Quinta-feira, 6 de julho de 2017 - 15h28
Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A Justiça Federal decidiu transferir na quarta-feira o empresário Lúcio Funaro do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, para a Superintendência da Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal, que negocia com a defesa do empresário um acordo de delação premiada que vai atingir o presidente Michel Temer, apurou a Reuters com fontes envolvidas nas tratativas.
A expectativa inicial da defesa de Funaro era que o acordo fosse fechado até o final de junho, conforme havia mostrado reportagem da Reuters há duas semanas. Mas o empresário, com auxílio de advogados, ainda trabalha nos anexos com as informações que pretende apresentar na delação. As conversas ocorrem com a equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Em depoimento à PF, Funaro acusou Temer de ter orientado a distribuição de recursos desviados da Caixa Econômica Federal e de saber do esquema de propina paga em contrato da Petrobras com a Odebrecht. Nesse depoimento, ele disse publicamente estar disposto a fazer uma colaboração premiada.
Temer negou qualquer envolvimento com propinas da Odebrecht quando foram divulgadas as delações de executivos da empresa. Sobre a acusação de Funaro de que o presidente teria orientado a distribuição de recursos, o Planalto afirmou "que nunca houve tal orientação".
Funaro também implicou o ex-ministro Geddel Vieira Lima em desvios na Caixa quando ocupava a vice-presidência de pessoas jurídicas do banco. Segundo Funaro, Geddel teria recebido 20 milhões de reais em propina do esquema de corrupção dentro do banco. As acusações dele reforçaram a decisão da Justiça de decretar a prisão preventiva do ex-ministro na última segunda-feira.
A defesa de Geddel afirma que o ex-ministro é inocente, tendo aberto mão voluntariamente de seus sigilos bancário e fiscal, e que sua prisão foi "absolutamente desnecessária".
Ao menos Temer, Geddel e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha serão envolvidos na delação de Funaro, caso ela venha a ser fechada com a Procuradoria-Geral da República, conforme apurou a reportagem. A linha de atuação é implicar o chamado grupo do PMDB da Câmara, com quem o empresário sempre teve proximidade e faria a intermediação de operações ilícitas.
Funaro está preso há um ano e pessoas próximas a ele avaliam que o cenário ideal é fechar uma delação o quanto antes, ainda na gestão de Janot, que deixa o comando da PGR no dia 17 de setembro.
O advogado de Funaro, Antonio Figueiredo Basto, afirmou à Reuters que não vai se pronunciar sobre a eventual delação do empresário. "Não vou falar", disse.
A delação de Funaro é uma das principais sendo negociadas agora pela Procuradoria-Geral da República. Além de Funaro, estão adiantadas as negociações com o ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba.
Próximo de deixar o cargo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quer sair da Procuradoria não apenas com os dois acordos de delação fechados, mas também com as ações e pedidos de abertura de inquéritos enviados ao Supremo Tribunal Federal.
Indicada por Temer para substituir Janot, Raquel Dodge, foi a segunda colocada na lista tríplice apresentada ao presidente Michel Temer pelo MP. Janot e Dodge tem divergências públicas sobre os métodos de trabalho da PGR, mas a futura procuradora-geral garante que manterá o trabalho da operação Lava Jato intacto.
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