Sábado, 23 de setembro de 2017 - 19h36
São crescentes os sinais de que a campanha presidencial de 2018 terá fortes semelhanças com a de 1989, a primeira após o fim da ditadura. Uma delas será a presença de um presidente altamente impopular e rejeitado, contra o qual todos os candidatos vão atirar impiedosamente. A Geni da música de Chico Buarque. Assim foi com o então presidente José Sarney em 1989. Fernando Collor, que bateu mais, levou. Mas Temer, que não pode ir às ruas e nem mesmo aparecer nas redes sociais, pode cair antes, com a aprovação da segunda denúncia contra ele pela Câmara.
Em 1989 Sarney tinha de 7% de aprovação, o dobro do que tem Michel Temer hoje, 3,4%. A rejeição a Sarney era de 60% no final do mandato. A de Temer, segundo a pesquisa Ipsos, era de 94% em Julho. Sarney não apoiou nenhum candidato em 1989. Todos eram de oposição a seu governo, inclusive o do PMDB, Ulysses Guimarães, que também por conta da filiação de Sarney a seu partido, para poder ser vice de Tancredo Neves, amargou um quinto lugar no resultado final, apesar de ter sido o comandante da oposição ao regime militar, e ter sido o Senhor Diretas e o Senhor Constituinte. Temer também não terá candidato. Mesmo que queira, ninguém aceitará receber o beijo da morte de seu patrocínio.
Em 1989, foram 22 os candidatos a presidente. Para 2018, o número dos postulantes tem crescido dia a dia. E como o quadro partidário hoje é muito mais fragmentado, podemos chegar à mesma dispersão de candidaturas. Já temos a candidatura de Lula, o preferido em todas as pesquisas, mas condicionada ao trâmite dos processos que ele enfrenta na Justiça, com o objetivo claro de inabilitá-lo para a disputa. E ainda as de Bolsonaro (PSC), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (ou Dória, pelo PSDB), Alvaro Dias (Podemos) e Chico Alencar (PSOL). O DEM garante que terá candidato próprio. E haverá, é claro, uma constelação de candidatos de pequenas sigas, o que tornará o horário eleitoral insuportável.
Se Temer não cair antes, será a Geni de todos eles. Lula não o tem poupado. Álvaro Dias subiu o tom, agora chama Temer de chefe de quadrilha. Marina também está corrigindo seu discurso equivocado. Alckmin e Dória, por conta do apoio do PSDB ao Governo e da parceria com o PMDB no golpe, estão sendo indulgentes com Temer, e quando perceberem o erro que estão cometendo, pode ser tarde. Mas com certeza, acabarão direcionando o cano da espingarda para o ocupante do Planalto. Isso se ele ainda estiver na cadeira em 2018.
Pois crescem a olhos vistos as possibilidades de acolhimento desta segunda denúncia, apesar da cantilena dos governistas de que irão enterrá-la sem dificuldades e do começo da queima de emendas parlamentares e outros recursos para atender ao apetite dos aliados. Temer agora está com o arsenal fiscal esgotado, com a base dividida, com Rodrigo Maia ressentido e com os militares ameaçando com uma intervenção caso a crise não seja resolvida pelos poderes constituídos. A crise é sua permanência no Planalto.
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