Sábado, 9 de dezembro de 2017 - 13h15
BRASÍLIA (Reuters) - O PSDB elegeu neste sábado o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como o novo presidente da legenda e aproveitou a convenção partidária para reeditar em discursos a “polarização” com o ex-presidente e atual líder das pesquisas de intenção de voto Luiz Inácio Lula da Silva na próxima disputa ao Palácio do Planalto.
Nos pronunciamentos, os tucanos minimizaram a força eleitoral e criticaram o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado nas sondagens para presidente da República. Também pouparam de críticas o governo do presidente Michel Temer, após a recente saída dos dois principais ministros da legenda da Esplanada, Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Bruno Araújo (Cidades).
Com discurso de candidato ao Planalto, Alckmin fez um duro pronunciamento contra as gestões do PT no governo federal. “A ilha da fantasia petista nunca foi a terra prometida. A ilusão petista acabou em pesadelo na maior crise econômica e ética da história do país”, acusou.
O tucano mirou Lula como alvo ao dizer que os brasileiros estão “vacinados” contra o modelo lulo-petista de confundir para governar. “Depois de ter quebrado o Brasil, o Lula disse que quer voltar ao poder. Ele quer voltar à cena do crime?”, questionou.
Segundo Alckmin, o ex-presidente vai ser condenado pela maior recessão da história, que gerou 15 milhões de desempregados, do desgoverno que destruiu a Petrobras e deixou uma série de obras inacabadas e ainda por ter incitado o conflito entre os poderes. Para ele, Lula é o “grande responsável” pela década perdida.
O presidente eleito do PSDB, que busca se viabilizar presidenciável com o apoio do PMDB de Temer, foi um dos raros que fez aceno ao atual presidente. Alckmin fez questão de registrar os “esforços” do atual governo que começou a reverter o cenário de tragédia econômica.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu o tom do discurso de polarização com o ex-presidente Lula na disputa presidencial. “Prefiro combatê-lo nas urnas a vê-lo na cadeia”, disse.
FHC disse que o partido precisa se reconectar com a sociedade, ir conversar com o povo nas ruas. Afirmou que as pessoas querem decência, emprego, saúde e segurança após a “tragédia” pela qual o país passou com milhões de desempregados, as finanças desorganizadas e um sem número de processos de corrupção.
Embora tenha elogiado a disposição do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, de concorrer às prévias do partido para candidato a presidente, o ex-presidente fez acenos a Alckmin, chamando o de “simples”.
Em um dos discursos, o prefeito de São Paulo, João Dória, declarou “apoio incondicional” a Geraldo Alckmin para o comando do PSDB e para alcançar a presidência da República. “Esse é o discurso da unidade que vai à vitória em 2018”, disse Dória, que chegou a ser cotado a candidato presidencial, mas no momento busca garantir uma candidatura ao governo de São Paulo.
Dória apontou o PT como o principal adversário dos tucanos, na tentativa de reeditar a polarização eleitoral na disputa ao Palácio do Planalto que ocorre desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso venceu Lula pela primeira vez. “Lá (em São Paulo) arrasamos o PT no ano passado (na eleição municipal). Não há mais cinturão vermelho. Lá só deu PSDB”, disse.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, também disse que não haverá polarização dos extremos e considerou que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) não tem força e consistência para liderar o país e que o PSDB tem condições de derrotar Lula no próximo ano.
“Não acredito na vitória do Lula a quem um dia já chamei de canalha. Esperamos que nós possamos enfrentar o Lula como o presidente Fernando Henrique Cardoso, que ganhou dele duas vezes”, disse.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que foi presidente interino do partido durante a maior parte do período de afastamento do senador Aécio Neves da presidência da legenda, defendeu que o Brasil precisa do PSDB “mais do que nunca” porque não pode conviver com o extremismo e o populismo. “O Brasil precisa de um gestor equilibrado e com propostas sensatas, não com propostas demagógicas que não vão levar o Brasil a lugar nenhum”, disse Tasso.
Em meio ao discurso de Tasso, houve uma confusão entre militantes tucanos que chegaram até a arremessar cadeiras. Tasso disse que o episódio não condizia com a busca de união do partido. “Isso não é digno do momento que estamos vivendo”, afirmou.
O senador José Serra (PSDB-SP), que já concorreu e perdeu duas vezes para petistas na corrida presidencial, disse que é preciso evitar o “populismo salvacionista”.
“Não podemos deixar que o Brasil seja levado para essa radicalização que nos levará a um caminho muito pior - temos de evitar”, disse. “Temos o dever de governar o Brasil até para frear o desenvolvimento desses extremismos que vai nos levar a um resultado desastroso”, completou.
Envolvido na delação de executivos da JBS, o senador Aécio Neves não subiu ao palco da solenidade e tampouco foi mencionado nos pronunciamentos.
Na entrada da convenção, Aécio disse que Alckmin terá todas as condições de levar o PSDB a reafirmar os seus compromissos em favor das transformações. “Estamos prontos para ser o ponto de equilíbrio que o país precisa para voltar a crescer”, disse. Ele falou com a imprensa na chegada, votou e saiu em silêncio.
No discurso, o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio, foi o único a indiretamente citar o envolvimento do partido em escândalos. Ele defendeu a punição de correligionários envolvidos em corrupção.
Ao contrário do que desejava aliados de Alckmin, de ungi-lo presidente do PSDB e candidato único ao Planalto no evento deste sábado, Arthur Virgílio insistiu e colocou seu nome como pré-candidato. Ele disse que não aceitará uma coligação com o PT ou PMDB.
“Seremos capazes de derrotar indo pelo centro contra o fascista homofóbico e o meliante que quer voltar a ser presidente”, disse ele, referindo-se a Bolsonaro e Lula.
Estiveram presentes poucas lideranças de partidos, nenhuma delas do PMDB. Participaram ou passaram pelo evento os presidentes do PPS, Roberto Freire, e do PTB, Cristiane Brasil, e representantes do PSC, PR e PSB, como o vice-governador de São Paulo, Márcio França.
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