Quinta-feira, 26 de outubro de 2023 - 14h06
O Ministério
Público Federal (MPF) encaminhou, nessa terça-feira (24), duas recomendações ao
Estado de Rondônia para a adoção de medidas que respeitem as tradições e
culturas dos povos originários locais no processo de seleção de professores
para escolas indígenas do 6º ao 9º ano do ensino médio. O edital lançado em
setembro visa a contratação temporária de aproximadamente 100 profissionais
para ocuparem vagas de professor nível A e B, que atuarão nas escolas
vinculadas à Secretaria de Estado da Educação (Seduc), voltadas ao público
indígena.
Um dos
documentos - assinados pelo procurador da República Leonardo Trevizani Caberlon
- pede que no processo seletivo seja priorizada a contratação de candidatos
indígenas, para ambos os cargos A e B, oriundos das etnias correspondentes a
área de atuação da escola. Isso porque o edital traz essa previsão apenas em
relação aos docentes do cargo nível A, que atuarão diretamente em sala de aula
ministrando ensino bilíngue - em português e na língua materna da etnia - com
vistas à preservação do idioma do povo local, entre outras atribuições.
Para o MPF, no
entanto, a seleção para ambos os cargos deve priorizar a etnia do candidato,
pois as escolas indígenas devem respeitar, no seu funcionamento e linha
pedagógica, as tradições, formas de produção de conhecimentos e processos
próprios de aprendizagem das comunidades. “O ensino por professor indígena
concretiza a valorização dos usos, costumes e modos diferenciados de organização
das populações indígenas, em cumprimento ao artigo 231 da Constituição
Federal”, argumenta o procurador no documento.
Ele cita
diversos regulamentos do estado prevendo que a atividade docente nessas escolas
seja exercida, prioritariamente, por professores indígenas oriundos da
respectiva etnia, incluindo os cargos nível B. A medida, segundo o procurador,
também busca cumprir a legislação federal e normativos internacionais de
proteção à cultura dos povos originários. Caberlon lembra ainda que o Curso
Intercultural da Universidade Federal de Rondônia (Unir) formou diversos
professores indígenas nos últimos anos, os quais estão aptos a ocuparem todos
os cargos de professor nas escolas voltadas às comunidades.
Envio
de documentos -
A segunda recomendação pede à Seduc/RO que estabeleça novo prazo – não inferior
a 5 dias úteis – para que os candidatos que tiveram a inscrição indeferida
possam apresentar documentos complementares previstos no Edital nº 321/2023.
Isso porque várias pessoas relataram dificuldade para o envio da documentação,
especialmente na fase de recursos, que se encerrou no último dia 20.
“Foi possível
perceber que candidatos relataram com frequência que juntaram a documentação
exigida, não compreendendo as razões do indeferimento da inscrição”, relata o
procurador. Ele lembra que muitos indígenas residem em locais distantes, sem
acesso à internet, o que deve ser levado em conta na organização de processos
seletivos voltados a esse público.
Segundo
Caberlon, vários candidatos apontaram problemas para acessar o sistema de
inscrição - feita exclusivamente de forma online - assim como dificuldade de
acesso contínuo, rápido, seguro e sem interrupções à internet. Isso pode ter
prejudicado a inscrição dos interessados em participar da seleção, conforme
pontua a recomendação.
Por esses
motivos, o MPF também recomenda à Comissão do Processo Seletivo que permita aos
indígenas a entrega de documentos complementares de forma presencial nas
Coordenadorias Regionais de Educação no Estado de Rondônia ou em outro órgão a
ser indicado. Para isso, sugere que seja fixado prazo de 5 dias úteis ou mais.
O documento recomenda ainda que toda as demais fases do processo seletivo sejam
suspensas até que as medidas propostas sejam atendidas.
“Quaisquer
ações voltadas a implementar direitos indígenas deve levar em conta as
particularidades do modo de vida tradicional da etnia, especialmente as
dificuldades de locomoção enfrentada por membros aldeados que procuram usufruir
dos serviços das áreas urbanas”, pontua o procurador.
O MPF fixou o
prazo de 5 dias úteis, a partir do recebimento do documento pelo Estado de
Rondônia, para que a Seduc/RO e a Comissão do Processo Seletivo informem se
irão acatar as medidas e quais foram as providências adotadas. A previsão
inicial era de que a seleção fosse concluída no final deste mês. Os
selecionados serão contratados pelo prazo de um ano, podendo ser prorrogado.
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