Terça-feira, 9 de julho de 2024 - 14h52
O
Ministério Público Federal (MPF) participou do 1º Diálogo dos Povos Indígenas
de Rondônia, noroeste de Mato Grosso e sul do Amazonas, evento que reuniu mais
de 220 lideranças indígenas de Rondônia, caciques de várias etnias,
representantes de órgãos públicos indigenistas, ONGs, associações indígenas e
outras pessoas convidadas. O encontro teve a presença da ministra Sônia
Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e da vice-presidente da
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Mislene Tikura, e ocorreu na
aldeia Lapetanha, Terra Indígena Sete de Setembro, do povo Paiter Suruí, em
Cacoal (RO).
Durante
a plenária, o procurador da República Leonardo Caberlon, um dos representantes
do MPF, falou diretamente à ministra Sônia Guajajara pedindo que o MPI
estruture melhor os órgãos indigenistas em Rondônia, com mais servidores e
condições de trabalho. Ele disse que as novas fronteiras agrícolas, com
aberturas de estradas, desafiam a proteção das terras indígenas no estado e
destacou que a demarcação e a preservação dos territórios dos povos são
importantes. Outra questão levantada foi o atendimento de indígenas que vivem
no contexto urbano, que muitas vezes não têm seus direitos respeitados.
Dirigindo-se
a todos os indígenas presentes, o procurador enfatizou a importância da escolha
dos representantes políticos dos indígenas, principalmente nas eleições deste
ano. “Procurem saber quem são os candidatos e as candidatas que defendem os
interesses dos povos indígenas. Há municípios de Rondônia que têm chances reais
de eleger prefeitos e vereadores indígenas. O MPF busca garantir a participação
igualitária dos povos indígenas nas eleições e a lisura no pleito”, disse.
Índio
do Buraco
- O indígena Tanaru, conhecido como Índio do Buraco, também foi lembrado pelo
procurador Leonardo Caberlon. “Ele resistiu sozinho durante quase 27 anos,
rodeado por fazendas de soja e mesmo assim preservou sua integridade contra o
genocídio que se instalou na época”, disse. Último sobrevivente de sua etnia,
após a morte do Índio do Buraco, a destinação da área em ele vivia ficou
indefinida.
O
MPF ingressou com uma ação
civil pública na Justiça Federal para obrigar a União e a Fundação Nacional
do Índio (Funai) a demarcarem a terra indígena Tanaru, em Corumbiara (RO). O
MPF quer que a área tenha destinação socioambiental para ser protegida e
preservada. A primeira audiência de conciliação vai ocorrer na próxima
terça-feira (16), às 10h30 no horário de Rondônia, por videoconferência.
Reivindicações – Líderes e caciques indígenas
entregaram à ministra documentos em que pedem por saúde, educação, demarcação,
vigilância, proteção, fiscalização, reaviventação de limites territoriais,
alternativas econômicas, entre outras solicitações.
A
ministra afirmou que, em Rondônia, os povos Karipuna e Uru Eu Wau Wau estão na
lista de prioridade para ação de desintrusão e há também outras 32 desintrusões
de madeireiros, garimpeiros e invasores de terras indígenas a serem realizadas
em todo o país. Sônia Guajajara relatou que a Câmara e o Senado aprovaram a Lei
do Marco Temporal, após derrubarem o veto presidencial. Nesse contexto, o
Supremo Tribunal Federal implantou uma Câmara de Conciliação para tratar das
ações constitucionais sobre o tema. Ela informou que ocorreram oito demarcações
de terras indígenas em 2023 e mais duas demarcações em 2024, e que o MPI sabe
que mais demarcações são necessárias. Ela ressaltou ainda que os indígenas são
5% da população mundial e protegem aproximadamente 80% de toda a
biodiversidade.
Almir
Suruí, cacique geral do povo Paiter Suruí, disse que o encontro foi importante
porque o MPI recebeu as reivindicações das comunidades e tomou conhecimento dos
projetos de futuro das etnias de Rondônia.
Demarcações – A procuradora da
República Caroline de Fátima Helpa, também representante do MPF no evento,
pediu à vice-presidente da Funai que o órgão indigenista efetive a demarcação
das terras indígenas Puruborá, Wajuru, Migueleno e Guarasugwe.
Mislene
Tikura disse que há concurso previsto para agosto de 2024, com 30% de cotas
para indígenas. Ela explicou que há 1.326 servidores na Funai em todo o país,
mesmo havendo a necessidade de mais de 4 mil servidores para suprir a demanda
do órgão.
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