Terça-feira, 5 de maio de 2009 - 16h54
Bastou um pequena conversa com o deputado estadual Edvaldo Magalhães (PCdoB), presidente da Assembléia Legislativa com os lideres do movimento, para os policiais e bombeiros militares levantarem acampamentos de frente do gabinete do governador Binho Marques/ACRE. O manifesto não durou 24 horas.
Na tarde da terça-feira, 04, no calor das manifestações, o Major Wherles Rocha, vice-presidente da Associação dos Militares (AME), em entrevista a ac24horas, disse que a categoria seria teimosa e insistente e só liberaria o trânsito na Avenida Brasil quando houvesse diálogo com o governo. E assim aconteceu.
Wherles Fernandes Rocha, 40, acreano de Rio Branco, casado e com 2 filhos, é militar há 19 anos. É bacharel em Segurança Pública, formando de direito e jornalismo. Antes de se tornar um exemplo de policial militar, trabalhou como repórter fotográfico dos jornais O Rio Branco e A Gazeta e teve o privilégio de dividir a redação com ninguém nada menos importante do que José Chalub Leite.
Rocha, um dos lideres do movimento dos policiais militares foi direto e crítico ao falar da manifestação. Leia:
Ac24horas – A Associação dos militares (AME/AC) impetrou com algum hábeas corpus em favor dos militares no protesto, caso haja punição, prisão, por ordem do comando?
Major Wherles Rocha – Nós entendemos que nosso movimento é ordeiro, pacífico e nós não vamos abrir mão disso. Não tem nada de ilegal aqui, queremos que o governo respeite os militares estaduais, só isso. O movimento foi informado com antecedência, como a Constituição prevê. Então, não havia necessidade de se ter um hábeas corpus de apoio aos militares. Mas se houver alguma represália, nós vamos acionar nossa banca de advogados e eles vão dar à resposta a altura.
Ac24horas – Ainda não houve represália?
Major Wherles Rocha – Olha, o comandante da PM [ten.cor. Romário Célio] passou aqui, disse alguma coisa com a tropa, mas eu não ouvi. O movimento é ordeiro e pacifico, então, não tem por que o comando usar de meios violentos e arbitrários contra os militares estaduais. Nunca fizeram isso contra os outros movimentos, eu acredito que não vai ser dessa vez que vão fazer contra a gente.
Ac24horas – Qual o impacto de um manifesto dos militares?
Major Wherles Rocha – A comunidade não sofre nenhum prejuízo, fora o prejuízo da má qualidade do serviço em razão das condições deficientes que nós temos. Falta de viatura, falta de efetivo, isso ai. Em momento algum reduzimos o policiamento da comunidade. Se algum lugar faltar policiamento é por que não tem condições de trabalho, não por culpa do manifesto. Os militares no movimento não estão na escala de serviço. Hoje são 2.150 militares na ativa, 800 na reserva, 600 pensionistas; no bombeiro são 600 militares.
Ac24horas – O que está na pauta de reivindicação de vocês?
Major Wherles Rocha – O governo não cumpriu o que foi pactuado, acertado. Inclusive esses acordos foram formais. A proposta que eles trouxeram pra gente, levamos para a categoria que rejeitou. Hoje (04) eles fizeram à proposta de sentar dia 11, acabar com o movimento e depois discutir a pauta. A categoria definiu que isso não nos interessa. Então, vamos permanecer aqui até que o governo nos receba e atenda nossas propostas. Nossos colegas quando se aposentam, o governo tira deles 20% do soldo, que é o risco de vida. Nós já ganhamos isso nos tribunais federais várias vezes, mas o governo sempre recorre para não pagar o que é direito. O Superior Tribunal Federal, decidiu isso por duas vezes e o estado recorre simplesmente para não pagar. Queremos progressão horizontal, isonomia salarial. O primeiro aumento no salário que o militar tem é com 10 anos de carreira; o segundo aumento é com 15 anos e somando tudo no final da carreira dá apenas R$ 85, 00. A gente ver ai o descaso com a própria instituição: faltam viaturas, efetivo, armamento, treinamento e os nossos quartéis estão caindo aos pedaços. Na última visita do presidente Lula nossos companheiros passaram até 12 horas em pé, sem ter direito a alimentação. O governo tirou todos os policiais da folga para acompanhar o presidente, e não tem efetivo para cobrir isso. O nosso movimento não é de agora.
Ac24horas – Mas não existe legislação especifica proibindo greve entre militares?
Major Wherles Rocha – Isso, a Constituição Federal, Estadual e a própria legislação penal militar prever. A greve, no caso dos militares, ela é condenada. Mas só que no nosso caso aqui, esse movimento não é uma greve. O que caracterizaria greve, é a interrupção de nossa atividade, isso não foi feito. Nós estamos aqui numa via pública manifestando como os militares estão indignados com o tratamento do governo com a categoria. O governador Binho Marques disse que, "segurança pública seria prioridade", mas a gente vê que não é. A segurança pública no interior, no Juruá, está sendo tratada na base de medidas emergenciais. O governo trata a segurança pública com descaso. Só para tu ter uma idéia, o orçamento do governo com mídia é R$ 15 milhões, fora as suplementações. E o orçamento do governo para a PM é R$ 3,8 milhões. Isso mostrar que segurança pública nunca foi prioridade para o governador.
Ac24horas – Essa manifestação vai servir de palanque para algum militar se promover nas próximas eleições?
Major Wherles Rocha – Veja, esse é um argumento que o governo sempre usa para tentar desqualificar os movimentos. Aqui em momento algum lançamos nome de candidato ou coisa parecida. Cada coisa no seu tempo e esse movimento tem a finalidade de mostrar nossa insatisfação pela forma desrespeitosa que o governo trata a categoria de militares. Para se ter uma idéia, nós temos colegas para ser promovido desde agosto e não foram. Somos a única categoria do estado que recebe meia diária. O porte de arma foi previsto em nosso estatuto, completou dois anos e meio e até agora nada. Então, o governo não cumpre a lei, não cumpre os acordos. E essa forma de tratar os militares tem causado um desgaste muito grande, nessa relação governo e servidor militar. O governo quer é esvaziar o nosso movimento, mas a categoria está unida e só vamos sair daqui se os manifestantes deliberarem pela saída.
Fonte: Francisco Costa/ac24horas.com
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