Quinta-feira, 17 de novembro de 2022 - 08h10
Foi deflagrada na manhã dessa quinta feira (17/11/2022) a
operação LAMASSU, decorrente de investigação conjunta do Ministério Público de
Rondônia, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
do Ministério Público de Rondônia (GAECO), Polícia Federal e Polícia Civil,
visando desarticular uma milícia privada constituída por proprietários de uma
fazenda no distrito de Nova Mutum, em Porto Velho/RO, composta por diversos
policiais das forças de segurança do Estado.
As investigações tiveram início em maio de 2021, após a
análise do material apreendido durante a deflagração da operação AMICUS REGEM
pela Polícia Federal em julho de 2020, na qual se investigava uma organização
criminosa, formada por servidores públicos e particulares, especializada em
fraudar processos judiciais de desapropriação de terras, causando prejuízo aos
cofres do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Foram identificadas fraudes na documentação dos terrenos,
tanto na localização dos imóveis, quanto na cadeia dominial dos posseiros e
proprietários, o que causaria "vício" na origem das ações judiciais
propostas pelos advogados da ORCRIM.
O nome da operação AMICUS REGEM significa “rei amigo” em
latim, referente ao envolvimento de um magistrado federal no esquema de
corrupção e desvio de recursos públicos de indenizações da reforma agrária,
cujo desdobramento resultou no encontro fortuito de provas e ensejou a abertura
da investigação objeto da deflagração nesta data.
A partir da análise do material apreendido, com a devida
autorização de compartilhamento de provas pela Justiça Federal, a Polícia
Federal instaurou inquérito policial específico para apurar a constituição de
milícia privada patrocinada pelos integrantes de uma mesma família para
garantir a posse sobre fazenda que vem sendo palco de inúmeros conflitos
agrários nesse Estado de Rondônia, com histórico de invasões e mortes em seu
interior, inclusive de Policiais Militares.
Para garantir a posse do imóvel, equivalente a duas vezes
todo o espaço urbano de Porto Velho/RO, com cerca de 33.000 hectares, os seus
proprietários constituíram e financiaram uma verdadeira milícia organizada para
afastar supostos invasores mediante intimidações, ameaças e uso da força
através da contratação de servidores públicos estaduais, extrapolando suas
funções habituais.
Restou demonstrado que os servidores eram contratados
mediante o pagamento de diárias pelos proprietários para permanecer na sede do
imóvel, com a utilização de armamento funcional e de grosso calibre, além de
realizarem rondas pela região para afastar os invasores, ocasionando
enfrentamentos e troca de tiros com ocupantes de invasão no local.
A partir do afastamento do sigilo bancário dos investigados
foi possível identificar movimentações financeiras superiores a R$
445.000.000,00 (quatrocentos e quarenta e cinco milhões de reais), sendo
efetivamente comprovado o pagamento de valores aos servidores contratados para
a função de segurança particular.
As investigações tiveram que ser desmembradas em razão da
competência da Vara da Auditoria Militar do Estado de Rondônia para apurar a
participação de integrantes da Polícia Militar.
Ao todo, a 1ª Vara da Auditoria Militar e a 4ª Vara
Criminal do Estado de Rondônia expediram 05 (cinco) mandados de prisão
preventiva, 01 (um) mandado de afastamento de função pública e 32 (trinta e
dois) mandados de buscas, cumpridos por equipes da Polícia Federal e Polícia
Civil do Estado de Rondônia, com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar de
Rondônia, nas cidades de Porto Velho/RO, Ariquemes/RO, Vilhena/RO, Cassilândia/MS
e Brasília/DF.
Os investigados responderão, na medida de suas
culpabilidades, pelos crimes de constituição, financiamento e integração de
milícia particular (art. 288-A do CP) e lavagem de dinheiro (art. 2º, §§ 2º,
3º, 4º, inciso II, da Lei nº 12.850/2013), dentre outros, cujas penas somadas
podem superar 20 (vinte) anos de reclusão.
O nome da operação, LAMASSU, tem como origem a mitologia
mesopotâmica, com referência a estátuas colocadas nas entradas dos palácios
reais para causar medo e afastar pretensos invasores.
Os presos, dentre os quais se inclui um advogado, serão
ouvidos pela Polícia Federal e encaminhados para as unidades prisionais
correspondentes, onde permanecerão à disposição da Justiça.
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