Quarta-feira, 26 de dezembro de 2018 - 10h21
O dia é bom: a ceia de Natal
normalmente é caprichada, os religiosos ou foram à Missa do Galo ou a viram
pela TV, houve presentes, famílias se reuniram (claro, com brigas, mas isso faz
parte: acaba se incorporando ao folclore da festa). Há boa disposição,
portanto. E a boa disposição faz com que a boa notícia possa ser bem recebida,
sem o mau humor habitual de quem se habituou a ouvir lorotas.
A notícia: embora a situação econômica seja
ainda muito ruim, é bem melhor do que já foi. E indica a possibilidade real de
que possamos chegar a um ritmo aceitável de crescimento e acelerar a criação de
empregos. O desemprego é de 12%, altíssimo, mas há um ano o número de
desempregados era quase 1,5 milhão superior ao atual. O PIB, produto interno
bruto, cresce a lentíssimos 1,3% no ano, quase nada diante dos 7% de queda com
Dilma. Ainda se gasta muito, mas o déficit público está longe do buraco de 3,7%
do PIB na época do impeachment. A inflação, que com Dilma flertava com 10%,
está dentro da meta de 4%.
Falta muito: é preciso reduzir
despesas, baixar os gastos da Previdência, negociar com o Congresso a aprovação
de reformas importantes, verificar se é politicamente possível mexer na
estrutura tributária na hora em que os Estados estão sem dinheiro e temem a
possibilidade de perder receita. Falta dar impulso à indústria, estudar como
outros setores da economia poderão repetir o êxito do agronegócio – quase tudo,
enfim. Mas se vê que há saída.
A
má notícia
Há saída, claro, se houver
esforço conjunto para conter despesas. Estão os políticos tentando economizar?
Não: há dias, o Congresso aprovou verba de R$ 927,7 milhões, em 2019, para o
Fundo Partidário. De 1996 para cá, a quantia destinada aos partidos cresceu
perto de 500%. O Fundo é formado por recursos do Orçamento, mais multas
eleitorais. Seu crescimento explica a febre de criação de partidos políticos no
país. Em 1996, segundo levantou O Estado de S. Paulo, havia 19 partidos com
acesso ao Fundo Partidário. Hoje, são 30. Ter um partido vale a pena: dá
dinheiro. A propósito, o Fundo existe para custear a estrutura dos partidos,
mas é usado na eleição.
Diferente,
mas igual
Como agora existe a cláusula
de barreira (um número mínimo de votos para que o partido seja representado no
Legislativo, e o dinheiro do Fundo só é dado a quem tenha representantes),
muitas legendas devem se fundir, para que continuem a receber suas verbas.
Reduz-se assim o número de partidos? Talvez – mas há também os partidos a ser fundados.
A disputa no PSDB entre cabeças brancas (que querem o partido na oposição,
embora não sistemática) e os cabeças pretas (que querem um partido
bolsonarista) deve terminar com o atual PSDB nas mãos da facção Doria e a
criação de um novo partido por cabeças brancas como Fernando Henrique, Alckmin,
Serra, Tasso, Goldman e outros – como Paulo Hartung, do Espírito Santo, que
quer um partido centrista, desejo também de Fernando Henrique.
E, não esqueçamos, o Partido Novo estreou com
sucesso, elegendo até mesmo um governador. Seu exemplo deve estimular a criação
de outros partidos.
A
boa ideia
O deputado Alceu Moreira, do
MDB gaúcho, presidente da FPA, Frente Parlamentar da Agricultura, disse que não
foi difícil emplacar a candidata do grupo ao Ministério da Agricultura. Em
entrevista a Os Divergentes (https://osdivergentes.com.br), contou que
Bolsonaro pediu ao grupo uma lista com três nomes, para que ele fizesse a
escolha. A FPA atendeu ao pedido: os três nomes eram 1) Tereza; 2) Cristina; 3)
Corrêa da Costa Dias. Era o nome da deputada Tereza Cristina, então presidente
do grupo, em três pedaços. Bolsonaro gostou da ideia bem-humorada e nomeou a
indicada.
A
má ideia
Talleyrand, o grande diplomata
francês que conseguiu ser ministro no Reinado e na República, com Napoleão e
com os inimigos de Napoleão, dizia que a palavra foi dada ao homem para
disfarçar seu pensamento. Em boa parte, diplomacia é isto: a troca de
confrontos armados por negociações em que as palavras, por definição, não podem
transmitir agressividade.
O Brasil age ao contrário, ao
retirar o convite para que Cuba, Venezuela e Nicarágua assistam à posse de
Bolsonaro, por condenar seus regimes ditatoriais. Tudo bem – e a China, o maior
parceiro comercial do Brasil, será uma democracia? Alguém irá “desconvidá-la”?
E a Arábia Saudita, o Irã, a Guiné Equatorial, o Sudão, serão por acaso
democracias? No fundo, com o sinal trocado, é a mesma posição de Lula ao apoiar
abertamente a eleição de Evo Morales na Bolívia, também por motivos ideológicos.
O
mundo como ele é
O futuro chanceler, Ernesto
Araújo, disse que o Governo “terá postura firme e clara na defesa da
liberdade”. Um belo pensamento, digno de aplauso. Mas de quem é que o Brasil
vai comprar petróleo quando precisar?
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