Sábado, 16 de dezembro de 2017 - 15h06
Paulo Virgilio - Repórter da Agência Brasil
Retomada após dez anos de interrupção, a campanha Natal sem Fome, da organização não governamental (ONG) Ação da Cidadania, fundada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (que morreu em 1997), está superando as expectativas de seus organizadores. Desde as 8h deste sábado (16), representantes dos 160 comitês da Ação da Cidadania na região metropolitana do Rio de Janeiro estão recolhendo, na sede da ONG, na Gamboa, zona portuária da cidade, os alimentos para as famílias cadastradas. Cerca de 130 toneladas foram arrecadadas desde o dia 15 de outubro no estado.
Em mais 19 estados onde a campanha está sendo realizada, o recolhimento ocorre a partir deste fim de semnana e até o próximo sábado (23), antevéspera do Natal. No site www.natalsemfome.org.br, as doações continuam até o dia 31 de dezembro.
“Nós superamos a nossa meta nacional, que era de 500 toneladas. Estamos com 650 e as doações continuam chegando. É importante constatar que, apesar da crise, a solidariedade está em alta no Brasil. Tivemos a adesão de artistas, de empresas, da sociedade civil”, comemorou o presidente do Conselho da Ação da Cidadania e filho de Betinho, Daniel Souza. A campanha este ano foi realizada em parceria com a representação no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Agência Africa.
Segundo Daniel Souza, a decisão da Ação da Cidadania de retomar o Natal sem Fome resultou das informações que a ONG vinha recebendo, desde o ano passado, de sua extensa rede de mobilização, formada por comitês locais da sociedade civil organizada, a maioria compostos por lideranças comunitárias. “Nós resolvemos retomar a campanha como um alerta, um protesto contra a possibilidade de o Brasil voltar para o Mapa da Fome da ONU, apenas três anos depois de sair. Essa volta ao mapa é uma enorme derrota, uma enorme vergonha para o Brasil. A gente tem que priorizar esse público, que está logo acima e abaixo da linha da pobreza. Esse é o público que não resiste a uma crise econômica de dois ou três anos, como aconteceu. E se é fácil para eles cair de novo abaixo dessa linha, muito difícil é sair”, disse.
Segundo Daniel Souza, a Ação da Cidadania compreende a necessidade das políticas de ajuste macroeconômico, mas considera mais importante a situação das pessoas que estão no limite da pobreza. “Essas pessoas têm que ser a prioridade, acima de qualquer outra, porque a gente pode deixar de viajar, de ir ao restaurante, mas eles vão fazer o quê? Deixar de comer? Eles estão realmente no limite”, acrescentou.
Moradora de uma comunidade do bairro de Benfica, na zona norte do Rio, Maria Aparecida Vieira, de 70 anos, representa o comitê local da Ação da Cidadania, intitulado Prevenção e Geração. “O nome do comitê é porque a gente faz distribuição de preservativos e um trabalho com as mulheres de geração de renda”, explicou. Segundo ela, na comunidade há muitas famílias passando fome. “Estou levando 120 cestas. Temos 200 famílias cadastradas na comunidade esperando essa ajuda”, contou.
De acordo com Marlova Noleto, representante da Unesco no Brasil, é um motivo de orgulho estar associado a uma iniciativa como o Natal sem Fome. “Sabemos que a campanha isoladamente não vai acabar com a fome, mas já não há mais dúvida de que a contribuição de diferentes atores da sociedade é fundamental para enfrentar esse problema, que ainda hoje afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. O terceiro setor, a iniciativa privada e a sociedade civil podem e devem contribuir para que os resultados de políticas públicas possam ser ainda mais significativos", disse. Grandes empresas privadas, como Mastercard, iFood, Lojas Americanas, Walmart e Oi, participaram da iniciativa doando recursos, cestas ou sendo postos de coleta.
Entre as 10h e as 12h, músicos voluntários do Movimento Playing for Change Rio se apresentaram na sede da ONG, assim como fizeram na abertura da campanha, em outubro. O show teve a participação dos DJs Pimpolho e VP e de diversos cantores.
Segundo Daniel Souza, parte das cestas será destinada ao Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe), que representa os funcionários que estão sem receber salário há meses. O presidente da ONG disse ainda que em 2018 a Ação da Cidadania também vai retomar sua campanha pela ética na política, “para ver se a gente coloca no Congresso parlamentares que estejam realmente interessados em combater a fome a acabar com a miséria no país”.
(*) Colaborou Raquel Junia, repórter do Radiojornalismo no Rio de Janeiro
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