Quinta-feira, 10 de agosto de 2017 - 18h04
A deficiência na formação de mão de obra e a inexistência de conectividade de internet em grandes áreas do interior do País foram apontadas por especialistas ouvidos em audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural como os principais empecilhos para a difusão da modalidade de produção conhecida como agricultura de precisão (AP) no País.
Este modo de produção usa tecnologias como GPS, sensoriamento remoto e análise de imagens obtidas por satélite no campo para aumentar a produtividade e o lucro por meio da detecção de áreas mais ou menos produtivas dentro da mesma plantação.
Estas ferramentas, como o uso de drones ou sensores nos tratores, são capazes de detectar, dentro da mesma lavoura, áreas com índices três vezes maiores ou menores de produção, o que facilita a correção do solo e o uso de insumos de maneira pontual e precisa.
José Paulo Molin, representante da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão, mostrou mapas de plantações de cana-de-açúcar em que algumas áreas produziam 50 toneladas por hectare e outras 150 toneladas.
“O objetivo da agricultura de precisão é otimizar o uso de insumos, aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos, além de minimizar impactos ambientais”, explicou.
Preocupações
Deputados da comissão manifestaram preocupação com os custos e a formação da mão de obra. "Como é que nós poderíamos trazer esse processo em um contexto de mão de obra com pouca capacitação no campo?”, perguntou o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC).
"Como é que a gente consegue fazer com que essas tecnologias, esses conhecimentos, cheguem lá na pontinha, lá onde não tem internet, onde o celular não pega?”, reforçou o deputado Heitor Schuch (PSB-RS).
15% dos produtores
Não existem dados precisos sobre o uso dessas tecnologias no País, mas José Paulo Molin, com base em informações fornecidas por uma empresa que atua na área de grãos, estima que 15% dos produtores agrícolas adotam a tecnologia para aumentar a eficiência.
Para difundir essas técnicas, Molin sugere a adoção de incentivos fiscais para baratear equipamentos como GPS, o aumento da área servida por banda larga e melhorias na formação de mão de obra.
“O operador de trator de 15 anos atrás não tem mais espaço. Precisa saber operar o computador. E como fazer isso sem conectividade no campo? Precisamos oferecer à comunidade soluções aceitáveis do ponto de vista técnico”, disse.
Formação
A formação de mão de obra especializada foi um dos principais temas da discussão. O pesquisador Luis Henrique Bassoi, da Embrapa Instrumentação, apontou uma maior interação na atuação de entidades de pesquisa e formadores de mão de obra para difundir o uso da tecnologia.
“É preciso usar o sistema S, em especial o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural], em consonância com institutos de pesquisa como as universidades e órgãos de fomento, como Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], assim como ampliar a capacitação de professores”, disse.
Ele também considera fundamental o desenvolvimento de tecnologia nacional para facilitar o uso dos softwares e equipamentos pelo homem do campo e baratear a manutenção dessas ferramentas. “A eletrônica precisa de padronização para que os softwares rodem em qualquer computador. Isso tem sido um obstáculo, e muita gente faz até adaptações, com gambiarras, nas cabines dos tratores”, disse.
Desenvolvimento tecnológico
Márcio Moreira, presidente da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi na mesma linha. “Nós vamos ter que desenvolver agricultura de precisão voltada para a agricultura brasileira. Por isso é importante desenvolver tecnologia nacional ou adaptar tecnologias estrangeiras”, disse.
João Alfredo Saraiva Delgado, diretor de Tecnologia da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), apontou o investimento em startups como uma das maneiras de propagar e baratear a tecnologia.
“Como é que um fazendeiro pode usar agricultura avançada? Ele precisa de alguém que entenda de inteligência artificial, comunicação máquina-terra, big data. Isso sai muito caro e as startups podem ajudar a popularizar a tecnologia”, disse.
A deputada Tereza Cristina (PSB-MS), uma das autoras do pedido de realização da audiência pública, resumiu o problema. “Daqui a 30 anos o Brasil terá a responsabilidade de alimentar 40% do mundo. E isso será feito com o uso dessa tecnologia e o investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico”, disse.
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