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Política - Nacional

Documentos mostram ajuda americana ao golpe de 64


Agência O Globo RIO - Documentos descobertos pelo historiador Carlos Fico, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), num arquivo de Washington, revelam que os Estados Unidos planejaram intervir no Brasil e ofereceram ajuda militar às forças que faziam oposição a um presidente brasileiro O documento de sete páginas, intitulado "Um plano de contingência para o Brasil" foi elaborado com ajuda de Lincoln Gordon - na época, embaixador americano no Brasil e enviado para o conselheiro de segurança nacional da presidência dos Estados Unidos. Nele, Gordon descreve para a Casa Branca diferentes possibilidades para a eventual queda do presidente brasileiro, João Goulart. A correspondência fala dos riscos de uma revolta de extrema esquerda e até de uma intervenção comunista no Brasil, com o apoio do bloco soviético ou de Cuba. O embaixador cita a hipótese de retirada de Goulart por forças que classifica como "construtivas". O presidente seria "convencido" a entregar o poder e, no lugar dele, assumiria o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli. Isso incluiria uma tomada temporária do poder pelos militares. Três meses e meio depois da redação do plano de Gordon, estoura o golpe que derruba João Goulart. Tropas sediadas em Minas Gerais avançam contra o Rio de Janeiro. Na madrugada de 2 de abril, o então presidente do Congresso declara que Jango não é mais o presidente. "O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Assim sendo, declaro vaga a presidência da República. Declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli", afirmou, na ocasião, o senador Auro Moura Andrade. Goulart não ofereceu resistência - deixou Brasília e morreu no exílio, 30 anos atrás. Duas semanas depois, o ex-chefe do Estado-maior do Exército, marechal Castello Branco, assume a presidência. - As diretrizes que estão estabelecidas no final de 1963, afinal, se realizam de maneira muito precisa em março de 1964. Esse planejamento parece que foi utilizado como diretriz pelos conspiradores, ou, pelo menos, essa conspiração foi conjunta, e nela estava integrado também o embaixador Lincoln Gordon - acredita o historiador da UFRJ, Carlos Fico. - É a primeira vez que se tem um documento que comprova isso, quer dizer, na verdade, não é delírio da oposição ou daqueles que sofreram com o golpe. É um dado da história - destaca a diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Jessie Jane Vieira de Sousa. Fico descobriu os originais do plano de contingência em um arquivo público americano, perto de Washington. - E esse plano de contingência estava no meio de documentos absolutamente rotineiros - acrescenta Fico. Também no meio da papelada, o professor encontrou um telegrama mandado pelo departamento de Estado americano para o embaixador Lincoln Gordon, no Brasil no dia 31 de março de 1964, exatamente o dia em que estoura o golpe contra o governo de Jango. Nele , o departamento de Estado explica como será o apoio às forças contrárias a Goulart, a chamada Operação Brother Sam: " quatro navios petroleiros da Marinha americana vão ser despachados de Aruba, no Caribe, para a cidade de Santos; será enviada uma força tarefa naval, compostas por um porta-aviões e seis destróieres e o desembarque de 110 toneladas de munição. A carga inclui gás lacrimogêneo para controle de multidões, dez aviões de carga, seis de reabastecimento e mais seis aviões de guerra fariam o transporte do material". Fico não acredita que pudesse haver uma invasão norte-americana ao Brasil, mas considera o pouso de aeronaves norte-americanas em solo brasileiro, trazendo armas e munições, tão grave quanto praticamente uma invasão. Três anos atrás, em entrevista ao Fantástico, o embaixador Gordon negou que os Estados Unidos estivessem envolvidos no golpe de 64. "A participação ativa foi absolutamente zero", garantiu o embaixador na época. Goulart não ofereceu resistência - deixou Brasília e morreu no exílio, 30 anos atrás.

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