Quarta-feira, 30 de maio de 2018 - 12h25
247 - Temer virou uma batata quente para o país. O golpe lançou o Brasil no caos, seu governo está no chão e há perplexidade e mesmo desespero no mundo político em Brasília. O clima de fim de festa e confusão é tamanho que, na noite de segunda-feira, segundo apurou o 247, líderes dos partidos na Câmara dos Deputado, em clima de pânico, acorreram a uma reunião na residência oficial do presidente da Casa, Rodrigo Maia. A ideia sobre a mesa foi para que Maia viabilizasse a convocação do Conselho da República. Até líderes de partidos de esquerda teriam concordado com a ideia estapafúrdia, pois quem convoca o Conselho é o presidente da República. Maia comprometeu-se com a ideia que parece ter se tornado espuma, como tantas outras na capital nesses dias. A questão é: o que fazer com Temer? O país não o suporta mais, mas os líderes partidários estão com receio de tirar o miserável.
A situação de confusão em Brasília é tamanha que o Carlos Marun, amigo do peito de Eduardo Cunha e secretário de Governo de Temer, chegou a telefonar na segunda-feira para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, e para outros parlamentares do PT suplicando para que o partido atuasse contra as greves dos caminhoneiros. Segundo Pimenta, Marun "ligou para a pessoa errada". Depois de terem derrubado Dilma, os golpistas agora pedem água para o PT, por não conseguirem gerir o país.
A sensação de que passou dos limites generaliza-se. O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., disse nesta terça (29) no Fórum de Investimentos Brasil 2018 que “o Brasil não merecia passar pelo que está passando agora” e que "escorregamos e voltamos para trás”. O clima é de debandas entre as forças que apoiaram o golpe. A Folha de S.Paulo, até agora um dos pilares de sustentação do governo do golpe abandonou o barco no editorial de hoje, qualificando Temer como "cadáver entronado" e sua permanência como "aviltamento da Presidência da República”.
A saída menos traumática e democrática para a crise em que o golpe mergulhou o país seria a renúncia de Temer e a convocação de eleições diretas antecipadas, mas ele e a quadrilha seguram-se ao poder com unhas e dentes, com medo da prisão que parece inevitável depois de saírem do governo. O calendário é cruel com o Brasil: fala-se a todo momento de outubro, a data das eleições (são longos quatro meses até lá), mas a posse do novo presidente será apenas em janeiro -o país aguenta mais sete meses de desgoverno?
Ao mesmo tempo, o outro caminho para a saída de Temer, o processo de impeachment, parece ser arrastado demais para a urgência do momento.
Tereza Cruvinel, colunista do Jornal do Brasil, resumiu o impasse desta maneira: "Há um consenso no Congresso: o governo acabou. Será difícil e até arriscado, para a própria democracia, atravessar com ele os quatro meses que faltam para a eleição. Para a posse do novo presidente serão sete. Mas há também um dilema: vale à pena varrer Temer agora? O tempo que falta é longo para a gravidade da situação mas é curto para uma troca segura de governo. A não ser pela renúncia, que dele não virá." Ela acrescenta: "Há quem pense na antecipação da eleição mas isso só aconteceria por um acordo interpartidário, e a centro-direita não topará porque não tem candidato competitivo. As pesquisas continuam mantendo Lula e Bolsonaro na dianteira".
Em seu artigo, Cruvinel recolheu opiniões de alguns protagonistas de Brasília:
"'As próximas horas serão cruciais', diz o líder do PSB, deputado Júlio Delgado. 'Ou a greve murcha lentamente, prolongando a sangria do país, ou a coisa vai engrossar, com a adesão de outras categorias e protestos de rua. Os petroleiros vão parar, os fiscais da Receita estão parados. Dependendo do que acontecer agora, alguma coisa terá que ser feita', diz Delgado.
O líder do PSOL, deputado Chico Alencar, acrescenta: 'Este dilema está posto, e foi agravado pelo temor de intervenção militar, mas até o Bolsonaro repudiou essa pregação insana. Não há governo mas parece que teremos de chegar à eleição pisando sobre este tapete roto e sujo que é o Temer'.
Os (ex) aliados do governo também especulam sobre tudo isso, mas entre eles. O problema é que, não tendo candidato viável, ainda preferem a travessia na pinguela, com todos os riscos."
A questão é: a pinguela não está aguentando mais o peso do governo do golpe.
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