade máxima
para 208 apenados, representa a cifra atual de R$216.346,15 e o custo mensal de
manutenção de um preso é superior a R$15.000,00. A opção pela pena de prisão é
cara, caríssima. Individualizar a pena, portanto, não pode ser mera retórica.
Ao contrário, deve-se assegurar a cada apenado as oportunidades necessárias
para que possa progredir e reinserir-se ao meio social da forma menos
estigmatizante possível”, justifica o magistrado.
A proposta prevê que a individualização da pena na fase executória seja
concedida a cada preso as oportunidades de reinserção social. No início da
execução, será realizada a classificação do condenado para que este seja
encaminhado ao programa de execução adequado às suas necessidades de
reinserção. A Comarca de Porto Velho recebeu o projeto piloto, com o apoio da
Secretaria Estadual de Justiça, usando o sistema de classificação, voltado por
ora, apenas para uma unidade prisional, o “Vale do Guaporé”, destinada aos
apenados do regime fechado.
Projeto Novo Norte – Os soldados do lixão da Vila Princesa: famílias
garantindo o pão nosso de cada dia
O projeto inscrito pela juíza da Vara de Execução de Penas e Medidas
Alternativas (Vepema) da comarca de Porto velho, Kerley Regina Ferreira de
Arruda Alcântara, trata sobre a destinação de verbas de prestação pecuniária
para atender a Associação dos Moradores da Vila Princesa, comunidade localizada
a cerca de 10 km de Porto Velho, conhecida pela condição de extrema pobreza, no
qual a principal fonte de renda dos moradores é a coleta e reciclagem do
lixo.
“Quando nós tomamos conhecimento de que as crianças estavam ociosas e
ficavam a disposição da coleta do lixo em função dessa ociosidade, nossa equipe
multidisciplinar veio aqui no sentido de identificar quais as razões da
utilização dessa mão-de-obra infantil na coleta do lixo. Um dos pontos que foi
mais identificado é que o único elo que tem estatal na comunidade é a escola e
a escola tinha pouco tempo e atrativos”, explica a magistrada que continuamente
faz visitas para acompanhar os trabalhos desenvolvidos na localidade.
As verbas de prestação pecuniária são oriundas das punições determinadas
no Código Processual Penal. O réu ao ser condenado a uma pena menor que quatro
anos, pode ter a pena privativa de liberdade revertida em penas restritivas de
direitos. Essas penalidades podem ser em dinheiro ou na forma de prestação de
serviços à comunidade.
O benefício é concedido às instituições sem fins lucrativos que propõem
projetos sociais voltados para a justiça, saúde e educação. Parte desses recursos
foi destinada para ampliação e reforma de algumas dessas entidades, bem como a
promoção de torneios esportivos às crianças e adolescentes e a capacitação
profissional de jovens e adultos.
Na Vila Princesa, cinco projetos sociais de cunho educativo foram
contemplados com mais de 96 mil reais para a manutenção as ações.
Projeto de Arte “Luz e Cor para a Minha Vida”
Liderado pela juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Colorado do
Oeste, Márcia Regina Gomes Serafim. A proposta do projeto consiste em
estimular os reeducandos no desenvolvimento de habilidades a partir do contato
com a arte, gerando respeito à liberdade de expressão e criação; experimentar e
conhecer materiais, instrumentos e procedimentos artísticos diversos em artes
visuais para utilizá-los em trabalhos pessoais, identificá-los e interpretá-los
na apreciação e contextualizá-los culturalmente; e ainda procurar desenvolver a
conscientização das capacidades e limitações pessoais.
Os trabalhos são desenvolvidos há dois anos, no interior de Rondônia,
ocorrendo sempre por etapas, por meios de texto informativo, pesquisa na
internet, sob orientação do professor que fica à disposição na unidade
prisional, exposição das cópias do artista plástico Romero Britto, releituras
por meio de pinturas e esculturas de algumas peças trabalhadas.
“Nas produções do artista são abordados valores éticos como amizade,
companheirismo entre pessoas e animais, solidariedade com o ecossistema,
satisfação no meio familiar e educacional, entre outros, os quais devem ser
incentivados ou reforçados em nossa sociedade. Ao reproduzir as obras, o
reeducando desenvolve habilidades como percepção, imaginação e amplia o seu
universo cultural e é a partir do reconhecimento de suas limitações e de seu
envolvimento, de sua dedicação, que eles formarão suas individualidades, suas
personalidades”, destaca a magistrada.
Vale destacar que os materiais necessários para o desenvolvimento do
projeto, realizado anualmente, são custeados por verbas de transações penais.
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