Terça-feira, 25 de outubro de 2022 - 17h02
O Ministério Público Federal
(MPF) ingressou com uma ação civil pública, com pedido liminar, para que a
Justiça Federal obrigue a Fundação Nacional do Índio (Funai) a fazer o
sepultamento do indígena Tanaru, conhecido como índio do buraco no local onde
viveu e morreu. Na ação, o MPF também pede que o sepultamento seja de acordo
com as tradições dos indígenas daquela região e que o local do sepultamento
seja preservado de forma permanente.
O índio do buraco foi encontrado morto em sua palhoça, dentro de
sua rede de dormir, no dia 23 de agosto, já em estado de putrefação, indicando
que a morte pode ter ocorrido 30 ou 40 dias antes. O corpo foi levado para a
sede da Polícia Federal (PF) em Brasília para coleta de amostras e realização
de laudos e exames e depois devolvido para a Delegacia de PF em Vilhena, onde
está até o momento. A Funai local afirmou já ter tomado providências para o
funeral e a Polícia Federal indicou que todas as amostras necessárias para a
realização de exames e laudos foram extraídas.
O MPF ressalta na ação que é direito fundamental a dignidade e a
memória do indígena morto, bem como de seu povo, dos povos indígenas de
Rondônia e do Brasil e também dos próprios servidores da Funai que o salvaram
do extermínio e atuaram por décadas na sua proteção. Segundo os procuradores,
esse direito está sendo aviltado pela demora excessiva e desnecessária para a
realização do funeral.
Genocídio - O índio do buraco foi
identificado pela Funai em junho de 1996. Era o único sobrevivente de uma etnia
desconhecida em condição de isolamento. Após o genocídio de seu povo, ele viveu
em isolamento na sua terra, nunca quis contato com não-índio. A característica
que possui maior destaque entre seus hábitos é o buraco escavado por ele em
todas as suas habitações identificadas. Até o momento não se tem uma clara
conclusão sobre as razões que o levaram a fazer os buracos.
Uma equipe da Funai monitorava o indígena e, quando o encontrou
morto, não verificou vestígios da presença de outras pessoas ou de violência.
Ele com “chapéu” na sua cabeça e plumagens de penas de arara na nuca, revelando
consciência e preparativos para a morte ou pós-morte. Todos os seus pertences
permaneciam nos seus devidos lugares, com seu arco e flechas escorados ao lado
da rede. Tudo indica que o índio teria passado mal ou se machucado
acidentalmente e deitou-se ali para morrer. Na palhoça havia uma grande
quantidade de milho armazenado e muitos frutos de
mamão em sua roça.
A ação é a de número 1002480-07.2022.4.01.4103 e pode ser
consultada no site da Justiça Federal. A Funai já foi intimada a se manifestar
no prazo de 48 horas.
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