Terça-feira, 5 de setembro de 2017 - 06h18
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer reagiu com serenidade ao anúncio de que a Procuradoria-geral da República vai investigar e pode desfazer o acordo de delação premiada com os executivos da J&F, mas o Palácio do Planalto comemorou o que já pode ser contado como um ganho político para o governo.
“Com a serenidade de sempre, não houve uma alteração sequer”, disse Temer a jornalistas, em Xiamen, na China, onde participa de cúpula do Brics, ao ser perguntado sobre como recebeu a notícia.
“Eu não falo sobre isso”, disse o presidente. “Tenho que ter a maior serenidade, como sempre tive. Respeito todas as decisões que forem tomadas pela Justiça, pela Câmara dos Deputados, pela Procuradoria-Geral da República. Eu tenho que respeitá-las mas não posso falar uma palavra sobre isso”, acrescentou.
“Isso é coisa do meu advogado, o advogado que tem que cuidar disso.”
Temer estava acordando em Xiamen quando foi informado de que Janot faria um pronunciamento, contou um auxiliar do presidente. Depois, foi informado pelo mesmo auxiliar do conteúdo das declarações do procurador-geral e buscava fazer contato com seu advogado, Antonio Mariz de Oliveira, para ter mais detalhes das consequências. Uma delas, explicou a fonte, pode ser o questionamento das provas que foram apresentadas.
“A consequência política mais evidente é no Congresso. O que aconteceu já é grave o suficiente para ter impacto político sim”, disse a fonte.
As declarações do procurador-geral, Rodrigo Janot, que colaboradores --um deles é Joesley Batista, um dos donos da JBS, controlada da J&F-- omitiram informações com indícios de crimes “gravíssimos” confirma a tese defendida pelo Planalto desde o início, de que a denúncia era açodada e de que havia mentiras e omissões.
“Desde o início falamos que tinha de investigar mais profundamente para fazer uma denúncia contra o presidente da República. A tese de que havia mentira e omissão está comprovada”, disse a fonte.
O Planalto esperava para esta semana a segunda denúncia que Janot sinalizou que apresentará contra o presidente Michel Temer. No Congresso, parlamentares, mesmo da base, admitiam que o governo saiu enfraquecido da negociação para barrar a primeira denúncia e que a fatura de um segundo acordão poderia ser ainda mais alto. A menos que a denúncia fosse fraca.
REFORÇO NO DISCURSO DE TEMER
Apesar de Janot garantir que as provas ainda são válidas, o fato de Joesley --que no Planalto é chamado de Mentiroso Geral da República-- ter omitido fatos e mentido no acordo facilita o discurso para os parlamentares e desses para suas bases.
Na sexta-feira, depois de uma entrevista à revista Veja em que Joesley Batista chamou Temer de “Ladrão Geral da República”, o Planalto divulgou uma nota em que já chamava o empresário de mentiroso. “No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados. Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o perdão eterno do procurador-geral”, dizia o texto.
Presidente interino da Câmara durante a viagem de Temer, o deputado André Fufuca (PP-MA), afirma que não há como saber se a nova situação ajuda ou não o presidente.
“Isso na verdade cabe à Procuradoria e ao Judiciário. À Câmara caberá se manifestar no momento em que tiver o seu manifesto”, disse.
O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), que liderou a ala do partido que votou a favor da primeira denúncia contra Temer, disse que vê a situação como um problema do delator e que será preciso analisar o impacto disso para a segunda denúncia contra o presidente.
“Imagino que o problema é de quem fez a delação, pode não ter complementado as provas, não ter oferecido todo tipo de sustentação”, disse.
Procurado pela Reuters, Mariz não retornou ligações nem mensagens.
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