Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil
O porta-voz do governo do Acre, Leonildo Rosas, designado para falar sobre o fluxo migratório de haitianos no Brasil, apontou que somente “de ontem para hoje, chegaram mais 220 imigrantes no nosso abrigo, a maioria de haitianos”.
Ele citou o dado para explicar que a suspensão do deslocamento dos estrangeiros para São Paulo vai fazer com o problema continue concentrado no estado acriano. “Houve entendimento com governo de São Paulo e o Ministério da Justiça para que a suspensão ocorra neste momento, embora saibamos que nós, aqui, vamos continuar sofrendo”, declarou.
Rosas destacou que o Acre trabalha com o governo federal em uma transição desde abril, para que a responsabilidade sobre o acolhimento dos imigrantes deixe de ser estadual.
“Todo dia chega gente, e a nossa capacidade de pessoal, financeira e de material se exauriu. Nos últimos quatro anos, o governo do Acre já gastou, de recurso próprio, mais R$ 10 milhões para abrigar haitianos e irmãos de outros países”, declarou.
Segundo o porta-voz, este esgotamento ocorre mesmo com o recebimento de recursos federais. Desde o final de 2010, o estado acolheu quase 40 mil estrangeiros, informou.
Na sua avaliação, o aumento do fluxo para São Paulo se deve ao fato de que os haitianos estavam represados no Acre, aqueles que não tinham condições de custear a própria passagem para outros estados.
“Só em maio, cerca de 500 imigrantes foram para outros estados por conta própria. Segundo nossa ficha de identificação, a maioria deles foi para São Paulo. Essas pessoas têm condição de comprar passagens e ir para os seus destinos sem procurar os abrigos públicos. Esse fluxo migratório nunca parou para essas pessoas”, explicou.
Esse traslado gratuito, do Acre para outros estados, foi interrompido por um período por falta de recursos. “A empresa que fornecia o transporte parou de fazer, porque não tínhamos o recurso do governo federal”, justificou.
Ele explicou que os haitianos são livres para escolher o estado de destino, pois a maioria não deseja ficar no Acre. Dados das fichas de identificação feitas no abrigo acriano revelam que 95% optam por São Paulo. Enquanto o deslocamento estiver suspenso para a capital paulista, será possível, no entanto, viajar até outro estado, segundo informou. “Eles escolhem para onde querem ir e o governo procura dar encaminhamento a esta demanda”, declarou.
Sobre o fato da prefeitura de São Paulo não ter sido avisada sobre a chegada de grande número de haitianos, Rosas nega qualquer conflito ou cisão, seja com o governo federal ou com o governo da capital paulista.
“Prefiro olhar para frente. A partir desta conversa da equipe do [prefeito Fernando] Haddad, nosso governo e do governo federal, se houve algum ruído na comunicação, que seja reparado, para que a prefeitura não diga novamente que foi pega de surpresa”, apontou. Ele informou que, caso algum ônibus siga para outros estados, os governos serão comunicados via articulação com o Ministério da Justiça.
Segundo Rosas, o governador do Acre, Tião Viana, terá reunião amanhã (21), na Casa Civil da Presidência, para tratar do assunto. Para o porta-voz uma solução definitiva para a questão seria organizar uma estrutura do governo brasileiro em Porto Príncipe para organizar documentação e orientar os haitianos na vinda ao Brasil.
“Isso vai dar mais segurança para os imigrantes, vai evitar comércio ilegal de coiotes e vai solucionar definitivamente um problema que vem sendo constante e vem sendo pauta no nosso país há cinco anos”, sugeriu.