Segunda-feira, 18 de novembro de 2024 - 12h05
Contaminação por agrotóxicos, proliferação de
animais peçonhentos, crescentes casos de malária e dengue são problemas
enfrentados pelos moradores da comunidade Paulo Leal, em Porto Velho (RO).
Essas situações foram relatadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
(Ibama) ao Ministério Público Federal (MPF), que recomendou que o próprio Ibama
adote medidas com relação a esses problemas encontrados na comunidade:
1) apresente relatório
indicando quem das proximidades da comunidade está utilizando agrotóxicos e
prejudicando os moradores, com avaliação de incidência de infração ambiental;
2) informe ao
Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e à Agência de Defesa Sanitária
Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron) sobre a contaminação por agrotóxicos
para que essas instituições possam autuar quem esteja cometendo infrações;
3) informe às Agências
de Vigilância Sanitária de Rondônia e de Porto Velho sobre o aumento de casos
de malária e dengue na comunidade, a fim de que adotem providências;
4) mantenha permanente
avaliação e contato com representantes da comunidade, ouvindo-os em todas as
ações, nos termos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT).
Na recomendação, o
procurador da República Raphael Bevilaqua argumenta que, ao identificar os
problemas e não promover os devidos encaminhamentos, o Ibama acabou por ignorar
as situações por ele mesmo verificadas envolvendo uma comunidade tradicional.
Sobre a contaminação da comunidade por agrotóxicos, moradores reclamaram que seus
cultivares e criação de animais estão sendo afetados diretamente de forma
negativa, além de ocasionar problemas de saúde, devido à aspersão desses
pesticidas.
Por se tratar de
comunidade tradicional, a recomendação do MPF também foi endereçada à Secretaria
Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural
Sustentável, para que a comunidade Paulo Leal seja contemplada nas políticas
públicas voltadas às comunidades tradicionais. Tanto o Ibama quanto a
Secretaria têm prazo de 15 dias úteis para informar se vão acatar a
recomendação.
Impactos da hidrelétrica - O relatório
feito pelo Ibama foi resultado de uma outra recomendação do MPF para que a
autarquia ambiental verificasse as queixas sociais e ambientais apresentadas
pela comunidade tradicional. Os moradores relataram ao MPF que sofreram vários
impactos da instalação da Hidrelétrica Santo Antônio, mas que não foram
incluídos entre os diretamente afetados pela construção da barragem, apesar da
proximidade com a Hidrelétrica.
Como resposta à
primeira recomendação do MPF, além de elaborar o relatório, o Ibama expediu uma
recomendação à Santo Antônio Energia para que a empresa investigue e adote
providências quanto à infestação de mosquito Mansonia na comunidade Paulo Leal
e arredores. Essa ação ainda está em curso.
Tanto a primeira quanto
a nova recomendação do MPF fazem parte de um inquérito civil aberto para apurar
os impactos da construção da Hidrelétrica Santo Antônio na comunidade Paulo
Leal, bem como as medidas de compensação efetivadas.
Comunidade tradicional – De acordo com
um laudo pericial do MPF, a comunidade da Vila de Paulo Leal é,
inquestionavelmente, comunidade tradicional, quer seja sob a ótica sociológica,
quer seja sob a ótica jurídica (Convenção 169 da OIT, Decreto 6.040/2007),
sendo que parte da área da comunidade é reconhecida pela Superintendência de
Patrimônio da União (SPU) como de interesse público – a Portaria 274/2015
“declara de interesse do serviço público o imóvel da União localizado na faixa
de domínio da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, município de Porto Velho (RO),
com área de 7,2129 hectares”.
A comunidade é ligada à
história da construção e operação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no começo
do século XX, e constitui-se de famílias que se fixaram no local e
desenvolveram modos próprios e peculiares de vida e relações socioculturais.
Inquérito civil nº
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