Quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022 - 14h49
Na segunda-feira, 07 de fevereiro de 2022, expositores
convidados pelo Ministério Público do Trabalho em Rondônia e Acre estiveram
analisando, refletindo e sugerindo ações para o enfrentamento da escravidão
contemporânea no Estado de Rondônia.
O evento realizado pelo Grupo de Atuação Especial Trabalhista
do MPT em Rondônia foi aberto ao público, transmitido ao vivo no canal do
Youtube TV MPT ROAC e contou com a abertura e mediação da Procuradora do
Trabalho e Coordenadora Regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do
Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONAETE), Camilla Holanda
Mendes da Rocha.
Entre os expositores, o evento recebeu a participação da
Procuradora do Trabalho, Lys Sobral, Doutoranda em Direitos Humanos e
Coordenadora Nacional da CONAETE, a Auditora Fiscal Adriana Figueira, do
Ministério do Trabalho, Juscelino José Durgo dos Santos, Auditor-Fiscal do
Trabalho - SRT/RO e integrante da Equipe de Coordenação das Pastorais Sociais
da Arquidiocese de Porto Velho, a Defensora Pública Débora Machado Aragão,
Coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da
Mulher da Defensoria Pública do Estado de Rondônia (NUDEM DPE RO) e as
Professoras Doutoras Rosângela Aparecida Hilário, Valdenia Menegon e Maria
Ribeiro.
A procuradora Lys Sobral alertou que a existência de
escravidão contemporânea é uma realidade vivida também em Rondônia, e que deve
haver uma articulação de pessoas e entidades. Ela assentou que é preciso
despertar a COETRAE – Comissão estadual de Erradicação do Trabalho Escravo no
Estado de Rondônia, a qual precisa ter um plano estadual e reunir-se com mais
frequência para tratar do tema e das ações que precisam ser desenvolvidas para
o combate à escravidão contemporânea na região e seus Municípios. “O fluxo migratório de pessoas oriundas dos
países que fazem fronteira com Rondônia
e outros da América Latina, como o
Haiti, é uma realidade e exige uma estrutura do país e dos estados da região
amazônica para atender a essa demanda e evitar a exploração do trabalho análogo
ao de escravo”, destacou a coordenadora nacional da CONAETE, Procuradora do
Trabalho Lys Sobral.
Por sua vez, a auditora fiscal do Trabalho Adriana Figueira,
destacou os desafios enfrentados para o combate ao trabalho análogo ao de
escravo no Estado pela pouca estrutura que dispõe a fiscalização do trabalho em
Rondônia. São 52 Municípios a serem atendidos por apenas oito (8) auditores
fiscais do trabalho, somado à falta de viaturas e poucos motoristas para
realizar os deslocamentos e percorrer as distâncias entre as localidades a
serem fiscalizadas, além de outras necessidades de logística como a falta de
coletes balísticos, de equipamentos de comunicação via satélite para uso da
equipe de fiscalização.
Adriana Figueira expôs ainda que os “embates jurídicos que questionam o trabalho degradante contribuem para
dificultar ainda mais o trabalho da fiscalização que nos últimos três anos
sofreu muito e teve sua atuação prejudicada. Acrescente-se a isso a ausência de
políticas públicas para o pós-resgate de trabalhadores. Só as indenizações não
resolvem o problema. O ideal é a existência de uma rede formada por órgãos,
entidades e instituições, as quais, articuladas, possam obter uma resposta dos
governos federal, estadual e municipal”.
Francisco Alan, representante da Pastoral da Terra em
Tucuruí, no Pará, expôs que é preciso estar vigilante, oferecer acolhida,
prestar atendimento com orientação e mobilizar os movimentos comunitários para
se envolverem com a causa. “Só vamos
conseguir a erradicação do trabalho escravo contemporâneo quando atacarmos a
origem do problema”, disse ele aos participantes da audiência pública. “Não basta dar a terra, mas oferecer
condições para que o homem do campo possa produzir e fazer sua produção chegar
ao consumidor”.
Para Francisco Alan, “é
preciso haver uma escuta qualitativa para garantia dos direitos negados aos
trabalhadores. Trabalho escravo é pauta perene”, diz Francisco, alertando
quanto à grilagem de terras, o trabalho em minerações e outras atividades no
campo que contribuem para a exploração do trabalho escravo contemporâneo.
A Professora Doutora Maria Ribeiro, que é colaboradora do
programa de pós-graduação em Humanidades da USP e Membra do Núcleo de Estudos
das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos, destacou o tripé social
constituído pelo colonialismo, racismo e capitalismo. “É preciso se voltar para dentro das Instituições, promovendo debates e
visando melhorar as estruturas logísticas no sentido de se obter resultados
positivos no combate e na erradicação do trabalho escravo contemporâneo”.
Já Débora Machado, Defensora Pública Estadual e Coordenadora
do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da
Defensoria Publica do Estado de Rondônia, reforçou que a escravidão na
atualidade reproduz a estrutura racista de dominação e teceu considerações
sobre o trabalho escravo doméstico. Para a Defensora Pública, é “necessário combatermos essa estrutura
racista e classista por dentro. O desafio é promover uma conscientização para
retirar essas pessoas que estão contratadas para servir 24 horas aos seus
patrões (empregadores) que às vezes nem sabem que vivem em regime de trabalho
escravo. É preciso ter estratégias eficazes para combater a estrutura que nos
precede”.
Por sua vez, a professora Doutora Valdenia Menegon e Diretora
de Direitos Humanos e formação política da Unegro em Caxias, pontuou a
necessidade de um olhar para as mulheres e meninas cujo trabalho degradante tem
sido ignorado. “As meninas ficam fora da
escola para ajudar as mães no trabalho doméstico, ou para realizá-lo sozinhas,
tentando ajudar na renda familiar, servindo à pessoas de determinados grupos
econômicos que na verdade deveriam combater esse tipo de trabalho degradante”.
Também esteve presente a professora pós-doutora em Educação
pela USP, Rosângela Hilário, que coordena o núcleo de pesquisa Audre Lorde e é
professora do programa de graduação e pós-graduação da UNIR. Em sua fala,
Rosângela destacou o atual contexto que vivemos como mais desafiador ainda. ”A partir da pandemia, nós vimos uma crise
econômica e famílias com recursos mínimos para mal comprarem o básico. Essa
situação gerou para as crianças mais pobres, sobretudo as crianças pretas, que
voltassem para a Lei do ventre livre, ou seja, escravizadas também. Assim como
na época da escravidão, tão logo a criança consiga fazer alguma coisa, ela será
ocupada como trabalhadora.” Pontuou também que “após a abolição, durante todo o
século XX, meninas pretas deixaram as escolas para ajudarem suas mães em
trabalhos domésticos, que é uma condição análoga a escravidão. Estamos
iniciando um levantamento no grupo de pesquisa Audre Lorde e já é possível
apurar que de 10 meninas que abandonam as escolas, 6 são pretas e estão no
trabalho doméstico”.
Representando a coordenação das Pastorais Sociais da
arquidiocese de Porto Velho, o auditor fiscal do trabalho, Juscelino Durgo,
defendeu a retomada das ações da COETRAE – Comissão Estadual de Combate ao
Trabalho Escravo no Estado de Rondônia, parabenizando o MPT na 14ª Região por
retomar a discussão sobre combate e erradicação ao trabalho escravo
contemporâneo, destacando o apoio que a Igreja Católica no Estado ao oferecer
acolhimento para as vítimas.
Por fim, encerrando o evento, a Procuradora do Trabalho e
Coordenadora Regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONAETE), Camilla Holanda Mendes
da Rocha, informou que o Ministério Público do Trabalho pretende convocar
reuniões periódicas para que o tema seja permanentemente debatido e para que as
instituições possam atuar em rede.
A ata da audiência pública e os encaminhamentos serão
publicados neste site.
Para assistir a Audiência Pública com legendas e tradução
simultânea de Libras, acesse o link no canal TV MPT - ROAC no YouTube:
🔗https://youtu.be/655Xcw4wkNY.
Para recebimento do Certificado de Participação ou da Ata da
Audiência e seus encaminhamentos, favor enviar e-mail com seus dados para
prt14.pvh.oficio4@mpt.mp.br.
Para mais informações, acesse o site www.prt14.mpt.mp.br e
nossas redes sociais em @mptroac para instagram, twitter e facebook.
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