Quarta-feira, 5 de junho de 2024 - 18h22
O Ministério
Público do Estado de Rondônia (MPRO), por intermédio de seu Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), deflagrou nesta manhã
(05/06/2024) a Operação Kraken, com a finalidade de cumprir 12 (doze) mandados
de busca e apreensão em residências, sedes de pessoas jurídicas, cartório
extrajudicial, bem como 01 (um) mandado de busca pessoal itinerante, deferidos
pelo Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Ariquemes/RO.
A investigação visa
a instruir Procedimento Investigatório Criminal (PIC) instaurado no GAECO em
2023 a partir de notícia-crime enviada pela Corregedoria-Geral do Tribunal de
Justiça do Estado de Rondônia (TJRO), tendo como objeto a apuração da suposta
prática dos crimes de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal), lavagem
de dinheiro (art. 1º da Lei 9.613/1998) e associação criminosa (art. 288 do
Código Penal).
Segundo apurado, o
titular da serventia extrajudicial (cartório) de Envira/AM estaria praticando
indevidamente atos notariais (escrituras) nos Municípios de Cujubim/RO, Alto
Paraíso/RO, Cacaulândia/RO e Ariquemes/RO, mas declarando-os falsamente como
celebrados em Envira/AM. Descobriu-se que, para a consecução dos delitos, foi
montada uma estrutura composta pelo referido cartório situado no interior do
Amazonas e vários escritórios denominados despachantes nas cidades
rondonienses, constituídos em nome de terceiras pessoas e atraindo usuários de
serviços cartorários mediante a oferta de preços inferiores ao praticado pelos
cartórios oficiais da Comarca de Ariquemes/RO. Com isso, os investigados
iludiam os usuários fazendo-os acreditar estarem usando serviços regulares para
a prática dos atos cartorários, especialmente escrituras de compra e venda de imóveis
a baixo custo, quando, na verdade, os atos eram totalmente irregulares e, a
princípio, nulos juridicamente. Essa atuação estruturada e em grandes
proporções rendeu, notadamente ao líder do grupo criminoso, o aumento de
533,14% (quinhentos e trinta e três, virgula catorze por cento) do faturamento
semestral do pequeno Cartório de Envira/AM, saltando de R$ 106.488,92 (cento e
seis mil, quatrocentos e oitenta e oito reais e noventa e dois centavos) no
primeiro semestre de 2021 para R$ 674.222,52 (seiscentos e setenta e quatro
mil, duzentos e vinte e dois reais e cinquenta e dois centavos) no segundo
semestre de 2022, conforme dados extraídos na aba Justiça Aberta, disponível no
portal eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Em contrapartida, segundo
levantamento da Corregedoria-Geral do TJRO, a justiça rondoniense sofreu um
prejuízo total estimado de R$ 1.595.892,00 (um milhão quinhentos e noventa e
cinco mil oitocentos e noventa e dois reais) a partir do momento em que o líder
do esquema criminoso assumiu a serventia de Envira/AM e passou a atuar
ilegalmente na Comarca de Ariquemes/RO, mais precisamente o segundo semestre de
2021.
A investigação
também revelou que o líder do esquema criminoso já estava expandindo suas
atividades para o Estado do Maranhão, convertendo parte do dinheiro
criminosamente obtido em Ariquemes/RO em ativos lícitos nos ramos de hotelaria
(Hostel) e locação de móveis, utensílios e aparelhos domésticos, além de
instrumentos musicais e até veículos automotores. Não somente isso, também já
constituíra em São Luiz/MA um despachante similar aos utilizados em
Ariquemes/RO.
Estão em
cumprimento simultâneo os mandados nas cidades de Ariquemes/RO, Alto
Paraíso/RO, Cujubim/RO, Cacaulândia/RO, Envira/AM e São Luiz/MA, envolvendo um
efetivo total de aproximadamente 60 (sessenta) pessoas, entre Promotores de
Justiça, Delegados, Agentes e Escrivães de Polícia Civil e servidores do quadro
administrativo do MPRO, Ministério Público do Estado do Maranhão (MPMA) e
Peritos Criminais da Polícia Técnico-Científica do Estado de Rondônia
(POLITEC).
Os Grupos de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECOs) dos Ministérios
Públicos dos Estados do Amazonas e Maranhão contribuíram para a investigação,
desde a fase preliminar até a deflagração na data de hoje, realizando
diligências pertinentes a investigados, pessoas jurídicas, endereços e outras
questões logísticas, inclusive para o cumprimento dos mandados em Envira/AM e
São Luiz/MA.
A Polícia Civil do
Estado de Rondônia (PCRO) participa do cumprimento dos mandados com equipes
compostas por integrantes da 2ª Delegacia de Repressão ao Crime Organizado
(DRACO 2), 2ª Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes Contra a Vida
(DERCV – Homicídios), Delegacias Especializadas em Repressão a Furtos, Roubos,
Extorsões, Sequestro, Estelionatos e outras Fraudes (DERF – Patrimônio),
Delegacia Especializada em Crimes contra o Consumidor (DECCON), Delegacia
Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (DEPCA) e Departamento de
Polícia Especializada (DPE).
A PCRO e Secretaria
de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (SESDEC) também contribuíram
disponibilizando, respectivamente, a aeronave e o combustível utilizados no
transporte da equipe do GAECO responsável pelo cumprimento dos mandados em
Envira/AM, local distante e de dificílimo acesso, somente por via aérea ou
fluvial.
A POLITEC contribui
com a operação disponibilizando 02 (duas) equipes de peritos criminais para
realizar os trabalhos periciais, especialmente envolvendo as extrações de dados
de computadores, aparelhos telefônicos e outros dispositivos eletrônicos.
O nome atribuído à
operação é uma referência à figura mitológica nórdica, parecida com uma lula,
que habitava as águas profundas, tinha 100 (cem) tentáculos e amedrontava as
embarcações que navegavam pelo mar noruega e atlântico norte, levando-se em
consideração o modo de atuação do grupo criminoso investigado, cuja liderança
está sediada em distante Comarca do interior do Estado Amazonas e estendeu vários
tentáculos em toda a Comarca de Ariquemes/RO, invadindo a competência dos
cartórios locais empregando tática comercial predatória, fraudes e falsidades
ideológicas manifestamente incompatíveis com o regramento próprio dos serviços
notariais, havendo, inclusive, registros de ameaça e constrangimento praticado
contra serventuários que ousaram questionar a validade e veracidade do grande
número de documentos elaborados pelo Cartório de Envira/AM que passaram a ser
apresentados para registro.
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