Quarta-feira, 19 de julho de 2023 - 15h09
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) encontra-se em
situação crítica devido à escassez de servidores para o desempenho de suas
atividades. Desde a implantação da Lei nº 10.871, em maio de 2004, que resultou
em uma redução drástica de mais de 50% no número de servidores, a agência tem
enfrentado dificuldades para cumprir suas atribuições, comprometendo a
fiscalização e a análise de produtos essenciais à saúde da população. O setor
mais afetado é o das unidades da ANVISA em portos, aeroportos e fronteiras.
De acordo com dados divulgados pelo Sinagências (Sindicato Nacional
dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação), em junho de 2005, a ANVISA
contava com cerca de 3.000 trabalhadores entre empregados e servidores
redistribuídos. Atualmente, esse número foi reduzido para 1.368 vagas, deixando
uma lacuna significativa no quadro de pessoal. Como resultado, os servidores
remanescentes encontram-se sobrecarregados, sendo exigido deles um esforço
extraordinário para lidar com o aumento constante de demandas e processos.
Um exemplo é o caso recente do Aeroporto de Guarulhos, onde foi
identificado um surto de sarna entre afegãos refugiados que se encontram em
situação temporária no local. Esse incidente chamou a atenção para as condições
precárias de higiene nas quais essas pessoas estão submetidas. Com a falta de
servidores, aumenta o risco de irregularidades passarem despercebidas e
comprometerem a segurança do país.
De acordo com relatório oficial da agência, publicado em 2020, as
Coordenações de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos, Fronteiras e
Recintos Alfandegados (CVPAFs), localizadas nas unidades federadas, são
compostas, majoritariamente, por servidores do Quadro Específico, que
representam aproximadamente 40% da atual força de trabalho desta Agência. À
medida que forem concedidas as aposentadorias dos servidores do Quadro
Específico, os cargos são extintos por força de lei (§ 2º do art. 19 da Lei nº
9.986/2000). Esse fato impacta significativamente na redução do quadro de
servidores, na medida em que não há criação de novas vagas na mesma proporção.
Em 2020 foram concedidas 41 aposentadorias. Atualmente, cerca de 245 servidores
já poderiam se aposentar.
"A ANVISA desempenha um papel crucial na proteção da saúde
pública e na garantia de condições sanitárias adequadas. É fundamental que o
governo e as autoridades competentes reconheçam a importância de investir em
pessoal qualificado e suficiente para que a agência possa desempenhar suas
funções de forma efetiva", afirma o presidente do Sinagências, Cleber
Ferreira.
A entidade tem alertado para o colapso operacional nesses setores há
anos, apontando a necessidade de reestruturação, aumento do quadro de
servidores e medidas efetivas para solucionar o problema. "Planos
emergenciais e paliativos não são suficientes para reverter a situação atual.
Depois da Agência Nacional de Mineração (ANM), a ANVISA é a que mais sofre com
o sucateamento", enfatiza o presidente.
Matérias recentes na mídia ignoraram os dados constantes nos
relatórios de gestão da agência. Neles, são registrados alertas, ano após ano,
sobre as consequências da extinção de cargos e seus impactos na capacidade
operacional, principalmente em portos, aeroportos e fronteiras.
A fonte das informações é de uma associação que não enxerga os
servidores do quadro específico, responsável pela construção da ANVISA. Além
disso, ignoram os apelos do Diretor Presidente e do Sinagências pela reposição
urgente de pelo menos 1000 cargos.
O Sinagências já realizou audiências junto ao Ministério da Saúde em
2022 e, mais recentemente, junto ao coordenador da Equipe de Transição do
Governo, vice-presidente Geraldo Alckmin, para reforçar o pleito de concurso
para a ANVISA.
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