Sexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Política - Nacional

Cabral admite uso generalizado de caixa 2 nas campanhas



Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil

Preso desde novembro do ano passado, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral afirmou hoje (10) que receber doação de campanha por meio de caixa 2 é uma prática disseminada em "todo o Brasil” e usada “por todos os partidos” nos períodos democráticos do país. Para Cabral, o Brasil “é um país de muito pouca tradição democrática”.

“Este é o modelo do Brasil, esta distorção", destacou Cabral, reconhecendo que a prática de caixa 2 "é um erro", embora se veja isso "o tempo todo” no país.

Cabral prestou depoimento perante o juiz da 7ª Vara Federal no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, dentro do inquérito da Operação Mascate, um desdobramento da Operação Calicute.

Sobras de campanha

Antes de Cabral, o ex-assessor da Casa Civil do governo Ary Filho, preso em fevereiro na Operação Mascate, sob acusação de lavagem de dinheiro e organização criminosa, afirmou ter recebido ao todo entre R$ 9 e R$ 10 milhões em espécie, como bônus destinado por Cabral de sobras de campanha. Ele disse que coordenou todas as campanhas políticas de Sérgio Cabral desde 1998 até 2010, além das duas de Eduardo Paes à prefeitura do Rio, em 2008 e 2012, e a do atual governador Luiz Fernando Pezão, em 2014.

“O Sérgio Cabral pegava o dinheiro e mandava para mim, eu fui juntando. Tinha muita sobra de campanha, tinha empresários que ajudavam eles. Eu ficava afastado dessa parte, não me metia na arrecadação, não sabia a origem. Eram empresas privadas, de campanha mesmo. Ele [Cabral] pegava e me dava o dinheiro, não era tudo de uma vez. Ele falava: 'Ary, sobrou isso pra você, você vai receber isso'. Eles não me deixavam participar das decisões, eu só ia buscar o dinheiro”, afirmou Ary Filho.

Ele disse que, por sugestão do empresário Adriano Martins, dono de concessionárias envolvidas no esquema e da Imbra Imobiliária, usou esses recursos para comprar imóveis. “Ele disse: 'se você tem esse dinheiro, traz pra cá, compra esses imóveis e recebe aluguel, o dinheiro não fica parado'. Eu viajava com ele, ele frequentava minha casa. Eu dei o dinheiro pra ele comprar os imóveis. Inclusive comprei um dele, em Jacarepaguá. Ele disse: 'é bom porque os imóveis ficam na minha empresa'. Ele disse que eu poderia ser assaltado, então era para usar para ter lucro. Não comprei no meu nome porque não tinha caixa. Não tinha a origem desse dinheiro.”

Ary Filho disse que Martins também intermediava o aluguel de carros para as campanhas, cerca de 150 veículos, além de 10 blindados, com acerto de lançar apenas 20% do valor na nota fiscal a ser apresentada na prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral. Os 80% restantes eram pagos em espécie. Ary Filho também contou também que intermediou reunião entre Carlos de Miranda, apontado pelo Ministério Público como operador financeiro da organização criminosa liderada por Cabral, com representantes da cervejaria Itaipava e do supermercado Prezunic. Na Itaipava e no Prezunic teriam sido arrecadados cerca de R$ 10 milhões, R$ 5 milhões em cada.

Cabral nega

No depoimento, Cabral admitiu que tinha entregado a Ary Filho algum recurso de sobra de campanha, mas ressaltou que o volume não chegou a 15% do que o ex-assessor afirmou. “Não reconheço esse valor. Eventualmente, após a campanha, alguma sobra pode ser, mas menos de 15% desse valor. Um milhão pode ser. Eu li no processo, mas eu não tenho nada a ver com esses imóveis, com essa compra e venda. Não é verdade isso, não reconheço esse valor de R$ 9 milhões.”

Segundo Cabral, é “comum na política” assessores próximos usarem o nome dos ocupantes de cargos eletivos para pedir contribuição. O ex-governador disse que ficou surpreso com o número de apartamentos, com os carros. "Eu não sabia. Agora, justificar o recurso [obtido] com essas empresas ou [como] sobra de campanha, não é o caso. Muitas vezes, os assessores próximos usam o nome do governador, do parlamentar, do juiz. Eu fui chefe de dois poderes, então sei como funciona.”

Sobre a Itaipava e o Prezunic, Cabral admitiu que as duas empresas fizeram doações para suas campanhas, mas disse que não se recorda se foram legais ou em caixa 2. O ex-governador também rechaçou a acusação de que havia um esquema de propina de 5% em contratos públicos para dividir entre os acusados.

“Isso eu posso afirmar ao Ministério Público Federal: nunca houve contrapartida. Nunca houve propina. O Ministério Pública colocou que os delatores falam de 5%. Nunca houve isso – eu vejo e fico atônito com isso. Que 5% é esse? Nunca houve isso. Reconheço, sim, que houve caixa 2. Mas esses valores para compra de apartamentos eu desconheço, nunca soube disso.”

Carlos de Miranda também foi convocado para depor hoje, mas, por orientação dos advogados, permaneceu em silêncio. 

Para quarta e sexta-feira, estão marcados depoimentos relativos ao inquérito da Operação Eficiência.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta sexta-feira (25) maioria de votos para determinar que a Câmara dos Deputados faça a redistribuição do

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (SInagências) conseguiu uma solução direta do governo após intensa articulaç

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Reservas foi instaurada em Rondônia para investigar possíveis irregularidades nos processos de criação

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Na tarde dessa segunda-feira (06), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), Paulo Pimenta, esteve r

Gente de Opinião Sexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)